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Fotografia: Vera Marmelo & Marina Cruz
Publicado a: 24/03/2024

Coração cheio na despedida dos Açores.

Tremor’24 — Dia 5: Tremor é mesmo amor

Fotografia: Vera Marmelo & Marina Cruz
Publicado a: 24/03/2024

Para nós, felizmente a chuva abandonou-nos neste sábado (23 de Março). Os suspiros de água não caíram do céu e o dia de correu de forma normal — pelo menos, até à última hora. Já lá vamos.

Tal como o quarto dia do Tremor, o quinto dia do festival açoriano começou para nós com altas emoções. Não por causa de concertos, mas por causa de uma espécie de procissão. Expliquemos. Uma das mais bonitas histórias do Tremor é a sua ligação com a ASISM, a Associação de Surdos da Ilha de São Miguel. Em 2024, o capítulo desta ligação escreveu-se na forma de uma caminhada entre o Jardim Antero de Quental e o Jardim António Borges, ambos localizados, pois claro, em Ponta Delgada.

É complicado colocar em palavras o que se viveu durante a quase cerca de uma hora que o evento Som Sim Zero decorreu. Se o Tremor’24 necessitava de mais emoções fortes, por aqui certamente as encontrou. Não só pela componente imersiva de toda a performance associada à caminhada, mas também pela forma como a comunidade em torno do certame se juntou. Se dúvidas existissem que o Tremor é amor, desapareceram no centro do Jardim António Borges. Quem esteve por lá, sabe o que sentiu — as lágrimas de felicidade eram visíveis. Quem não esteve, azar — para o ano há mais.

O último dia do Tremor pode não ter lidado com chuva, mas o vento tornou-se o principal inimigo, abrandando a nossa deslocação para chegar ao bair Raiz para assistir ao concerto de AZIA. O Raiz acabou por tornar-se um local perfeito para o hip hop escuro da MC e produtora; meio crackudo, meio sério, meio espaço noturno do “undergredo” onde poderíamos encontrar alguém a fazer uma linha na casa de banho. Quiçá, se isso acontecesse, AZIA faria uma música sobre isso. A sua música, neste caso, é sobre o quotidiano alterno. Todavia, é curioso que esta se torna mais acessível e orelhuda com cada vez que a vemos ao vivo — e no Tremor não foi exceção. As comparações com Allen Halloween ainda são complicadas de evitar, mas canções como “Nada Fixe” continuam a ganhar a nossa constante atenção sempre que são tocadas ao vivo — e isto não são apenas as vozes da nossa cabeça a falar.



E se o concerto de AZIA foi excelente, o dos Holy Tongue, trio ao vivo que nasce da colaboração em estúdio da percussionista Valentina Magaletti e o produtor Al Wootton, trouxe ao festival o dub psicadélico a convidar à transcendência. Esperemos que tenham tomado nota disso — se não mandaram cogumelos antes deste concerto, perderam muito. Foi fantástico.

Foram os Holy Tongue que abriram a noite nas Portas do Mar, mas pouco saberiam eles o quanto a sua transcendência seria abandonada em prol do mais puro caos. Em primeiro lugar, o projeto de nova-iorquino de Deli Girls veio partir tudo ao espaço das Portas de Mar. Entre baixos pujantes e desconstruções queer punk a aproximarem-se do hyperpop, as Deli Girls nem espaço deram ao público para respirar. No meio dos gritos e da ambiência, simplesmente fomos sugados para este universo que, quer queiramos quer não, se revelou severamente aguardente para os nossos ouvidos. Música incendiária, concerto incendiário.

Mas se as Deli Girls partiram tudo nas Portas do Mar, os MAQUINA.power-trio formado por Tomás, João e Halison — aproveitaram-se dos escombros para tocar músicas do seu excelente disco de estreia, DIRTY TRACKS FOR CLUBBING, e do seu novo álbum, PRATA, a ser editado pela Fuzz Club Records no início de abril. E o público não perdoou. Num concerto de MAQUINA., quer-se várias coisas: crowdsurf e moshpits seguros, uma enorme festa e muita malta a bailar ao som deste engenho sonoro. A fechar o Tremor, o grupo espalhou todo o amor que tinha para dar; nós, felizmente, só o recebemos e tentamos devolver em máxima quantidade. O Tremor é também sobre isso — e sobre acabar a noite a beber álcool grátis num bar aleatório. E também sobre amor, claro. E em 2025 há mais. Já estamos desejosos de voltar.


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