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Texto: ReB Team
Fotografia: Alberto E. Rodriguez
Publicado a: 08/04/2023

Entre a mágoa e a farra.

#ReBPlaylist: Março 2023

Texto: ReB Team
Fotografia: Alberto E. Rodriguez
Publicado a: 08/04/2023

Atrasados mas nunca esquecidos. Cinco cabeças da equipa do Rimas e Batidas reunem-se hoje por aqui, em mais uma ReBPlaylist, com propostas musicais que recaem praticamente todas sobre vozes negras militantes da cultura hip hop e seus inúmeros derivados. Leonor Cabrita e o seu projecto Orca ajudam a quebrar esta corrente que liga o r&b mais polposo ao rap de cunho cru e distorcido.


[Jordan Ward] “THINK TWICE”

A maneira como encaramos a vida pode ditar o nosso desfecho. Jordan Ward e a sua “THINK TWICE” apresentam um blues transmutado em electrónica que fala das dificuldades da sua terra natal e da maneira como o artista norte-americano as encara. Soa a desabafo, soa a cansaço, o timbre monotónico e derrotista das estrofes rivaliza as notas agudas e urgentes do refrão. Não se pode pensar duas vezes quando não há uma segunda oportunidade, uma verdade dura de contar mas indispensável de ser partilhada.

Afogada em sintetizadores duradouros e aquosos, a voz de Ward é sincera, vemos alguém empurrado para uma realidade que não é a sua, apesar de ficar claro que nunca vai dar parte fraca. Vemos as dúvidas do artista, a descrença numa existência pacífica. Mas é por prevenção e não por procura da violência. Em pouco mais de dois minutos, Jordan Ward mostra-se profundamente vulnerável e empático com aqueles que o rodeiam. A percussão é esparsa, mas não há crise: quem dita o ritmo desta exposição é o seu autor, sem pensar duas vezes.

— Miguel Santos


[BIGBABYGUCCI] “Greenish Yellow”

Vibe? Vibe. Vibe! “Greenish Yellow” é uma das treze cores abordadas por BIGBABYGUCCI, rapper da Carolina do Norte, em COLORS, o seu último projeto, uma mixtape que junta b-sides e throwaways. Uma ambiência suave de synths etéreos e percussão escondida num reverb nostálgico é invadida por um ciclo de sopros vagarosos, vocais autotuned num tom melancólico e desejoso, com tudo a explodir intensamente na segunda metade na canção, com os hi-hats de drill a fazer uma aparição, a voz de GUCCI a elevar-se e a acelerar-se, mudando de tom para uma confiança cega. A mistura de texturas e a cadência das diferentes seções da faixa fazem dela um destaque, mas não só – demonstram bem a versatilidade e a criatividade do rapper, que no mesmo disco se apresenta numa mão cheia de panoramas musicais diferentes, com a instrumentação a mudar de orgânica para sintética, timbres de balada ao trap, nunca deixando para trás a Verdade Original – a Vibe. A Vibe!

— Leonardo Pereira


[Orca] “Se o Tempo”

O disco de estreia de Orca, nome que Leonor Cabrita escolheu para apresentar, é bem catita e deve ser escutado com atenção – deixamos já a nota. No cerne de Paisagem Trânsito, editado pela Facada Records (também responsável por editar o mais recente registo dos GUME, DOBRA), encontramos canções como “Se o Tempo”, onde o trompete de Yaw Tembe, em conjunto com a ternura das vozes de Leonor e de Samuel Pacheco, nos levam numa viagem que se sente como sendo um verdadeiro abraço – daqueles bem apertados. É uma cantiga maravilhosa.

— Miguel Rocha


[Tyler, The Creator] “SORRY NOT SORRY”

Curioso que, depois do azedume fermentado entre Tyler, The Creator e DJ Khaled na altura em que o primeiro bateu o segundo na corrida ao GRAMMY de Melhor Álbum Rap de 2019 — tendo o “misterioso” IGOR vencido o luxuoso candidato Father Of Asahd —, uma das faixas (agora reveladas) feitas no processo de criação de CALL ME IF YOU GET LOST — álbum que valeu a Tyler Okonma a segunda grafonola dourada consecutiva na sua discografia — tenha o mesmo título de um tema de KHALED KHALED, álbum editado um par de meses antes de CMIYGL: “SORRY NOT SORRY” tanto reúne Nas, Jay-Z e, até, Beyoncé numa só faixa do antecessor de GOD DID (cujo single homónimo valeu, finalmente, o galardão de Melhor Canção do Ano ao produtor de Nova Orleães), como encerra a espécie de versão deluxe que Sir Tyler Baudelaire preparou em CALL ME IF YOU GET LOST: The Estate Sale. (E, antes de mais, nota a meio caminho: como é que este segundo tema não mereceu entrar no alinhamento do último longa-duração do fundador do colectivo Odd Future é algo que nunca conseguiremos compreender.) Se a coisa não passa de uma irónica coincidência, ou se a ironia foi esmiuçada pelo sempre sarcástico golf boy, parece-nos mais provável a primeira hipótese. Até porque, na verdade, na sua “SORRY NOT SORRY”, Tyler dedica-se — de forma bem mais sincera do que habitualmente lhe reconhecemos — a autênticos (e sucessivos) pedidos de desculpa: à mãe, a “velhos amigos” (com alguns membros de OFWGKTA, como Earl Sweatshirt e Frank Ocean, à cabeça), a homens, mulheres e estranhos com quem teve relações, à Mãe-Natureza, aos fãs que o acusam de ter mudado ou aos seus antepassados. Por razões várias, e todas elas discriminadas. Brutalmente honesto ao fim de mais de uma década de personas — que, durante o filme deste “SORRY NOT SORRY”, desaparecem uma a uma; incluindo a última, executada no final ao estilo de um Tylerantino.

— Paulo Pena


[JPEGMAFIA & Danny Brown] “SCARING THE HOES”

O som decadente do saxofone parece vindo dos últimos sopros de alguém que estava prestes a “apagar” de overdose, mas as palmas sucessivas — nos tempos e contratempos — dão-lhe uma injecção de vitalidade e fazem a música parecer mais rápida do que aquilo que efectivamente é, conforme ditam o bombo e a tarola nas “zonas de rebentação” das ondas sonoras. “SCARING THE HOES” é o tema que herda o título do álbum que juntou JPEGMAFIA e Danny Brown há duas semanas e uma das melhores criações do par — é pedrada musical na era em que a electrónica consegue recriar o espírito do rock mais sujo na perfeição – ao longo das 14 faixas que compõem o projecto. Se é este o tipo de pérolas que, segundo o ditado popular, são atiradas aos porcos, indiquem-nos o caminho da pocilga mais próxima, pois é lá que queremos morar.

— Gonçalo Oliveira

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