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Texto: ReB Team
Fotografia: Joana Magalhães
Publicado a: 14/06/2023

O som da mudança.

Faixa-a-faixa: Leve♀Escuro de MEMA. explicado pela própria

Texto: ReB Team
Fotografia: Joana Magalhães
Publicado a: 14/06/2023

Em Abril deste ano, Sofia Marques voltou a mostrar-se ao mundo enquanto MEMA. num novo álbum, Leve♀Escuro. Apesar dos traços solitários, dado que a autora assume a composição, produção e interpretação dos seus temas, este é um disco que tem as suas bases assentes na colaboração, já que quase todas as suas canções contam também com o input de outros artistas. Elizabet Oliveira, Luís Água, Mariana Barros, Francesco Meoli, Hugo Grave e Rúben Marques são os nomes que fizeram parte do lado criativo desta peça de 36 minutos, com Ruby Smith e Katie Tavini a completarem a ficha técnica, na mistura e masterização, respectivamente.

Esta sua pop alternativa, que recorre tanto às batidas da electrónica como a guitarras eléctricas, tem-se manifestado em palco em forma de trio e já passou pelo Teatro Aveirense e pelo Musicbox — Momma T e Hayden Nóbrega foram os músicos que a acompanharam na viagem. Em Maio, Leve♀Escuro também passou pelas páginas do Rimas e Batidas, na altura no formato de entrevista, na qual MEMA. abordou, entre outros assuntos, o processo que a levou do EP de estreia até este primeiro longa-duração:

“Quando comecei a fazer este disco ainda estava um bocadinho presa à expectativa que se criou com esse EP, e se calhar à expectativa que as pessoas tinham de mim – embora saiba que isso está tudo na minha cabeça, essa expectativa externa. Só quando me libertei dessa ideia ou dessa expectativa que outros tinham de mim é que comecei realmente a escrever o disco que seria este Leve♀Escuro e fiz um bocadinho o que me apeteceu. Então, ao nível de desenvolvimento artístico, para mim, acho que acompanhou muito o meu desenvolvimento pessoal, de ultrapassar certos medos, de ultrapassar certas condicionantes psicológicas que criei relativamente a mim mesma. Foi atravessar esses obstáculos até chegar ao Leve♀Escuro, que é uma mistela de géneros e de influências, desde pop que sempre ouvi até ao metal que ouço desde a minha adolescência, desde lamechices até gritos mais empowering, por assim dizer [risos]. Apetecia-me fazer essas coisas, essas misturas, e fiz. Foi o que saiu e fui dar a este disco. E também houve muita experimentação, sabes? Testar coisas. Eu quis que este álbum tivesse mais ênfase nas guitarras porque acredito em pop feita com guitarras elétricas com distorção [risos]. Foi mais ou menos assim que surgiu o Leve♀Escuro.”

Desta vez, o mergulho vai permitir ir ainda mais a fundo naquela que é a essência do seu novo disco. A artista, que em 2021 participou ainda no Festival da Canção ao lado de Stereossauro com “Claro Como Água“, regressa ao ReB para dissecar cada um dos 13 temas que compõem este Leve♀Escuro, uma versão mais amadurecida da música que lhe corre nas veias desde o final da última década.


[“Cá Dentro”]

O tema de abertura do disco e de todo este sentimento de leveza e escuridão em simultâneo. É um tema que aconteceu por acaso, resultado de uma inspiração repentina. Tinha o microfone aberto, tinha estado a gravar outra canção do disco, quando me começaram a surgir melodias e poemas de forma espontânea. Simplesmente as cantei e gravei à medida que surgiram e, de rajada, fez-se a canção. É a primeira do disco porque sinto que não foi a MEMA. consciente que a escreveu, mas um eu subconsciente a querer sair da prisão. Eu queria muito sair da minha cabeça durante estes dois anos e simplesmente libertar-me, manifestar o que ia cá dentro. “A terra treme quando quer, então que esperas de mim, que a lava sopre no lençol em vez de querer explodir” fala sobre viver em função de expectativas em vez de desejo ou carácter próprio, fala sobre supressão em função do outro. Se até a natureza faz o que quer, toma o que quer quando tem espaço para isso, porque é que eu não posso enquanto ser humano ser completamente livre? Há todo um lado espiritual neste tema, todo um lado de força, como a força de um vulcão, bem firme no subsolo, discreta a maior parte do tempo, mas presente, viva e imponente quando manifestada. A forma quase ritualística, quase tribal com a pulsação do adufe, vem desse enraizamento, e foi crescendo para algo mais pesado, mais elétrico, mais metal. Não houve para mim melhor forma de ilustrar força e toda uma explosão emocional, já guardada há muito tempo, do que frequências graves, a distorção de uma guitarra e vozes rasgadas, guturais, aqui gravadas pelo Rúben Marques, guitarristas e back vocalist dos Tales for the Unspoken, que além de excelente músico, é também meu irmão.


