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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/11/2021

Escolham o vosso veneno.

#ReBPlaylist: Outubro 2021

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/11/2021

Estamos a chegar à recta final deste ano, por isso podemos começar a olhar para 2022 e projectar os nomes que estarão na berra. A partir deste lado, e recorrendo às escolhas da equipa ReB para esta playlist mensal, existem dois nomes que queremos deixar a negrito: Raquel Martins e Guire. Podíamos também acrescentar o de xtinto, mas esse já todos sabemos que vingará nos seus próprios termos — e é para ontem.

As duas canções dos portugueses são só a ponta do icebergue para aquilo que ouvimos em Outubro e que destacamos agora nesta selecção: há romances abrasivos, belgas em regressos muitos esperados, baladeiros da era digital que se perdem de/por amores ou artistas geniais a quem se exige mais do que seria de esperar (pelo menos em comparação com os seus colegas do sexo masculino…).


[City & i.o] “Unkind” feat. Dis Fig

Quando dois nomes proeminentes do noise e das sonoridades mais abrasivas se juntam num single ninguém espera que o resultado seja “Unkind” — que, de resto, é um nome que está nos antípodas da imagem que a música pinta. Não há dúvidas, Felicia Chen, mais conhecida por Dis Fig, leva a sua voz suave e aveludada para a melodia, menor, mas não menos bela, de piano de City & i.o., e em conjunto com o canadiano cria uma canção inebriante, emocional e emocionante. A balada é, contudo, sobreposta com o conforto do produtor: o clipar da faixa em baixos volumes, uma sobreposição de urbano sobre bucólico, e contrastes texturais entre todo o ruído que pinta toda a faixa fazem de “Unkind” uma canção bela, mas não misericordiosa. Os corações que se aguentem; os ouvidos que não aguardem para ouvir a amplitude de sentimentos e o vasto gradiente de comoção que existem na arte de City & i.o. e de Dis Fig.

– André Forte


[Stromae] “Santé”

A espera adensava-se por três anos, mas eis que Stromae regressa, pujante, enérgico e com as baterias reforçadas. “Santé” é o mais recente avanço do músico belga e antecipa o seu tão aguardado regresso aos palcos e às edições discográficas. E talvez possamos conhecer já em 2022 alguns dos ingredientes desse tão esperado trabalho, uma vez que o artista se irá estrear em Portugal, a 6 de julho, no Nos Alive. Por enquanto, contentemo-nos com este magnífico “Santé”, canção de ritmo poderoso e enfático em que volta a combinar influências da música cubana, do hip hop, das cumbias latinas e da eletrónica. Tudo ao serviço de uma homenagem às vítimas das longas e difíceis jornadas de trabalho que, na verdade, são os heróis e as heroínas do mundo moderno, resistindo num mundo onde a luta pela sobrevivência coloniza todas as esferas da vida. Gente que nem sempre pode brindar, mas cujos corpos são dotados de potência e esperança. Em “Santé” brinda-se com todo este povo anónimo, tantas vezes invisível, quase sempre descartável, mas cuja força está repleta de possibilidades. Dancemos juntos, brindemos juntos. À nossa!

– João Mineiro


[Raquel Martins] “Untrue”

Foi, sem dúvida, uma das boas surpresas do mês de Outubro, de tal forma que tem sido difícil descolar os nossos ouvidos de The Way, o EP de estreia de Raquel Martins. Um doce e promissor trabalho que une jazz, música brasileira, influências de Cabo Verde e, inevitavelmente, um toque do febril movimento londrino, cidade onde a guitarrista, cantora e produtora reside actualmente. 

Curiosamente, é no seu tema mais recente – e última faixa deste debut – que encontramos a união mais completa destas geográficas sonoridades numa só produção. “Untrue” é um requintado, subtil e, sobretudo, quente tema em que podemos dançar de levezinho com a produção, fechar os olhos e sonhar com as melodias, ou até mergulhar na contemplação desta bela voz — tudo com um sorriso na cara. Uma canção que é um pequeno grande prazer.

– Luís Carvalho


[Aminé] “Charmander”

Como bom produto da Internet que é, Aminé estabeleceu um valor digital da fiança para libertar “Charmander”: 30 mil comentários na publicação que dava a espreitar o novo single do artista de Portland — com *emoji* croissants

Pedido e feito. 

Na segunda-feira seguinte, já com o resgate assegurado, foi Oliver — o melhor amigo (de quatro patas) do rapper — quem trouxe o vídeo de “Charmander” à rua, depois de nova exigência interactiva, desta vez de deliciosos *emoji* ossos. Os obedientes bípedes voltaram a aderir às vontades da dupla e, como recompensa, receberam o tão desejado biscoito: um tema cheio de açúcar, com um vídeo igualmente aditivo, um Aminé hiperactivo e um Ollie fermentado. De deixar qualquer olho esbugalhado.

