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Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 25/03/2024

Márcio Laranjeira (Tremor): “Nós estamos do tamanho que queremos estar”

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 25/03/2024

A jornada de 2024 do Tremor (infelizmente) terminou e por estas páginas já estamos ansiosos por regressar em 2025 à Ilha de São Miguel, nos Açores, para aquela que será a 12ª edição do festival açoriano, a decorrer entre 8 e 12 de abril do próximo ano. Os bilhetes ficam à venda na próxima quarta-feira.

Para ajudar a entender melhor a edição deste ano do Tremor e como as lições de 2024 irão ajudar a equipa do festival a preparar 2025, o Rimas e Batidas falou duas vezes com Márcio Laranjeira, um dos diretores criativos do festival (e um dos responsáveis pela promotora do evento, a editora Lovers & Lollypops), durante o decorrer da edição de 2024 — uma vez no início e uma vez no final.


 
 
 
 
 
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[Início do Tremor 2024]

É a minha primeira vez no Tremor. O que tens a alguém que vem ao festival pela primeira vez?

O Tremor acaba por ser um festival onde temos a visão de tentar fazer com que este seja um veículo tanto para a descoberta musical tanto para a descoberta de um território tão rico como é o território açoriano. Achamos que é muito importante passarmos a riqueza deste lugar. Para isso, ao longo destes cinco dias, tentamos desenhar uma espécie de percurso, que acontece a várias escalas e ritmos. Por exemplo, hoje [terça-feira, 19], vai ser um dia bastante calmo, mas o festival vai crescer de intensidade até sábado. 

Numa era onde o grande festival parece estar em decadência, que papel podem ter eventos como o Tremor para fazer chegar nova música a novos públicos?

Uma coisa que para nós é muito importante com o Tremor é a escala do festival. Nós sentimos, quer seja pela programação ou pela forma como as coisas são feitas em torno do festival, que temos um público super permeável à descoberta. Não existem barreiras nem aquela fixação num nome maior que faça com que não exista abertura para não ouvir os nomes que toquem antes. Para nós, isso é super importante também. E acreditamos que é a escala do festival que permite com que seja possível as coisas serem desta maneira. Se este festival fosse maior, as incursões pela natureza e os concertos surpresa seriam impossíveis de fazer ou iam ser feitos de uma forma massificada que não faz sentido. Numa atividade como, por exemplo, o Tremor Todo-o-Terreno, a nossa ideia é que as pessoas vão a essa atividade e valorizam património. Não é que vão lá 1000 pessoas e o destruam. Nós estamos do tamanho que queremos estar e nunca vamos aumentar porque sabemos que, se aumentarmos, vamos perder o que faz com que este evento tenha o ADN que lhe dá as características que tem. Não estou a dizer que não devem existir festivais grandes — deve haver variedade e oferta para toda a gente. Mas é onde nós nos encontramos e estamos à vontade para trabalhar. Acreditamos que trazemos alguma coisa de diferente nesta escala. Acreditamos que o público que temos também está muito relacionado com a escala do Tremor.

Discutirmos a escala do festival é curioso, porque o programa do Tremor 2024 é, comparativamente ao de 2023, menor. Alguns eventos desapareceram. Esse ajustar de escala teve algo a ver com gerirem melhor o cansaço do público, por exemplo?

Sim. Em 2023, sentimos que o Tremor deu uma coça aos festivaleiros [risos]. Nós gostamos muito dessa versão, mas sentimos que foi um bocado contranatura com o que acontece quando estás aqui. Se calhar ainda não notaste, mas quando pousas o pé aqui, tudo começa a abrandar e a mover-se de outra forma. E este ano quisemos fazer um Tremor que fosse mais de acordo com esse ritmo. Para nós, isso é algo importante. E numa altura em que há uma tendência da maioria dos festivais continuarem a apostar em sobreposições — e claro que no Tremor também tens de fazer escolhas —, também acreditamos que há alturas em que podemos dar tempo e espaço às pessoas. Nós não queremos que as pessoas venham cá e passem o tempo todo dentro de salas ou dentro das nossas atividades. Também devem ter a oportunidade de descobrir outras coisas e de explorar este território que é super rico. Então, essa decisão foi mesmo uma decisão consciente, deste ano darmos mais silêncio ao festival.