[“Estou Bem”]

Foi um dos primeiros temas a definir o caminho deste disco e também o primeiro single do mesmo, ainda lançado em 2021. Foi uma reviravolta, uma quebra em relação ao estilo que apresentei no Cidade de Sal. Quis olhar um pouco para o futuro, experimentar outras sonoridades e esta eletrónica mais industrial acabou por resultar bem no conceito da canção. “Estou bem” é algo que enquanto sociedade dizemos uns aos outros, em resposta à convencional pergunta “tudo bem”. Começou a incomodar-me a nossa resposta enquanto indivíduos ser padronizada, quando a nossa vida não obedece necessariamente a um padrão e, muitos de nós, não estarmos, de facto, bem. Carregamos máscaras por conveniência. Carregamos monstros, mas mantemos a máscara por conveniência dos outros, em detrimento do nosso bem estar. É uma canção determinante para mim, há toda uma vontade visceral a vir ao de cima, no sentido de ter força suficiente para não ter vergonha do que sou. Eu sou fruto da minha origem, mas também sou fruto das minhas escolhas. Tenho o direito a ser vulnerável, a decidir por mim qual o meu caminho e a expor os meus monstros se isso for a receita para os despistar.


[“Descontrolado”]

Penso que é uma das minhas favoritas do disco. Adoro a forma como a produção evoluiu, penso que foi um ponto de viragem também enquanto produtora. Também o toque do Moog do meu amigo e produtor Hugo Grave aprofundou ainda mais a tensão criada pelos sintetizadores, bombos graves e guitarras distorcidas que ali tinha posto. Escrevi esta canção quando vivia ainda em Lisboa, em 2021, na pandemia, numa altura em que a minha vida pessoal estava trémula e me sentia profundamente só. Comecei a observar as pessoas à minha volta e relatos nas redes sociais e concluí que não era a única. Aliás, cheguei à conclusão de que mais do que nunca, muitos sentiam exatamente o mesmo. Nunca houve em toda a história (pelo menos conhecida até hoje) um momento em que estivéssemos mais conectados do que agora. Comunicamos com rapidez para o mundo todo, somos bombardeados com informação de todos os lados, a toda a hora, estamos em constante alerta por notificações e ainda assim nunca nos sentimos tão sós. Substituímos relações humanas por ecrãs e robôs, amor por prazer fortuito e satisfação plena por gratificação. Acredito mesmo que não existimos para ter este tipo de vida. Acredito mesmo que haja algo mais, menos descontrolado, mais leve e bonito do que o que estamos a viver.


[“De Cabeça”] 

