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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[ZA] “Desiderium”
É com “um desejo ardente ou saudade”, “um sentimento de perda ou tristeza por algo perdido”, que ZA recuperou um tema, guardado a sete chaves, com uma mensagem que, revelada só agora, permanece pertinente — com uma mensagem, curta e directa, em constante repetição: “Não bebo penáltis por quem nunca fiz falta”.
[BLINK] “Bom Dia”
Mais do que mulher de poucas palavras, Blink tem-se revelado uma MC de versos certeiros. Daí que, nas suas últimas aparições, tem-se pautado pela acutilância, mais do que pelo traquejo. E quem dera a muitos homólogos seus encaixar tantas dicas da semana num “Bom Dia”.
[Bispo] “Pontos Finais”
Para Bispo, “Pontos Finais” representa um novo início — e “Planeta”, com Bárbara Tinoco, veio logo a seguir reforçar esse recomeço — no pós-Mais Antigo. De regresso às coordenadas que desde sempre promoveu (ou melhor, sem nunca ter de lá saído), o rapper de Mem Martins volta ao campo para projectar uma nova partida, com a mesma táctica, mas outros objectivos.
[Kappa Jotta] “Shooters”
Também Kappa Jotta voltou à carga com um novo single disparado à queima roupa. Com umas quantas caras conhecidas no seu regimento, o rapper da Linha de Cascais mostrou toda a sua força em “Shooters”, um trailer cheio de acção que antecipa o resto do filme previsto para Passaporte.
[Real GUNS] “Sujo”
“Sujo” é mais uma faixa extraída de ODB (Original Dirty Bastards) — projecto de Real GUNS criado sob a produção dos 404 SoundLab — a merecer complemento audiovisual depois da edição do curta-duração. E esse destaque é, aqui, feito precisamente no dia em que o rapper são tomense anunciou um novo trabalho com Mikelpotter: Davids é apresentado como uma homenagem ao histórico jogador de futebol neerlandês, que ainda há bem pouco tempo passou por Portugal para assumir o comando técnico do Olhanense.
[9 Miller & Mizzy Miles] “SCOPE”
“SCOPE” é a terceira das sete faixas que compõem SAY GOODNIGHT TO THE BAD GUYS, o novo trabalho de 9 Miller, que contou com a produção executiva de Mizzy Miles. No sucessor de Transparente, o rapper da Linha da Azambuja volta a vestir a casca grossa do egotrip e deixa-se contagiar pelas características batidas do produtor com quem já havia colaborado em “Wappa / Frozen”, para repetir — e aumentar — a dose com a caneta afiada.
[Domi] “Batanete”
Quem também se agarrou à caneta foi Domi, que, sob um instrumental minimalista de Sickonce — e, nas perspectivas dos espectadores expostas na caixa de comentários, algures entre um ProfJam de “Além” e um “Tyler, The Creator da tuga” —, dedica prosa a um indefinido “Batanete”, bem ao seu mais apurado estilo: com destreza lírica e ginástica métrica.
[Julinho KSD] “Segurança”
Julinho agarrou-se às batidas moradianas em “Stunka” e não quis outra coisa — mas, desta vez, foi ele quem se aventurou a alinhá-las no seu mais recente single, produzido pelo próprio artista da Linha de Sintra, numa festa das rijas feita em “Segurança”.
[Yung Juse] “Luz Vermelha”
Se nos permitem uma dose de clubismo saudável, é bom ver que há uma “Luz Vermelha” a abrir Rio Tinto, Porto, Portugal. Num tom mais sério — condizente, aliás, com o do tema em destaque —, o registo sóbrio de Yung Juse na faixa inaugural do seu EP de estreia confirma uma tendência que, nalguns casos, ainda tarda em desmistificar-se: não é o tom que define o tema, mas sim a abordagem. E quer no vistoso “Brilho”, destacado na semana passada, quer no introspectivo “Luz Vermelha”, o rapper de Rio Tinto, Porto, Portugal, soube tirar o melhor partido das suas ainda promissoras capacidades.
https://youtu.be/IsZOht_ZAhc
[Eliot] “A Queda” feat. Uno
Desde o encontro com Atmos que não tínhamos “Sinais” de Eliot. Mas, com esta gente — um saco no qual se inclui o incomparável Uno —, há que ter sempre uns fones à mão, não vá alguém soltar qualquer coisa sem aviso prévio. “A Queda” caiu-nos aos pés sob essa imprevisibilidade inerente a esta gama de artistas que, quando se juntam, prometem tanto quanto tendem a cumprir. E ouvir estes dois juntos é sempre uma boa surpresa.
[Mundo Segundo] “Conto Bafiento” feat. Bezegol
“Conto Bafiento” não conta a história do costume: pode vir numa abordagem mais clássica, mas não soa datado. E isso tanto vale para o veterano Bezegol como — e sobretudo — para o experiente Mundo Segundo, que aproveitou este reencontro com um parceiro de labuta de longa data para, subtilmente, abrir caminho ao seu próximo projecto a solo — com data edição apontada para Setembro deste ano, como nos confidenciou por aqui.
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