pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Queragura
Publicado a: 20/10/2023

Haja música nova e o baile não pára.

Sexta-feira farta: novos trabalhos de Rita Vian, Jeshi, Sampha, Evian Christ ou City Girls

Texto: ReB Team
Fotografia: Queragura
Publicado a: 20/10/2023

Enquanto tivermos argumentos, dançamos até não dar mais. Seja ao som da canção portuguesa, do rap declamado em inglês, do jazz, da soul, do r&b ou da electrónica em toda a sua plenitude — dos ritmos mais quebrados aos balanços que nos fixam o corpo a uma só coordenada para que o baile decorre única e exclusivamente por entre a nossa massa cinzenta.

Entre os destaques de hoje contam-se 10 discos sobre os quais lançamos um breve olhar, mas há todo um outro leque de possibilidades que deverão atentar caso queiram estar mesmo a par de tudo o que se passa em redor desse longo corredor que é a indústria musical. Entre as edições que hoje viram a luz do dia constam também obras de Bruno Brites (MUSGO), Diggy (Artifacts or Enchantments), Breyth (Danko), Judgitzu (Sator Arepo), Valee & Michael Vincent Waller (Valeedation), Klein (touched by an angel), Pink Navel & Kenny Segal (How to Capture Playful), Shay Lia (FACETS), Lee Gamble (Models), Jesse Boykins III (New Growth), Hauschka (Philanthropy), Olof Dreijer (Rosa Rugosa EP) e Arin Ray (Phases III).


[Rita Vian] Sensoreal

Depois de um primeiro projecto de apresentação, Rita Vian edita agora o seu primeiro álbum a solo. SENSOREAL já aponta à meta do longa-duração, coisa que CAOS’A (2021) ainda não era. O salto é, por isso, simbólico, porque não só representa uma proposta mais madura — mesmo que esse primeiro trabalho já evidenciasse uma maturidade artística —, mas também a passagem de promessa a certeza. Desta vez mais próxima de um registo de spoken word, mantém-se um tom trovadoresco na música de Rita Vian que tanta esperança nos dá num futuro por cumprir. Essa é a verdadeira força da sua voz.


[Jeshi] The Great Stink

Jeshi é um bom exemplo dos segredos que o algoritmo esconde. Pelo menos foi assim que chegámos a Universal Credit o ano passado — e não foi preciso ceder muito crédito a esse disco (que até viu uma generosa versão deluxe estender o seu plafond) para nos darmos por convencidos. Já The Great Stink, EP que edita hoje no seguimento desse último projecto, dista em larga medida do registo que nos captou a atenção. E isso não é necessariamente mau, atenção. Aliás, neste caso só abona a favor do rapper britânico: mostra-nos, desde logo, que nem só de rap se faz a sua música e, quando assim é — bem feito, claro —, venham as mudanças de pele que forem precisas. Cá estaremos para as galar a todas.


[Sampha] Lahai

A expectativa era muita. Muita, mesmo. Afinal, depois de se estrear consensualmente em com Process em 2017, Sampha nunca mais deu sinais de um novo trabalho a solo no horizonte. Foram precisos quase sete anos para que o cantor e compositor londrino voltasse a editar um disco em nome próprio — ainda para mais com tantas provas soltas dadas, a convite dos mais considerados artistas do globo, durante esse interregno. Lahai, título que homenageia o nome herdado do seu avô, surge, assim, como confirmação da profecia relativa a Sampha Lahai Sisay: estamos realmente perante uma das vozes mais clarividentes desta era.


[Evian Christ] Revanchist

Os pouco mais de 30 mil ouvintes mensais que o seu perfil no Spotify conta são enganadores quer ao nível da qualidade da sua música, quer ao nível do alcance real da mesma. Se escutaram discos como Yeezus (de Kanye West), Birds in the Trap Sing McKnight (de Tavis Scott) ou Atrocity Exhibition (de Danny Brown), então já se cruzaram com produções de alto calibre desenhadas por Evian Christ. Em nome próprio, o DJ e produtor inglês deu o maior salto da sua carreira em 2020 ao mudar-se para a Warp Records e ao editar um dos seus temas mais sonantes de sempre, “Ultra”, que certamente terá contribuído para a sua chamada ao festival FENDA em 2021, altura em que concedeu também uma entrevista à nossa publicação. Hoje volta a enriquecer o catálogo da Warp com este seu novo Revanchist, que é formado por 8 faixas de uma electrónica tão gélida quanto intensa, para as quais contribuem Bladee e Marely num par de ocasiões. A ter muito em conta: Evian Christ é um dos nomes programados para a edição 2023 do Mucho Flow, razão por si só suficiente para se embarcar em romaria a Guimarães.