Foi mesmo de cabeça. Terminei a produção a muito poucas horas de ter de entregar tudo à Ruby, a minha engenheira de mistura. Tinha um rascunho desta música a marinar há demasiado tempo. Queria que ela entrasse no disco, mas estava demasiado preocupada por a estrutura não ser tão convencional, não ser o típico A B A B. A música tinha já aquele punch bom, meio pop, meio gritty, mas faltava tudo o resto. Um propósito, uma letra (porque sentia que tinha algo a dizer ali), algo especial. Não sei se foi por meio da pressão de ter de entregar, mas numa noite terminei a produção e a letra, gravei vozes, guitarras e… puff, veio à luz. Teve, de certa forma, alguma influência do que andei a ouvir durante os últimos dois anos – uma obsessão pela Rina Sawayama e algumas coisas da Charli XCX. Mas é uma canção que veio de cabeça, veio com violência e veio confirmar-me onde é que eu quero estar enquanto MEMA.. E é neste espaço, um pouco caótico, de mistura de géneros e linguagens e, quem sabe, mais tarde, até de línguas, que quero estar. Sem barreiras, sem entraves. Direção não significa ir por um caminho só, com uma pala nos olhos para não haver desvios. Direção também é ir avançando ao mesmo tempo que paro para ver o mar, que brinco com o cão que aparece de repente no caminho, que conheço novas pessoas e aprendo algo diferente, até chegar onde quero. 


[“Só Me Fazes Mal”]

Esta é a única faixa do disco que foge um pouco da linha principal. Fala sobre relações tóxicas e de quão difícil é quebrar esse ciclo nocivo. É preciso muito trabalho, quer individual quer em conjunto, para o fazer. O tema fala disso. Esteticamente é um pouco diferente das restantes faixas também. O foco está mais na voz e teclas, tendo o violino como pano de fundo. Como teclas não são o meu forte, pedi ajuda ao Francesco Meoli, que tinha conhecido há uns meses antes num songwriting camp. Ele fez a magia dele. E a Mariana Barros, uma amiga de longa data, deu o seu toque também no violino. “Só Me Fazes Mal” é essencialmente uma balada de despedida.


[“Deixa Ser”] 

Quis que o Leve♀Escuro contasse uma história e tivesse, de certa forma, alguns capítulos. “Deixa Ser” surgiu inicialmente como um interlúdio para assinalar essa passagem entre capítulos. Um tema pop, curto, que inicia o lado Leve. Começa com uma guitarra invertida (que eu tinha gravado para outra canção ou projeto, já não me recordo) e expressa a necessidade de deixar as coisas simplesmente fluirem. Que, por vezes, o querer fazer cria atrito com o que já foi feito e nada acrescenta preocuparmo-nos demais. É só deixar ser.


[“Solta a Dor”] 

Gosto muito desta. É gratidão. Tenho muita dificuldade em ver o lado positivo das coisas e tenho constantemente de racionalizar e lembrar-me do que tenho, do que já conquistei e de relativizar situações para não entrar em estado depressivo. Tenho poucos amigos, mas tenho a sorte de ter os certos à minha volta e esta canção só pôde estar completa quando o meu amigo Luís Água me ajudou a exteriorizar o que estava cá dentro. “Deste-me a vida toda, deixaste nada no meio” é um reconhecimento a quem me trouxe ao mundo, os meus pais, e que fez tudo para que eu tivesse a melhor vida possível, dentro do que lhes estava ao alcance. “Quero ser ave no ar, ter a idade do mundo, ver a cor do sol a afundar mais um segundo.” Fala de querer viver de forma leve, livre, de forma lenta, mais um dia. “Viver a vida toda com o pulmão meio de fora. Sê livre por agora, solta a dor que tens no peito” – viver em pleno.


[“Ruído”]

Um daqueles interlúdios que marcam a entrada numa nova fase do disco. É uma ligação para a “Ligas” (desculpem a redundância). A maioria dos ruídos e sons de fundo foram gravados em Viana do Castelo, em Dezembro 2021, se não estou em erro. Tínhamos tocado em Ponte de Lima na noite anterior e decidimos ir a Viana tomar o pequeno-almoço. Achei interessante sobrepor ruídos e compilá-los numa faixa a preceder a “Ligas”, porque ela fala exatamente sobre precisar de tempo a sós e em silêncio, no sossego da nossa casa. 


