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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/05/2021

Abafado por aqui.

#ReBPlaylist: Abril 2021

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/05/2021

Começam a subir as temperaturas nos escritórios virtuais do Rimas e Batidas: e isso acontece com viagens até a Madrid de Tangana, a Houston de Monaleo, a terra imaginária de Pernadas, a Atlanta de Yachty, a Nova Orleães de DAWN ou a improvável ligação Japão-Uganda de Scotch Rolex e MC Yallah. O melhor é apertarem os cintos: a viagem vai ser longa, quente e atribulada.


[Lil Yachty] “Cortex”

Descoberta e renovada por Madlib em “No Games”, faixa do aclamado Champion Sound da dupla Jaylib (composta pelo próprio e por J Dilla). Eternizada sob a voz de MF DOOM em “One Beer”, tema integrante do célebre MM..FOOD e um dos seus maiores clássicos (entre tantos…). Repescada em homenagem ao vilão – a quem ficou associada a recriação – por Tyler, The Creator (e por tantos outros), em “Odd Toddlers”, no seu álbum de estreia Bastard. Até chegar finalmente, por intermédio de Cash Cobain, a Lil Yachty, um dos poucos rappers/estrelas a chegar perto do círculo fechado de Wolf Haley. Estão a acompanhar este trajecto de reciclagem atalhado, como passagem directa de testemunho, da peça original, “Huit Octobre 1971”, de 1975, criada pelos franceses Cortex?

“Cortex”, título do último lançamento (à parte da mixtape Michigan Boy Boat) do co-autor de hits globais como “Broccoli” e “iSpy”, desvenda o nome do grupo cuja canção mencionada se tornou num dos samples mais cobiçados no hip hop, muito por culpa do falecido rapper e produtor da máscara metálica. E se já em 2004 DOOM se queixava “rappers screaming all in our ears like we’re deaf” – na determinante “One Beer” –, Lil Yachty continua, em 2021, a respeitar as advertências do favorito dos nossos favoritos, ao atirar rimas num tom relaxado e a sussurrar ad-libs comprimidos e sui generis em cima de graves capazes de fazer estalar garrafas de cerveja – não admira que reste só uma. 

– Paulo Pena


[Bruno Pernadas] “Lafeta Uti”

Não é a primeira vez que a música de Bruno Pernadas nos chama a atenção, mas Private Reasons, o seu novíssimo trabalho é um disco de várias primeiras vezes, segundo confidenciou ao ReB. Das diversas experiências que o artista produziu em territórios para si desconhecidos, várias são as “novidades” que nos encheram o olho, desde a aventura r&b metamorfoseada e expandida até terrenos de choque com o prog, o virtuoso uso do auto-tune ou a grande palete de línguas usadas nas vocalizações. Entre o tradicional inglês, o alemão e até o coreano, aparece “Lafeta Uti”, tema cantado numa língua inventada a provar que a música por si só é uma bonita e gigante linguagem universal que não precisa de ser perceptível para passar emoções, reflectir algo e nos entusiasmar e até nos identificarmos com ela.

Num disco que combina diferentes geografias e diferentes décadas no seu código genético, o gibberish é apenas um dos componentes que forma este afrobeat ciborgue Ele respeita a sua origem, mas vive no futuro, entre as máquinas e os efeitos. Contaminado por latitudes e longitudes exóticas e adulterado pela produção contemporânea, “Lafeta Uti” pisca o olho, sem qualquer vergonha, à pop sem esquecer que é afrobeat. Talvez seja futuro, talvez não, mas que isto soa altamente fresco, lá isso soa. Dancemos! Contemplemos! Bruno Pernadas está de volta!

– Luís Carvalho


[BROCKHAMPTON] “BANKROLL” feat. A$AP Rocky & A$AP Ferg

Menos de dois anos depois de retomarem a forma, os BROCKHAMPTON estão de volta com ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE, projecto que sucede a GINGER. E por esta altura do campeonato já está mais do que estabelecido o sucesso da “all-american boy band”, e em “BANKROLL” decidem celebrar esse sucesso com um braggadocio vincado.

A abertura potente de A$AP Ferg introduz-nos ao tema com grande pujança, com uma  batida que lembra uma procissão de dólares a caminharem em silêncio, assombrosamente opulenta. O refrão intoxicante de Matt Champion faz sentir bem forte as saudades de uma boa sessão de saltos ao som dos estrondosos e graves bombos que acompanham as suas palavras, rica em potencial para moshs.

“BANKROLL” é um dos destaques deste álbum e, apesar de não ter a profundidade de outros temas do inventivo grupo, tem todas as outras qualidades da sua discografia intoxicante, e é uma prova de que os BROCKHAMPTON continuam a mostrar que são uma das mais interessantes e cativantes forças do hip hop norte-americano.