Uma das novidades para a edição de 2024 do Tremor foi terem introduzido um passe de fim de semana. Esta é uma iniciativa que tem o propósito de tentar incluir mais o público açoriano no festival?

Sim. Nós temos conseguido manter um público local presente, mas é em número menor face ao público que vem de fora. Nós recebemos muito o feedback desse público que, durante a semana, como as pessoas trabalham, não conseguem ir às atividades. Não têm essa disponibilidade. E como nós temos dois espaços — as Portas do Mar e o Coliseu Micaelense — capazes de albergar mais que a capacidade total do festival, decidimos criar esse passe para que o público local consiga usufruir do festival durante o fim de semana, quando é esse o caso. E correu bem — o passe está praticamente esgotado.


 
 
 
 
 
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[Final do Tremor 2024]

Balanço final obviamente só quando estiverem as contas todas feitas, mas qual é o balanço inicial do Tremor 2024?

Para já, é bastante positivo, e acho que se vai manter positivo quando fizermos o resto das contas. Foi talvez a edição mais tranquila que tivemos, tanto a nível de como as coisas se encaixaram umas nas outras, como a forma como a própria equipa lidou com o festival. Foi estranho. Todos os dias sentíamos que estava tudo a correr demasiado bem [risos]. Mas estamos super contentes. Foi uma edição que nos deu muito prazer fazer e está-nos a dar também muito prazer ver como as pessoas estão a reagir. Isso é ótimo e dá pica para o próximo ano também.

No início desta jornada falámos da escala do festival. Achas que a redução da carga da edição de 2023 para a edição deste ano contribuiu também para esse bem-estar coletivo de toda a gente envolvida no festival? 

De alguma forma, sim. Foi uma diferença muito grande e as pessoas que estiveram cá o ano passado repararam nisso. O ano passado sentia-se no ar assim um fear of missing out geral. Toda a gente estava em todo o lado, estava sempre tudo cheio, e havia muitas filas. Este ano, sentimos que o ritmo do festival foi mais natural. As pessoas acabaram por conseguir ver tudo e ter uma experiência mais tranquila. Não quer dizer que para o ano não volte a ser feito em turbo novamente, porque isso também é uma das coisas que gostamos de fazer com o Tremor. Podemos brincar com os ritmos e com as iniciativas e todos os anos acabam por ser sempre experiências diferentes. Isso também é bom para nós, porque sentimos que as pessoas quando vêm ao festival duas vezes não é só os artistas que mudam.

No início do festival, falámos também do passe de fim de semana. Cumpriu-se o objetivo dessa iniciativa com uma maior adesão do público ao local ao festival?

Houve uma adesão muito grande ao passe e praticamente esgotou — neste momento, sobram dois bilhetes de passe de fim de semana, para veres [risos]. Pode ser que esgote mesmo agora. Acreditamos que foi mesmo algo que serviu o público local que não pode vir às atividades do festival durante a semana e acabou por aproveitar o festival desta forma. Por exemplo, ontem em Glockenwise e hoje em Holy Tongue, a sala das Portas do Mar estava cheia. E esse público também acabou por trazer uma energia diferente ao festival. Quem está aqui desde terça-feira, hoje no último dia já está a acusar algum cansaço — então, é como se entrasse a equipa para a segunda parte com outra energia. Ainda não sei se é uma iniciativa a repetir nos mesmos moldes, mas ficou lançada nesta edição essa hipótese de termos passes dedicados a experiências diferentes de festival. Acho que ninguém sentiu que estas 250 pessoas a mais pioraram a experiência do festival.

Já há datas para o Tremor 2025?

Sim, vai acontecer de 8 a 12 de abril e os bilhetes são colocados à venda quarta-feira. Já estamos cheios de ideias para coisas que queremos fazer e projetos que queremos continuar, como as residências e o projeto deste ano com os MCs, que acreditamos que é algo que temos de dar continuidade de alguma forma. Estas pessoas precisam de palco, precisam de ter mais oportunidades para tocar, e temos de pensar como vamos conseguir dar continuidade a esse processo. E a equipa está contente com o festival este ano e isso é bom. Ninguém está a sentir o peso do mundo nas costas, como às vezes acontece. Acho que há uma leveza que traz essa vontade de olhar para 2025 e começar já a pensar no que vai ser esse próximo Tremor.


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