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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 17/10/2023

Um concerto para todos os ouvidos, olhos, e movimentos.

Goat no Lisboa ao Vivo: êxtase rock assente em diferentes coordenadas

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 17/10/2023

À medida que a sala do Lisboa Ao Vivo se preenchia de pessoas ansiosas para o concerto de Goat, suspeitava-se pela pluralidade de idiomas escutados em redor (do inglês ao italiano) que a plateia presente era tão transfronteiriça quanto a música que o grupo apresenta, e a estreia do mesmo em Lisboa não deixou qualquer dúvida em relação a este aspecto. 

O espectáculo inicia-se com uma faixa introdutória de um autêntico mantra de cordas e percussão, o que dá o mote perfeito para a entrada dos músicos, envergando a indumentária tribal imaginária que sempre caracterizou a identidade visual do grupo, e abrem as hostes com “Soon You Die”, cujo balanço instrumental entre stoner rock e funk abre caminho para a entrada das duas vocalistas, claramente o centro da atenção da noite pela energia incessante que exaltaram do início ao fim da actuação. O mesmo tipo de descarga de intensidade faz-se sentir ao prosseguirem com “Goatfuzz”, e são recebidos de forma similarmente entusiástica — ainda nos encontramos no segundo tema do alinhamento e já é possível presenciar um elemento do público em pleno crowdsurfing por entre as filas da frente! 

Porque o mapa musical dos Goat é feito de diversos percursos, seria expectável a eventual viragem sonora no decorrer deste espectáculo, e após as duas investidas assentes em linhas de guitarra electrizantes que se fizeram ouvir anteriormente, o grupo acalma o passo rumo a outras nuances estilísticas: primeiro no afrobeat delicioso de “Under No Nation”, que, conjugado com os movimentos pulsantes por resposta das vocalistas, resultou numa experiência estética de frenesim e sensualidade; e de seguida, em “Gathering Of Ancient Tribes”, onde os ritmos da Nigéria persistem, mas agora são complementados com linhas de guitarras reminiscentes do rock do Mali num cruzamento bem-sucedido. “Fill My Mouth” volta a subir o nível de distorção, mas não se acanha de desaguar numa sucessiva jam em que todos os membros do grupo assumem instrumentos de percussão — excepto, ironicamente, o baterista, que transita para a flauta — assumindo um momento tribal cativante entre batidas, sopros e vozes. 

Apesar do seu mais recente disco, Medicine, ter visto a luz do dia no dia anterior, nenhum tema deste álbum fora incluído neste concerto — contrariamente, caminharam cada vez mais em retaguarda ao disparar consecutivamente três canções do seu longa-duração primordial, World Music. Que se engane quem pense que tal atitude esmorecera a receptividade da plateia: impossível seria que “Disco Fever” e “Goatman” não tomassem reféns os ouvidos e olhos de qualquer pessoa ali presente, com ritmos tão estimulantes quanto a coreografia cada vez mais deslumbrante das vocalistas, e “Golden Dawn” encerra esta trilogia com o despoletar repentino de um mosh entre as primeiras filas no seu término. Por esta altura do concerto, era difícil não encontrar vestígios de qualquer tipo de manifestação física por parte do público, e, de volta ao futuro, o aparente ponto final da noite, dado por “Let It Burn” (de Oh Death, lançamento de 2022), é recebido tanto por via da dança como pelo erguer de braços em transe de distintas formas, como se de um ritual se tratasse.  

Para grande deleite do público, cujo ânimo persiste intacto, o grupo sueco regressa para um encore, iniciado com “Do The Dance”, outro tema musculado de Oh Death, seguindo-se “Union Of Sun And Moon”, que proporciona um momento de reconforto para com a plateia, dada a ambiência vibrante transmitida no compasso da sua marcha e nas suas flautas celebratórias. Para findar a actuação, o afro-garage rock fervilhante de “Run To Your Mama”, outra evocação do passado, muda abruptamente o estado do público, atingindo o seu auge na transição de um ponto de hipnose guiado pelo ostinato de guitarra para riffs ferozes que declaram o encerramento de um espectáculo a comprovar o que une todos os desvios que os Goat tomam: a criação de uma ponte de êxtase entre a banda e a audiência.


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