[“Ligas”]

Correndo o risco de repetir o meu press release, a “Ligas” é direcionada a quem é um pouco mais introvertido ou que se sente sobrecarregado em sítios mais barulhentos ou por pressão social. É um tema mais uptempo, mais dançável, mais divertido e até meio sarcástico. Mais uma vez, tive o Água comigo na escrita. Surgiu-nos muito a questão “como dizer isto de forma menos pesada?” e ele teve a brilhante ideia da frase “Sair sem ter que sair de mim”, de que gosto muito e acho que reflete bem o que quis dizer nesta canção. Acho que durante muito tempo houve um estigma em relação a quem não gosta de sair todas as semanas e que prefere ficar enroscadinho no sofá, a ver séries e comer pizza. Há uma certa pressão social para estarmos onde a maioria das pessoas vão, fazer parte do grupo, etc.. Mas há uma beleza maior em sermos nós próprios, independentemente das pressões. Somos uma sociedade diversificada em tantos aspectos – culturalmente, neurologicamente, sexualmente e em tantos outros campos. Porque não celebrar essa diversidade em vez de a tentar apagar?


[“A Paz É Um Homem Livre”] 

O Leve♀Escuro era suposto ser uma dissertação sobre a liberdade nas suas mais variadas formas. O bom, o mau, o dúbio. Andei durante 2 anos com um gravador na mão a gravar não só sons, mas também impressões de diferentes pessoas sobre o que é para eles a liberdade. Acabei por só incluir esta no disco. A gravação foi especial. Eu e a Elizabet estávamos a dar uma volta pela Feira da Ladra, perto do Panteão, parámos um pouco no parque para descansar e próximo de nós estava um grupo de percussão, em círculo, a praticar. Entretanto, trocávamos algumas impressões sobre o disco e o ponto em que estava, o que faltava, etc. e começámos a discutir o conceito de liberdade. A Bete começou a lembrar-se de um poema que escreveu na escola, quando era ainda criança, “A Paz É Um Homem Livre”, e ia começar a declamá-lo. Aproveitei para sacar o gravador e captar tudo. Este interlúdio é dela, é o poema dela e as impressões dela sobre o que é a liberdade. Achei uma perspetiva interessante. Liberdade é tão simples quanto ter condições para viver. O mais especial nesta faixa é a forma como a percussão ficou, sem querer, atrás do que ela dizia, marcando as palavras dela de forma quase solene. Deu-me o motivo e propósito para a canção seguinte, “Mulher”.


[“Mulher”]

Uma canção pop, leve, mas que aborda um tema para mim muito pesado – a liberdade da mulher. Infelizmente, na altura em que escrevi esta canção com a Elizabet Oliveira, as notícias estavam cheias de relatos vindos do Irão e de toda a repressão religiosa, sufocante e literalmente letal. Não consigo ficar indiferente a isso, a todas as violações de direitos básicos, a toda a discriminação contra a mulher, a toda a violência contra a mulher. As histórias que chegaram do Irão foram apenas o rastilho para esta dor que tinha cá dentro. São apenas uma fração, muito pequena, das histórias de todas nós pelo mundo todo. Dói ver que não podemos ser livres em todo o lado, por causa do sexo com que nascemos ou do género com que nos identificamos. Dói ver que contra nós existe a política do medo. Mesmo em Portugal, essa atitude existe. Por exemplo, quantas de nós adiamos ter filhos por medo de perder um emprego? As estatísticas recentes mostram que o número de despedimentos por esta razão é ainda muito elevado. Quantas de nós temos medo de ir para casa sozinhas à noite? Isto porque somos frequentemente abordadas por homens com as piores das intenções. Por exemplo, lembro-me de com apenas 13 ou 14 anos, depois da escola, passar perto de obras a caminho de casa e ter de apanhar com piropos absolutamente obscenos de homens adultos, que me puseram a pensar se haveria outra forma de chegar a casa. Tive medo de passar de novo ali, era uma criança. Ainda hoje este tipo de situações me incomodam e me levam a questionar se estou em perigo. A forma absolutamente condescente como nós mulheres somos tratadas quando em posições mais técnicas dentro e fora da indústria musical, a forma como os padrões de avaliação são tão diferentes entre homens e mulheres (habitualmente mais severos quando para mulheres). Refleti sobre isso, revoltei-me por isso. Se há alguma missão para mim neste mundo, tem de ser o de não me calar face a este tipo de problemas. “Sonhei que tinha o cabelo à solta, o sol tingia a minha roupa e ali eu era mais alguém” – é uma referência direta ao contexto iraniano pré-repressão religiosa, mas pode conotar-se com tantas outras situações. É uma anotação nostálgica à liberdade que já tivemos ou poderíamos ter e ao quão valorizadas isso nos faz ou faria sentir. “Fazes-me refém de um mundo em que só queres escolher aquilo que te convém e eu pago para ser mulher” – a maior parte dos decisores políticos, quer em Portugal, quer fora, são homens. Pode ser controverso o que vou dizer, mas enquanto que é inegável que alguns tenham sensibilidade para assuntos femininos, o que tem ocorrido por aí fora nos últimos anos e meses, revela que a maioria não tenta sequer entender nem reconhecer o problema. Desde decisões desinformadas sobre o que fazer com o nosso próprio corpo, como no caso da área reprodutiva, a impostos exacerbados nos produtos essenciais femininos (ex.: pensos, tampões, etc.). Acabamos por pagar extra por sermos mulheres, tudo isto enquanto produzimos o mesmo que os homens e enquanto temos menos liberdades. Haveria tanto mais para dizer sobre esta canção, mas deixo-a por aqui.


