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Fotografia: Paulo Pacheco
Publicado a: 10/11/2023

Verdadeiros mestres na sua arte.

Guimarães Jazz’23 — Dia 1: a Vanguard Jazz Orchestra a mostrar como se faz

Fotografia: Paulo Pacheco
Publicado a: 10/11/2023

Na teoria, são 3 graus celsius de diferença entre Lisboa e Guimarães, mas para quem percorreu os 300 quilómetros da capital até à cidade berço nota uma aragem notoriamente mais penetrante a norte do país. Só que isso pouco conta quando o motivo que nos traz até cá é o de marcar presença num festival de referência no circuito nacional como Guimarães Jazz, que entrou ontem mesmo na sua 32ª edição. Chegados ao início da noite, o tempo foi apenas suficiente para nos instalarmos e jantar. E nada melhor do que um sprint para ajudar a subir a temperatura corporal. Já no Grande Auditório Francisca Abreu do Centro Cultural Vila Flor, é a alma que aquece ao som dos 16 virtuosos músicos que integram a Vanguard Jazz Orchestra, o conjunto responsável por dar o pontapé de saída do festival. 24 anos depois, regressaram assim ao Guimarães Jazz, eles que haviam integrado o cartaz do certame em 1999, quando este dava ainda os seus primeiros passos. O dia 9 de Novembro teve, por isso, um sabor especial, ainda para mais quando calha num ano em que a big band se encontra a celebrar o centenário de Thad Jones, um dos fundadores deste lendário grupo de Nova Iorque.

Apesar de não ser fim-de-semana, o estatuto da Vanguard Jazz Orchestra valeu uma sala praticamente lotada a uma quinta-feira, naquele que foi o primeiro dia do Guimarães Jazz. Inicialmente chamada de The Thad Jones/Mel Lewis Orchestra, a banda mudou o seu nome já após as saídas dos seus dois fundadores. A escolha da derradeira nomenclatura deve-se ao facto deste conjunto se ter estreado no mítico clube Village Vanguard, onde estes músicos mantêm uma residência semanal ainda nos dias de hoje — se por lá passarem a uma segunda-feira, podem vê-los a tocar em casa. Nos tempos livres, acedem às chamadas dos vários palcos que vão requisitando os seus dotes um pouco por todo o globo. E ontem tivemos o prazer de os receber naquela que é a cidade onde nasceu Portugal.

Com a força locomotiva de Adam Birnbaum no piano, Mike Karn no contrabaixo e John Riley na bateria, trio nuclear que desempenha acção constante ao longo de toda a prestação, o som desta orquestra vai sendo embelezado com contribuições pontuais da enorme secção de sopros que compreende, onde encontramos saxofones, trompetes e trombones, sendo que alguns destes músicos vai ainda dividindo os seus sopros por flautas ou oboés em algumas ocasiões. Ao longo do concerto, estes 13 instrumentistas vão, à vez, sendo chamados a assumir a dianteira para solar sobre as bases dadas pelos restantes colegas. A única excepção aberta foi para Dick Oatts, saxofonista alto que também assume a direcção musical deste ensemble, ele que é o membro mais antigo da actual formação da Vanguard Jazz Orchestra e teve direito a brilhar à boca de cena durante a interpretação de “In The Wee Small Hours Of The Morning”.

Nesta que é a comemoração dos 100 anos após o nascimento de Thad Jones, o repertório do grupo para esta noite recaiu essencialmente sobre as composições e arranjos assinados pelo músico de Pontiac, Michigan, ele que é considerado um dos maiores solistas de trompete de todos os tempos e faz parte de uma importante família para a árvore genealógica do jazz — é irmão de Hank e Elvin Jones, dois nomes lendários do piano e bateria, respectivamente. “Mean What You Say”, “My Centennial”, “Kids Are Pretty People” e “Blues In a Minute” foram os primeiros temas a fazerem-se escutar, levando a Vanguard Jazz Orchestra a deambular entre momentos lentos e bluesy e outros mais acelerados, ao jeito do bebop, sempre com o mesmo grau de mestria independentemente das velocidades que cada faixa pede. A meio, prestou-se ainda uma vénia a Jim McNeely, um dos descendentes da linhagem musical de Jones que assume a posição de compositor residente do conjunto norte-americano desde 1990 até aos dias de hoje — a sua adaptação de “In The Wee Small Hours Of The Morning” e o original “Extra Credit” foram as músicas escolhidas para esta parte.

Apresentado como a última do alinhamento, “Fingers” foi o tema que trouxe maior fulgor a este espectáculo. “Basta ouvirem os primeiros compassos e percebem o porquê deste título”, disse e bem o host da Vanguard Jazz Orchestra. Os fraseados rápidos e saltitantes não deixaram ninguém indiferente e nem os momentos dos solos quebraram com essa exigência, provocando ágeis serpenteares entre notas musicais que foram conduzindo vários pescoços a espamos típicos de quem se deixa levar pelo que está a escutar. No fim da peça, foi impossível de calar um público completamente rendido que fez questão de aplaudir a banda de pé durante uns poucos minutos. “Isto quer dizer que nos estão a pedir mais uma?” Pergunta o porta-voz do grupo. Dito e feito. Ainda houve assim tempo para “Don’t Get Sassy”, aquela que foi realmente a derradeira faixa interpretada pelo colectivo, prolongando o delírio daqueles que se deslocaram até ao CCVF por mais alguns minutos.


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