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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/06/2021

Lar doce lar.

M.A.F. sobre “F Word”: “É uma canção feliz que conhece o peso da infelicidade”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/06/2021

“F Word” aterrou hoje como forma de M.A.F. anunciar Home, o seu primeiro álbum a solo, que no dia 9 de Julho vai merecer uma edição pela Monster Jinx.

Começou a dar sinais de actividade no final de 2016 e desde logo conquistou a nossa atenção pelos dotes de cientista rítmico avançado. Em dois anos lançou três EPs e diversos singles, tendo conquistado espaço tanto a nível nacional como internacional e deixado o seu nome cravado nos catálogos de dezenas de editoras independentes orientadas para a cena beat que pulsa, maioritariamente, no circuito SoundCloud.

10 de Março de 2019 foi a data escolhida para se juntar ao esquadrão das batidas esquisitas a operar há mais anos em Portugal — a Monster Jinx, claro — e, desde então, contribuiu para muitos dos projectos editados pela turma roxa — podem ouvi-lo nos últimos dois volumes de ROXO, no primeiro capítulo de Cursed, no disco homónimo da Monster Jinx Type Beat ou em MJ DOOM.

Mais de dois anos após ter vestido esta camisola, M.A.F. está agora a postos para se aventurar numa obra de maior dimensão, sobre a qual esteve à conversa com o Rimas e Batidas.



Tu já estás na Monster Jinx há coisa de dois ou três anos, participaste em vários dos lançamentos da label mas só agora é que te preparas para editar o teu álbum de estreia. O que significa para ti este momento?

Se bem te recordas, eu já vou com três EPs editados, se não estou em erro. Havia sempre esta ideia de ficar “preso” ao formato do EP. Nunca me tinha sentido à vontade para assumir a cena do álbum. O álbum acaba por ser quase um marco na vida de um artista.

Há um compromisso diferente?

Há um compromisso diferente, pelo menos da maneira como eu encaro isto da música e das obras. Senti sempre que o EP era quase como uma colectânea de músicas mais pequenas, como se fosse uma short story ou um compêndio de short stories. Eu conseguia mostrar trabalho nesses EPs sem me comprometer muito. Enquanto que, com o álbum, sempre achei que tinha de reunir uma série de músicas que têm que fazer sentido umas com as outras e a soma das partes tem de ser maior que o todo. É satisfatório para mim poder sentir que estou pronto e que tenho algo a dizer e que quero colocar isso num álbum, que é um formato com o qual eu me identifico e que quero, quase, que seja o meu estandarte, pelo menos nesta fase da minha vida.

Isso [de fazer o álbum] aconteceu graças à Monster Jinx. E porquê? Não só por colaborar e fazer parte da editora mas também por causa de vários elementos da Monster Jinx, nomeadamente o Maria, o DarkSunn e o Slimcutz, que são, se calhar, as pessoas que me são mais próximas. Eu estava naquela de “eu queria lançar um EP pela Monster Jinx”. E eles disseram-me, “lança mas é um álbum”. Eu sentia que um álbum não fazia muito sentido para mim, a tal cena de ter de me comprometer muito com uma obra. Foram eles que me empurraram para este “precipício”. Do género, “não, faz todo o sentido nesta altura. Vais lançar um álbum e não vais continuar nesta saga de EPs”. Mas, para responder à tua pergunta, este trabalho tem a importância de ser o statement que eu quero fazer em relação à minha estética. E tem uma dupla importância por terem sido os meus amigos da Monster Jinx a tirarem-me esta ideia do EP da cabeça. Acho que fazia sentido experimentar uma coisa diferente.

Começaste a trabalhar nisto logo após a tua entrada na editora? Consegues definir um período durante o qual esses temas foram todos feitos?

