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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 20/02/2023

Alta rotação com solavancos.

Lon3r Johny no Capitólio: celebrar o rock sem moderação

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 20/02/2023

“Prometo que este não é o melhor show que vou dar, mas é o mais especial que já dei”, viria a reconhecer Lon3r Johny na recta final do concerto, já depois da meia-noite. Aviso, esse, que teve prenúncio logo na entrada da estrela rock que viu o seu Vida Rockstar anunciado em cartazes por vias rápidas da capital, em antecipação das suas primeiras grandes noites a solo em duas emblemáticas salas do País. Uma delas a que nos trouxe ao Capitólio, em Lisboa, a 18 de Fevereiro.

Entretanto, já Progvid havia aquecido (com uma selecção especialmente quente) a plateia, e Louis Dvart testado a energia do público — com confirmação do clima sentido na sala: “Isto ‘tá muito quente, o Lon3r vai ficar orgulhoso de vocês”. Já se tinham aberto os primeiros mosh pits, despido as primeiras t-shirts, e dado os primeiros toques de pé no ar pelos rockeiros já mascarados em fim-de-semana de Carnaval — de balaclavas (vulgo burca do drill) encarapuçadas. 

Irónico que as primeiras palavras que o “rockstar” dirige à sua legião de infantes extasiados sejam, “Isto não é uma moda”, depois da abertura do concerto propriamente dito ter feito lembrar (a quem lá esteve) a entrada de Playboi Carti no Rolling Loud de Portimão (onde o protagonista da noite também actuou, com uma performance bem mais curta mas, porventura, mais bem conseguida…). “Isto”, o rock, bem-entendido. Que nos minutos preliminares à entrada de Lon3r se manifestou com paralelas notas de guitarra estridentes, luzes psicadélicas (com devido pré-aviso aos espectadores foto-sensíveis) e clímax estendido. E é precisamente à entrada que o músico dá um passo em falso ao som de “Walk” e cai do palco. Felizmente nem chegou para preocupar os ragers da sala. Em menos de nada, o rapper volta a subir ao palco, ainda que a recuperação do ritmo e das condições técnicas tarde em voltar a afinar-se. 

“Eu quero fazer isto bem”, garante-nos Johny. Volta já mais composto, empurrado pela força de “Stay Fly”, numa fase em que, surpreendentemente, se vêem mais mãos do que telemóveis no ar. Aliás, ao longo da noite, os fãs — termo verdadeiramente apropriado para esta gente  — do artista em evidência são quem alimenta, de forma incansável, o espetáculo que privilegia a energia em detrimento do virtuosismo artístico.

“Hoje ‘tou sentimental”, “Eu conheço-vos a todos” e, até, “Eu amo-vos” revelam o estado eufórico e desavergonhado que só uma boa bebida consegue alinhar. Essa percepção é, a páginas tantas, confirmada pelo técnico de som — “Está para lá de bêbado”, atira entre risos —, que, por sinal, mexe-se em frente à larguíssima mesa de mistura qual Kenny Beats no Boiler Room do Primavera Sound Barcelona, tão ou mais impulsionador da festa que não perde fulgor quanto os demais.

Declarações de amor várias e exaustivas, dirigidas constantemente aos “malucos” — como se refere o artista aos seus fiéis admiradores (quase sempre com um “do c…” a reboque) —, Lon3r não se coíbe de interromper sistematicamente o alinhamento com interlúdios repetitivos e prolongados, mas desarmados e genuínos. Tanto que, já rouco de tanto esticar o auto-tune nos refrões de bangers como “Rockstar Shit”, “Porsche Turbo” , “MVP” ou “GT3” (quase todas, na verdade), chama por um dos seus malucos-mor: “Já o vi — Pedro Lourenço!”, reconhecido do YouTube (da escola Bondage…) pela plateia que grita por “CA-LI-BRI! CA-LI-BRI!”.

Aparições de caras conhecidas ainda de, primeiro, Luís Miguel Brito Garcia Monteiro — ou só “Miguel” para quem se lembra do lateral-direito da selecção portuguesa de futebol no Euro 2004 —, perdido (?) nas traseiras do Parque Mayer; Kappa Jotta na plateia, Cripta na retaguarda do palco, ou 9 Miller, Lhast e Mizzy Miles, juntos, à boca de cena — para cantarem “Safe”, pois claro. 

Entre mosh pits de perder a conta e doses reforçadas de luzes, fumo e auto-tune, irrompe dos bastidores, ainda, ProfJam, com a sua incomparável vontade de pisar palcos, para elevar a fasquia de “DAMN/SKY” a “HALLYWUD”. Enfim sozinho, Lon3r não esquece a promessa que fez no arranque do concerto — “Eu prometo que hoje vou para aí com vocês” — e desce, desta vez deliberadamente, para sentir o calor da juventude que o segue apaixonadamente. Volta a acelerar no “Porsche Turbo” em direcção ao olho do furacão, engolido pela massa compacta de lon3rs que o envolvem num carrossel humano de despedida. “Somos a nova geração, somos o rock”, declara. E o rock, sobretudo quando se é novo, basta-se, muitas das vezes, para fazer a festa.


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