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Fotografia: Youknowmyface
Publicado a: 08/01/2024

Super House é o mais recente disco da dupla de produtores e DJs brasileira.

Deekapz: “O DJ tem o papel de disciplinar a pista. Então, a gente tem essa obrigação de apresentar música nova”

Fotografia: Youknowmyface
Publicado a: 08/01/2024

Às 17h em ponto, o Deekapz (antes conhecido como DKVPZ) começou o seu set no festival Bounce 808 a 8 de Dezembro de 2023. O sol quente fora dos padrões da primavera brasileira pode ter sido um dos motivos do público não lotar a Concha Acústica de Campinas, cidade a 92 km de São Paulo. 

Gratuito, o evento reunia DJs locais. Mesmo com poucas pessoas na platéia, que também não se conectou muito com os artistas que subiram ao palco, a dupla de DJs e produtores formada por Paulo Vitor e Matheus Henrique entregou seu máximo, como sempre, iniciando com “Sossego”, do Tim Maia, indo para Beyoncè, Racionais MC’s, Luiz Gonzaga e passando pela MPB, funk, rap, house e o pop.

Depois que finalizaram, logo descemos para o camarim, mais quente do que a temperatura externa. Lá, em pé, rapidamente, conversamos sobre a preparação dos sets, produções, o recente EP deles, Super House, e a preparação do próximo álbum. Também deixaram aberta a possibilidade de surgirem outros projetos na mesma linha do anterior Super Funk e o atual Super House.  “Acho que a gente não pode excluir a possibilidade de fazermos futuramente um Super Rock, Super Forró, sei lá!”, afirma Matheus. “Não existe limites”.

Além dos DJ sets que eles têm feito ao redor do mundo, principalmente na Europa, os dois fazem produções autorais, assinam produções de terceiros (Baco Exu do Blues, BK ou Rubel, por exemplo) e produzem a festa 0800 dentro de um bar no centro de São Paulo para democratizar o acesso à música eletrônica e abrir espaço para nossos DJs.



O set de vocês sempre é diferente. Tem uma mescla de música brasileira, pop, funk, rap, saindo de Tim Maia, indo para Beyoncè, voltando a Luiz Gonzaga. Tudo isso flui naturalmente durante a sessão ou é algo meio que programado antes?

[Matheus] A gente costuma pesquisar no Soundcloud ou pegar alguns sons com amigos. Geralmente, já temos algo em mente, que vão se encaixando nas transições. Mas sempre acontece na hora, de cabeça, só brincando mesmo…

[Paulo] Foi muito foda hoje inclusive… Porque é isso: quem não conhece a gente acha que temos CDJ, os equipamentos… Porém, não temos, tá ligado!? De tanta demanda, de tanta festa que a gente tá fazendo agora, graças a Deus, temos uma proximidade com as melhores CDJ… E aí começamos jogar em casa, sabe!?

A que tiver ali, vocês usam?

[Paulo] Agora, agora, chegámos num formato de DJ set que é necessário que tenha a CDJ 2000 Nexus 2, por conta dos 4 hot cues, que já virou meio que uma assinatura nossa. Se não tiver essa, não conseguimos ter acesso às músicas e, consequentemente, a virada acaba demorando um pouco mais. Sendo que o Deekapz é isso: é uma hora com um monte de coisa, tá ligado!? [risadas]

Muitos produtores que são DJs geralmente não gostam de tocar seus autorais nos sets, isso acontece com vocês também?

[Paulo] Esse é o eterno dilema do DJ. O DJ tem o papel de disciplinar a pista. Então, a gente tem essa obrigação de apresentar música nova pra rapaziada. Só que em compensação, tem sempre aquele apelo e qual é o nosso objetivo ali: “Por que fomos contratados? O que vocês esperam do Deekapz? Contrataram porque gostam do nosso jeito de tocar?” Acho que existe essa eterna balança da gente apresentar o que a gente quer, seguindo a nossa música autoral, dos nossos amigos e tal… e também o que o pessoal quer, que é aquelas coisas um pouco mais quadradas…

… tem que entender a pista?