[“Imortal”]

Ansiedade é palavra presente na minha vida há muito tempo. Sou constantemente relembrada que não posso preocupar-me desta forma com o futuro e tenho de viver mais o hoje. “Imortal” conta a história de alguém que se questiona sobre o seu lugar no mundo ao mesmo tempo que anseia viver mais o que tem. É um lembrete mesmo para viver mais o presente. No meio da azáfama esquecemo-nos disso. “Ou és p’lo mundo ou és por ti e mais completa” reforça uma ideia de que já falei antes no disco, a ideia de nos abstrairmos dessa azáfama, vivermos mais por nós em vez de vivermos pelas expectativas dos outros. Apesar de todos os obstáculos, há sempre algo positivo à nossa volta, mesmo quando não parece. “Eu não quero ser imortal”, porque se souber que o sou, vou deixar para amanhã aquilo de que poderia desfrutar hoje. É o meu grito de força.


[“A Liberdade É Uma Noite Escura”]

Quando pensei no alinhamento do Leve♀Escuro, era sempre esta a faixa de fecho. Nunca houve outra alternativa, mesmo antes do álbum estar completo. Quis dar uma certa leveza e nostalgia a esta canção, porque a letra reflete uma temática menos fácil de digerir. É um pouco filosofal. Somos livres, mas será que somos mesmo? No meu entender, não somos livres porque nos colocamos entraves. A mente é o maior entrave à liberdade. Claro que há todos os outros fatores externos, sociais, políticos, religiosos, entre outros de que tanto fala o disco. Mas quis aqui falar sobre os fatores internos que nos condicionam. E se existem condicionantes, será que existe mesmo liberdade? Pus-me a pensar nisto uns dias depois de um episódio depressivo, daqueles em que não dá para sair da cama, porque não há como contrariar a cabeça, e ficou comigo desde aí. Tinha a canção na gaveta há quase 2 anos. Sentia o instrumental original demasiado denso. Lembro-me até de ter enviado para outra produtora para tentar dar-lhe a volta, mas não aconteceu naquela altura. Acabei por pegar nela o ano passado e fiz o exercício de a cantar só com guitarra. Fui gravando e o instrumental tomou outra dimensão, mais aquática, mais fluída, que me apaixonou muito. Adicionei-lhe o beat que a aligeirou, mas tornou abrangente, de alguma forma, e, por fim, voltei a chamar a Mariana Barros para pôr os violinos. Tinha algumas coisas escritas para violino aqui, mas eu e a Mariana temos uma dinâmica conjunta muito própria nestas sessões, em que acabamos por falar muito do que nos vai na alma e refletir sobre o que sentimos com a canção. Fazemos sempre um take de improviso, além do que é suposto gravra, e no fim decidimos o que fica ou não fica. Neste caso, o take inteiro de improvisação ficou do início ao fim da música. Deu-lhe a profundidade que faltava para concluir esta narrativa. Fechou o conceito, deixando-o em aberto.


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