[City Girls] RAW

O título é tão intuitivo quanto pensado: em apenas três letras, RAW resume tudo aquilo que as City Girls representam. Conhecidas pela ausência de qualquer tipo de filtros, o duo formado por Yung Miami e JT tem mais um volume de rap especialmente ácido — e com a temperatura certa para virar clubs do avesso. Sobretudo com nomes como Lil Durk, Juicy J ou Usher metidos ao barulho.


[Naomi Sharon] Obsidian

Imaginem estar a produzir a vossa própria música no quarto e, a certo dia, recebem uma mensagem privada no Instagram vinda de uma conta chamada @champagnepapi a convidar-vos para se juntarem à sua editora. Naomi Sharon, como a maior parte dos comuns mortais, não conseguiu acreditar de imediato no que lhe estava a acontecer, mas a verdade é que acabou mesmo por se tornar na primeira mulher de sempre a assinar pela OVO Sound de Drake. Depois de conquistar o seu próprio lugar ao lado de uma das maiores estrelas do mundo, a cantautora neerlandesa, de ascendência caribenha, focou-se na preparação do seu álbum de estreia, que hoje dá a conhecer ao mundo sob o título de Obsidian, para o qual contribuíram alguns dos mais importantes fazedores de hits do universo de Drake, como Alex Lustig, Nineteen85 ou até mesmo Noah “40” Shebib.


[Terrace Martin & Alex Isley] I Left My Heart In Ladera

Quando o talento já faz parte do código genético, não há como negar-lhe uma oportunidade. Alex Isley é filha de Ernie Isley, do afamado grupo de soul The Isley Brothers, e já este ano tinha celebrado a primeira colaboração de sempre com o seu progenitor numa performance para a Soulection. Depois de trilhar um percurso de mais de uma década e de novo completamente desprendida do cordão umbilical, Alex Isley junta-se agora a um não menos impressionante Terrace Martin, um dos músicos e produtores mais talentosos do presente, e juntos esculpiram este I Left My Heart in Ladera, um conjunto de 9 faixas em que o jazz se cruza com o r&b. Robert Glasper é o convidado de peso no tema-título deste disco.


[Sleaford Mods] MORE UK GRIM

Não há muito a explicar. O que passou pela cabeça dos Sleaford Mods foi tão simples quanto isto: “Se gostaram de UK GRIM, então tomem lá MORE UK GRIM.” Depois do aclamado álbum editado em Março passado, a dupla do Reino Unido tratou de agrupar uma nova série de manifestos post-punk nos quais a electrónica tem sempre uma palavra a dizer. Desta vez em formato de curta-duração, o novo projecto dos Sleaford Mods volta a ser selado pela Rough Trade Recordse e chega-nos na ressaca do concerto de abertura que o par deu para os Blur no emblemático estádio de Wembley.


[Forest Swords] Bolted

A cultura asiática tem andado de mãos dadas com uma electrónica de cariz mais místico ao longo de todo o percurso do elusivo Matthew Barnes, que já leva mais de 10 anos a conduzir o projecto que decidiu chamar de Forest Swords. Seis anos após a sua estreia pela Ninja Tune com o longa-duração Compassion, o produtor volta hoje a editar um álbum pelo selo criado pelos Coldcut: Bolted é, à imagem dos seus antecessores, um trabalho para o qual a experimentação desempenha um papel fundamental e evoca resquícios de uma cultura dub que tanto impacto teve em Inglaterra, ao mesmo tempo que os arrasta por paisagens enigmáticas em telas de ambient.


[João Não & Lil Noon] Se Eu Acordar (Deluxe)

Longe vão os dias em que uma versão deluxe servia apenas para incluir mais dois ou três temas, inadvertidamente encaixados para dar uma nova força ao disco propriamente dito. Menos lá para os lados de Gondomar. É que, para acrescentar alguma coisa substancial a Se Eu Acordar, João NãoLil Noon propuseram-se a produzir uma dose generosa de material realmente novo. E mesmo que os cinco temas inéditos deste álbum alargado já tivessem sido feitos aquando da criação da peça original, os dois cúmplices dos bailes dançantes trouxeram ainda uma série de remisturas para animar a pista. Mais que isto? Só quando estas novas cantigas chegarem aos palcos.

pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos