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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Atmos & Eliot] “Sinais”
A julgar pela frequência de Dias Depois, e em particular a faixa que dá nome ao disco na qual também Atmos participa, este reencontro em “Sinais” adivinhar-se-ia uma continuação de um registo contemplativo e introspectivo, que de resto pautou o último trabalho de Eliot. Bom, mas a sina revelou-se outra, e o reencontro deu ares de reencarnação — bem ao estilo da “Bruxa” ainda há uma semana reaparecida por aqui — surpreendentemente refrescante para a carga que lhes é reconhecida.
[Johny Malibz X RUB] “Sparta” (prod.Brokas)
Johny Malibz e RUB bem podem dar graças ao instrumental produzido por Brokas: se há prova de que um rapper também se faz pelos beats, “Sparta” apresenta-se como dupla confirmação dessa variável. Aqui, as batidas fazem toda a diferença em quem ainda procura um caminho definido para as suas rimas. E por aqui é que é caminho.
[Kosmo Da Gun] “Entre os Dois” feat. Julinho KSD (prod. Mizzy Miles)
A sucessão de casos confirmam uma regra sem excepção: Julinho KSD tem um toque de Midas para refrões orelhudos — disso ninguém duvide, e isso ninguém lhe tira. Há, porém, variações no resto da fórmula que funcionam umas vezes melhores que outras. O “desvio” de Kosmo Da Gun para terreno menos confortável também não fascinou quem tem especial admiração pela sua veia menos afectuosa, mas o resultado “Entre os Dois”, mais Mizzy Miles à mistura, não podia ser diferente: produto de consumo fácil e — sem rodeios — irresistível.
[CHYNA x 9 Miller x Fumaxa] “Man Down”
Já em “Man Down” a tríplice aliança não se pedia mais certeira: CHYNA propôs-se à mesma estratégia definida para “O que é que tens feito?”, para provar que ainda há abordagens ao drill frescas por fazer. Nesse campo, Fumaxa era a pessoa ideal para elevar a fasquia, e 9 Miller só teve de encaixar aqui que nem uma luva. Nas palavras de Prodígio em “God Mode”: “The streets gonna love this one”.
[X-Tense] “Caro” feat. Slow J
As expectativas que um cruzamento entre X-Tense e Slow J estabelece à partida podem ser matreiras. A experiência diz-nos para não tentarmos adivinhar direcções antes do tempo— que seja para onde eles nos quiserem levar. E, realmente, o ponto de partida sugerido por Slow J revelou-se inusitado o suficiente para se estranhar o registo de alguém que, apesar de tudo, sempre se mostrou bastante flexível. Mérito, presume-se, também de X-Tense, que não se coibiu de puxar o tapete a tão valiosa visita. “Caro” foi o resultado inesperado, um preço indiscutível mais para uns do que para outros, mas cuja cotação pode mudar à medida que se consome — para cima ou para baixo…
[NERVE] “KYLO”
Quem compactua fervorosamente com o culto em volta de NERVE sabe bem que Dezembro é mês de aparição certa. A profecia vai-se mantendo, e dia 3 o Monte Sinai — ou a Cova da Iria, se preferirem — é o Village Underground Lisboa, que recebe o rapper e produtor para nova sessão de revisão da matéria até então exposta. Mas até lá há um apontamento novo a reter: “KYLO” é a mais recente faixa do MC que se tem distinguido cada vez mais pelo carácter incisivo da sua escrita. E talvez nunca o tenhamos visto com tanta confiança e propriedade sobre essas capacidades como neste tema.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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