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Publicado a: 09/06/2018

Thundercat no NOS Primavera Sound: cartoon jazz a fazer flutuar um OVNI

Publicado a: 09/06/2018

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTOS] Pedro Mkk

Depois de assistir ao concerto de Vince Staples, o arranque da apresentação de Thundercat no Palco Pitchfork soou como algo vindo de outra galáxia: a prestação do rapper é minimal, cromada, polida e matemática, estanque e absolutamente perfeita enquanto a do baixista é barroca, verdadeiro fogo de artifício de notas e ornamentos, um dilúvio de exuberância técnica por parte de cada um dos membros do trio.

Secundado por Dennis Hamm e Justin Brown, em teclados e bateria, respectivamente, Thundercat conduziu a audiência pelos intrincados labirintos rítmicos e harmónicos de Drunk, o seu mais recente trabalho. Em entrevista ao Rimas e Batidas de antecipação desta passagem pelo NOS Primavera Sound, o músico já tinha avisado que o seu trio pretendia “tocar muitas notas”. A catadupa com que brindou a enorme multidão que o recebeu confirmou que a promessa foi cumprida. Nada aliás que não se esperasse: quando não se encontra em estúdio a trabalhar nas mais abstractas criações de Flying Lotus ou a meter linhas sinuosas nas produções de estúdio de Kendrick Lamar, Thundercat gosta de investir por terrenos que tudo devem às experiências mais enérgicas do chamado jazz de fusão dos anos 70.

De facto, as discografias de bandas como os Weather Report de Wayne Shorter ou Return to Forever de Chick Corea, a que se adiciona uma natural e confessada paixão pelo AOR (album orientated rock) do arranque dos anos 80, são formativas para Thundercat que a esse generoso caldeirão propício em cascatas de notas e exercícios rocócó de técnica instrumental adicionou um peculiar sentido de humor e uma “irrequietude” que parece subtraída às dinâmicas aceleradas do universo dos desenhos animados.

Tudo junto dá uma criatura estranha chamada Thundercat, um pequeno OVNI que sobrevoou o parque da cidade, qual drone feito de solos de baixo assinados por um senhor que nos aeroportos responde por Stephen Bruner e que quando faz discos cria temas com títulos como “Captain Stupido”. Não se pode dizer que o mundo não precisa de tipos assim…

 


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