Numa colaboração que poderá parecer improvável à primeira vista, Fred junta-se a Regina Guimarães para apresentar Mãos no Fogo, um projeto com poesia à flor da pele.
Como quem divaga por um sonho embrenhado numa mística que parece vir de um plano astral diferente, entramos em Mãos no Fogo sem saber bem para o que vamos, sendo exuberados por emoção a cada nova palavra ou som. Ao longo das dez faixas presentes no projeto, mergulhamos de cabeça na profundidade dos bonitos versos e voz de Regina Guimarães, que declama os mais belos poemas sobre instrumentais dignos de qualquer templo de monges, tal a paz que exsudam, pelas mãos de Fred, integrante de coletivos como Orelha Negra ou Banda do Mar, que há muito tentava magicar uma maneira de juntar a poesia à música — a hora chegou e surge agora uma das mais profundas obras feitas na atualidade, acompanhada de inebriantes visualizers, realizados e pintados por Maria Reis.
Neste harmonioso casamento, o músico junta-se à poetisa, cineasta, dramaturga e letrista, que integra os Três Tristes Tigres, escreveu para os Clã ou para os Mesa e assinou diversos livros — como Antes Demais e Depois de Tudo (2020) ou A Repetição (1979) — e guiões para as mais variadas obras de cinema.
Apresentados por Ana Deus, também integrante de Três Tristes Tigres, ambos os artistas começaram a desenvolver algo que agora nos chega ao peito em forma de Mãos no Fogo, que Fred prontamente descreveu, num comunicado endereçado ao Rimas e Batidas:
“Quando falámos, a Regina aceitou fazer uma experiência e convidou-me para casa dela no Porto. Fui lá a primeira vez com um pequeno setup de gravação que montei na sala de casa dela, onde a Regina , sentada numa cadeira me leu alguns textos. Desde a primeira leitura que a sua voz e os seus textos, ressonaram em mim com muita força e senti-me absolutamente sortudo por poder estar a viver aquele momento tão especial. Mal saí no primeiro dia, fechei-me a ouvir vezes sem conta as gravações e a tentar criar as músicas para o que foi dito na sua sala. Isolei-me, andei a pé no meio da natureza e, durante um ano, tentei entender o seu mundo e o meu, tentando seguir o meu coração e intuição. Passado uns tempos combinamos outra gravação em casa da Regina, e o processo repetiu-se, outra e mais outra e mais outra vez. Nestes dias lembro-me bem dos nossos almoços no restaurante de frente da sua casa e das nossas conversas sobre tanta coisa e que tanto me inspirou. Foi um dos processos mais bonitos em que estive na minha vida e sinto uma enorme gratidão por ter a oportunidade de o ter feito algo com uma pessoa tão especial para mim. Viva a Regina e a vida”.