– Paulo Pena


[James Blake] “Life Is Not The Same”

A música é como cera quente, cabe a cada artista carimbar o seu selo. Ao longo da sua carreira, James Blake tem demonstrado vários temas que têm exactamente o seu selo, e “Life is Not The Same” é mais uma música que não foge ao seu estilo. O artista britânico recruta Joji e o duo de produção Take a Daytrip para este destaque do seu novo álbum, continuando a mostrar a sua marca sonora e a deixá-la nos ouvintes.

Há um conjunto de melodias e vozes transfiguradas bem conjugados que populam este instrumental e acompanham a poesia despida de Blake. Transparece que sofreu por alguém, e os vários pedaços do seu coração partido são tornados som pelas suas palavras fúnebres. Há uma intensidade crescente nas estrofes até à apoteose do refrão, onde um choro electrónico fecha a máxima da música. As lágrimas de Blake chegavam para encher um oceano, e neste tema reflecte sobre as suas mágoas amorosas a bordo de um navio sonoro que não soaria assim se estivesse outra pessoa ao leme. “Life Is Not the Same” é uma música simples, perfeitamente executada pelo seu autor, um claro exemplo do seu inconfundível selo musical.

– Miguel Santos


[Ouri] “Grip” 

Até receber esta newsletter no e-mail, Ouri nunca me tinha surgido no radar [depois de ter acabado de escrever estas linhas, reparei que o seu nome, enquanto parte das Hildegard, aparecera por aqui em Agosto passado, uma das escolhas de Filipe Costa para a lista dos melhores álbuns editados nos primeiros seis meses de 2021. ]. Como acontece algumas vezes, a primeira leitura foi, como se costuma dizer, na diagonal, mas o name-dropping de Red Bull Music Academy, Yves Tumor e Jacques Greene obrigou-me a reler tudo com atenção e perceber, afinal de contas, quem era esta artista que acabara de lançar o seu primeiro registo em longa-duração, Frame of a Fauna.

Marcus J. Moore, o jornalista que assina o texto (e que entrevistei em 2020 a propósito do lançamento do livro The Butterfly Effect: How Kendrick Lamar Ignited the Soul of Black America), elucida-nos, em três parágrafos, sobre aquilo que trata o álbum: “emotivo” e “emocional” foram duas das palavras que utilizou e que me saltaram logo à vista; nessa linha de pensamento, “The More I Feel” e “Grip” foram as canções que se destacaram desde logo. No campo das emoções fortes, a última do alinhamento remeteu-me imediatamente para um universo paralelo construído a quatro mãos por FKA twigs e Tricky; mesmo que contido, este é um grito seco da harpista e violoncelista transformada em produtora de música electrónica que mexe com as entranhas.

– Alexandre Ribeiro


[Azealia Banks] “Tarantula” / “Wings of a Butterfly”

Fazer pouco de Azealia Banks, como diriam os ingleses, é a lowest hanging fruit da cultura pop. Não há fácil explicação para todos os feuds e deslizes transfóbicos (de que se tem vindo a retratar)… mas Donda continua a bater, não é? Duas medidas. Chamem lá os cirurgiões daquele meme, para separar arte e artista…

Depois, ouçam “Tarantula”/“Wings of a Butterfly” — um maxi de techno impenetrável e um flow de furar a tripa (uma continuação da experiência da mixtape YUNG RAPUNXEL PT II). Órbitas do rancor que queima por dentro, que lateja e faz a voz falhar (“He tried so many fucking times to take my life away” – frase que rememora um passado à mercê de uma editora opressiva). E umas voltinhas pelo purgatório, com asas haute couture de borboleta: a “Pretty AB” ainda pode tudo.

– Pedro João Santos


[Guire] “Hamartia” ft. xtinto

Uma volta de 180° colocou Guire na rota daquilo que podemos considerar como nova música popular portuguesa, que hoje é um largo poço de influências vindas de diversas coordenadas do globo e cuja poção se encontra a maturar tapada por um manto de electrónica cada vez menos convencional. Assim foi o Entressonho do produtor recém-entrado na Chinfrim Discos, que logo à segunda faixa, “Hamartia”, nos leva a entrar num sono profundo onde também mora xtinto. Com recurso a versos encriptados, o rapper aponta directamente ao peito de quem tentou desestabilizar o seu ethos, destapa-lhe o coração da carcaça que o cobre e envolve-o num sussurro épico e fatal capaz de fazer tombar o maior dos heróis da história da humanidade.

– Gonçalo Oliveira

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