– Miguel Santos


[C. Tangana] “Me Maten” feat. Antonio Carmona

Os méritos de El Madrileño já por aqui foram devida e justamente incensados por Alexandre Ribeiro, mas há algo de profundamente especial na passagem recente do artista espanhol pela série Tiny Desk (Home) Concert que merece atenção específica.

Em primeiro lugar a alegria, a profunda energia do concerto gravado na Casa Carvajal: naquela reunião de gente tão diversa sente-se quase um raio de esperança que é importante que todos sintamos, porque é este o futuro que desejamos, carregado de cultura e amigos, juntos, em actos de celebração. O arranjo cénico, a luz, a disposição dos músicos, a bebida e comida em cima da mesa, a informalidade… tudo é perfeito e tudo concorre para que a música faça sentido.

E depois, além de material do já referido El Madrileño, como “Tu Me Dejaste de Querer” ou “Demasiadas Mujeres”, há um inédito com a participação do cantante Antonio Carmona. E esse “Me Maten” é um autêntico monumento pop flamenco, de arranjo de palmas intrincado, com dramáticas variações que traduzem uma exaltação de cultura que chega a ser comovente. Voz tratada no vocoder do teclista, guitarras acústicas, um microfone e um glorioso coro carregado de família e amigos.

“Me maten si no pueden entrar
Me muera, no les puedo fallar
¿Yo sin esta gente pa’ qué cojones quiero pasar?”

Impossível não ficar a escutar em repeat. E a prova clara de que Tangana é muito mais do que alguém que sabe como tratar o estúdio, porque, de facto, em palco parece peixe na água. Tudo certo. Tudo incrível.

– Rui Miguel Abreu


[Scotch Rolex] “Omuzira” feat. MC Yallah

Trap de cadências asiáticas, produzido por um japonês e com uma MC a debitar barras em suaíli. São estes alguns dos ingredientes que vão acompanhar Shigeru Ishihara, mais conhecido como DJ Scotch Egg, nipónico radicado na Alemanha que, depois de uma residência comissionada pela Nyege Nyege Tapes em Kampala, desvenda uma nova faceta, a acrescentar ao seu projeto a solo e a Waq Waq Kingdom, onde divide protagonismo com Kiki Hitomi.

Enquanto Scotch Rolex, Ishihara faz um meio termo latitudinal na zona do Índico, um meio termo rítmica e harmonicamente posicionado entre as suas tendências pela tradição asiática e a cena vibrante do Uganda. O resultado: graves demolidores, ritmos maldosos que pouco devem ao facilitismo ocidental, e um role de MCs de luxo, que vão do rap ao grindcore. Nesta “Omuzira”, a coqueluche de Kampala MC Yallah assume o microfone e preenche a produção com fluidez, melodias singulares e uma confiança que não verga, nem um pouco, com os subgraves de abanar entranhas.

– André Forte


[Monaleo] “Beating Down Yo Block”

Quando passarem pela zona de Monaleo, o melhor mesmo é baixarem a cabeça e não levantarem ondas. Com apenas um ano na labuta do rap, a rapper de Houston, Texas, traz a atitude que Megan Thee Stallion, sua conterrânea, impregnou no cenário mais mainstream do mundo da música nos últimos tempos. “Beating Down Yo Block” é o tipo de música que tanto incentiva a dançar como a lutar — e toda a confiança que a artista transborda em cada linha faz-nos acreditar que vamos sair por cima nas duas categorias. “Is you stupid or is you dumb, pick a side” — preparem-se para o embate.

– Alexandre Ribeiro


[Dawn Richard] “Nostalgia”

Armadura dourada, plumas azuis e um halo à volta da cabeça: Second Line sugere um renascimento heróico de Dawn Richard. Mas Dawn sempre foi Dawn: mais do que intérprete, sempre foi arquitecta de mundos. Tanto no girl group Danity Kane (cujo nome derivou de uma heroína anime que Dawn desenhou), onde já era compositora, como em todos os discos que editou após esse falso arranque na grande indústria pop. Tornou-se produtora, sagrou-se uma artista independente, cada álbum que edita é sempre aclamado… mas a rejeição fica cravada na pele. 

À segunda faixa de Second Line, mesmo com armadura, Dawn ainda está a processar o rescaldo de anos e anos em missão solitária. Essa digressão eletrónica de “Nostalgia”, nunca desprovida de groove sério, é menos canção do que sensação – letras que se soltam de forma áspera e atormentada. “Do you love me… anymore?”, fica a questão. E um álbum todo para descobrir de seguida.

– Pedro João Santos

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