Consigo defini-lo, sim. Eu não tenho grandes problemas com aquela cena do writer’s block. Claro que, de vez em quando, os tenho. Mas eu sempre encarei a música como um escape no seu verdadeiro sentido. Ou seja, depois de um dia de trabalho, por muito cansado que eu esteja, vou compor ou produzir. Sempre fui muito regular nesse aspecto. Isso quer dizer o quê? Eu tenho sempre muito material parado, mas, para este álbum, a minha ideia era que ele fizesse sentido como um todo. Daí eu ter optado por compor e produzir de propósito para o álbum. Isso demorou cerca de um ano. Não foi um ano de trabalho intenso. Não queria forçar. Queria era que tivesse sentido para mim. Quero um álbum, sim, mas ele tem de me fazer sentido e eu tenho de estar bem com ele. Este é um álbum que eu queria que representasse o “estar bem.” Portanto, demorei mais ou menos um ano a terminá-lo. Mas tem uma particularidade: uma das músicas que vai estar no álbum é a faixa que eu lancei como single no dia em que me juntei à Monster Jinx, a “Velvet”. Essa é a única faixa que não fez parte deste processo.

Dado esse mindset que adoptaste para te focares única e exclusivamente ao disco, levaste contigo para o processo algumas técnicas ou ferramentas novas, de modo a conseguir ganhar algumas sonoridades diferentes dentro da obra?

Eu sou uma pessoa muito naturalmente susceptível a mudanças de mood. Considero-me uma pessoa muito sentimental, também. Durante muito tempo, não tinha feito as pazes com esse meu lado. Nunca tinha admitido para mim próprio que eu era uma pessoa sentimental. De facto sou e acho que isso está presente no álbum. Relativamente ao processo, eu não diria que ele mudou. Diria antes que houve uma tranformação, porque eu fui à procura de sonoridades que transmitissem melhor os meus sentimentos. E através dessa procura de sonoridades, inevitavelmente tive de procurar software e hardware que melhor as traduzisse. O processo foi mais ou menos esse. Eu queria uma certa sonoridade, então fui fazer alguma pesquisa. “Como é que eu consigo ter este sintetizador, que eu ouvi num álbum qualquer mas que traduz muito o meu feeling?” Eu já usava muito os sintetizadores, tanto a nível de software como de hardware. Mas esta ideia de teres aqueles supersaws, de fazeres a síntese para chegar a uma determinada sonoridade… “Como é que eu consigo isto sem presets?” Eu quis uma coisa mais pessoal, ser eu a rodar os botões e a experimentar os filtros para chegar àquela cena. Resumindo: fiz as pazes com o meu lado sentimental, quis colocá-lo e exprimi-lo sem pudor e procurei as sonoridades que, do meu ponto-de-vista, mais serviam para passar essas ideias.

Falas em fazer as pazes com os teus sentimentos. É essa a ideia que vai ao encontro do título que escolheste para o disco, Home?

Tal e qual. Exactamente isso. Contrariamente ao que possa parecer, o Home não está ligado a todo este tempo que passámos em casa devido à quarentena. Muita gente lançou coisas dentro dessa temática e é normal porque passámos muito tempo fechados nas nossas casas. Mas a leitura que tu fizeste é a leitura que eu quero que toda a gente faça em relação ao álbum. É um safe haven. Eu agora estou aqui, mas isso não quer dizer que eu amanhã não abra a porta de casa e saia de partida para uma outra aventura. A ideia é mesmo essa: fazer as pazes e procurar que as pessoas ouçam o disco e se sintam também elas em casa, protegidas do outside world.

E em relação ao single que apresentas agora: o que te levou a optar por dar a conhecer primeiro o “F Word”?

Eu gosto da música [risos]. É um produto com o qual eu fiquei muito satisfeito. Acho que é uma canção que é fácil de ouvir. E apesar de ser easy listening, invoca vários sentimentos de nostalgia e de energia. Achei que é uma canção feliz que conhece o peso da infelicidade. A escolha foi mais uma questão passional do que outra coisa qualquer. Obviamente que também tem samples de voz que estão cortados de forma a fazerem uma melodia que lhe confere um valor de single, que fica na cabeça. Foi um bocado por aí. É uma mistura das duas coisas. Por um lado, é uma faixa muito fixe e tem muito sentimento, por outro lado é esta faixa que é fácil de ouvir e tem “refrão”, se assim quiseres. Acho que serve bem o propósito de ser o tema de apresentação.


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