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Fotografia: Otávio Peixoto / Mucho Flow
Publicado a: 04/11/2023

Imersão sonora em Guimarães.

Mucho Flow’23 — Dia 1: uma viagem molecular pelo sonho da arte

Fotografia: Otávio Peixoto / Mucho Flow
Publicado a: 04/11/2023

Sobre a palavra “atavismo” podemos encontrar definições que nos levam ao entendimento de uma comunicação feita com descendentes que pode chegar até à compreensão dos antepassados, ou seja, daquilo que guardamos num momento que não conhecemos a não ser que seja devidamente narrado por outrém. Ser atávico é, por esta lógica, ser portador do reaparecimento de certas características de algum passado que permaneceram escondidas ao longo de uma ou mais gerações. Quando colocamos este adjetivo diante da palavra “floresta”, o que é que se contrai aqui? 

Há não muito tempo atrás, a Fundação Champalimaud decidiu criar um “Metamersion: Latent Spaces”, lugar dedicado à descoberta de sinergias mais profundas entre a ciência, a arte e a tecnologia, elevando sem medo o cruzamento das mesmas com a Inteligência Artificial. Mais tarde, Lunar Ring, Jonathan Uliel Saldanha, Gonçalo Guiomar e Zach Mainen viriam-se a cruzar numa descoberta técnico-artística para fazer uma viagem até ao “ultimate past”, que nos apresentaram ontem na abertura do festival Mucho Flow

Como mencionaram na talk moderada por André Forte, que decorreu no mesmo dia no CIAJG ao final da tarde, a explicação para a ideia de “atavismo” viria de coisas que existem agora mas que estiveram cá durante toda a evolução. 

Tudo isto resultaria no trabalho em torno de uma máquina de Inteligência Artificial capaz de nos mostrar os seus sonhos através de um banco de imagens, desprovida totalmente de controlo na sua seleção e apenas capaz de ser perturbada pela emissão de sons e de uma certa dosagem de LSD. Esta descrição poderá ter feito falta a quem viu a performance sem ter estado presente na conversa com a equipa, não obstante, não foi de todo inibidora da primeira imersão do festival Vimaranense.

Nesta floresta onde o som e o espaço respiram de forma intensa, o final só podia ser psicótico. Quando a suspensão visual e sonora caiu num vazio, o surrounding da sala onde permanecia um público indagado pelo desconhecido, permitiu que nos embrenhássemos por completo na efemeridade da performance. Ao utilizar um banco de imagens que conta com mais de 100 000 hipóteses, tudo aquilo que foi transmitido visualmente na “Atavic Forest” é irrepetível, além de que o efeito que tanto o som como o uso da droga psicadélica exercem sobre estas imagens é único. Assim, ao desbloquearmos padrões, vagamos em direção ao desconhecido, entregando o futuro da arte e da sua compreensão a novas entidades. 

Não haveria melhor forma de iniciar um festival de música como o Mucho Flow que, ao propor-se cruzar a música com a vanguarda da tecnologia, nos entregou um momento de alta reflexão e profundo envolvimento sonoro que se manifestou numa viagem molecular até uma floresta que não está assim tão distante de nós.

Terminado o primeiro de dois momentos intensos no dia inaugural do festival e, falando em som e espaço que respira de forma profunda, rapidamente nos transportamos para o foyer do Grande Auditório onde, logo a seguir a “Atavic Forest”, pablopablo estaria à nossa espera para encerrar a noite com um showcase intimista.

Antes de abrir a sala com um dos seus temas mais recentes “Fuego”, viral por ter sido selecionado para um A COLORS SHOW em 2023, pablopablo foi recebido com algum silêncio que demorou mas que inevitavelmente se transformou numa conquista. O artista madrilenho conta dois Grammys Latinos para “Melhor Canção” e “Melhor Gravação” e, para quem é fã de C. Tangana, certamente já conhecia a sua contribuição como produtor e compositor no single “Tocarte”. 

Pouco depois de se fazer ecoar o seu hit “Azul Zafiro”, Pablopablo despediu-se do público elogiando-o por ser “muy majo” e, abraçado por aplausos que pediam mais, deixou-nos com um carinhoso encore que marcou o fim do primeiro dia.


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