[Paulo] Exato! E a gente tenta fazer essa cadência, né Matheus?

[Matheus] Ultimamente a gente está tocando muito assim. Por exemplo, o pessoal está respondendo bem às músicas do nosso último EP que é o Super House. Tá sendo legal tocar. 

Nas produções não existe uma única linha. Depois de Super Funk, o Deekapz chega com Super House, que apesar de serem vertentes da música preta seguem por caminhos diferentes. Como acontece esse processo criativo?

[Matheus] acho que vem muito da nossa vontade de fazer muita mistura e também de estudar formas de criar algo relacionado a um estilo, mas da nossa maneira, como foi o Super Funk e o Super House, principalmente, que foi essa ideia de fazer o house do nosso jeito, sabe!? A nossa ideia de produção musical parte sempre de fazer um laboratório mesmo, sempre testando as coisas.

O Soundcloud ainda é um ambiente de testes?

[Paulo] Com certeza. É engraçado, eu falo… Porque cada vez que a gente vai elevando o nível, subindo o degrau, seja de sucesso, da demanda de shows, da relevância do nosso trabalho… Vai ficando um pouco mais difícil a gente dar essa atenção para a plataforma que a gente iniciou isso tudo. Procuramos sempre valorizar e estar ali acessando o Soundcloud, porque querendo ou não — assim como o Bandcamp — é o portal onde você tem aquela liberdade pra ouvir os bootlegs, pra ouvir os mashups, as músicas que provavelmente não vão sair nas plataformas digitais. É ali que tá o ouro. 

Cada um faz a sua pesquisa ali?

[Paulo] Então, o Matheus continua soltando música no Soundcloud dele. Eu tenho outro projeto também, e essa é a brincadeira. A gente tem um vínculo com a plataforma, porque querendo ou não foi o lugar que deu start a tudo isso. O DKVPZ surgiu no Soundcloud. É por isso que a gente incentiva os artistas a soltarem as coisas lá, porque o algoritmo é diferente. É diferente a disciplina musical. Quando a pessoa está disposta a ouvir no Soundcloud ou no Bandcamp, acredito que ela está muito afim e gosta muito de música. Não é só um stream, vai além. É um apelo maior.

[Matheus] Não é uma pessoa que só consome a música, ela de fato gosta daquilo…

[Paulo] Eu tenho essa percepção…

E depois de Super Funk e Super House pretendem ir para outras vertentes?

[Paulo] Então, Super House foi meio que um storytelling, porque a gente já estava com a intenção de soltar alguma coisa em 2023. E já tinha essa carta na manga, que não sei se posso falar mas vou explanar: estávamos fazendo esse laboratório para produzir o nosso disco, mas por causa dessa movimentação, adiámos o álbum e lançámos o EP. Foi isso, mas o Deekapz é muito plural. É muito difícil a gente falar que vai contar uma história porque coincidentemente casou com a situação. Tem uma ligação ali. E o que as pessoas podem esperar do Deekapz é que terão coisas diferentes, digo isso para o próximo álbum e também para o próximo Piñata Pack, que é um pack de edits para os DJs tocar no verão.

[Matheus] Acho que a gente não pode excluir a possibilidade de fazermos futuramente um Super Rock, Super Forró, sei lá! Não existe limites.

[Paulo] É! Exato!

Mas eu acho que é isso que o público espera do Deekapz…. E esse futuro álbum vai ter só instrumentais ou podemos esperar participações de cantores/as e MCs?

[Matheus] Vai ter de tudo… [risadas]

[Paulo] Vai ter instrumentais e também participações…

Além de tocar nos principais festivais do Brasil, como Lollapalooza e The Town, o Deekapz também tem feito turnês pela Europa. Vêem diferença entre o público brasileiro e o público de fora do país?

[Paulo] Essa pergunta é foda porque é um estudo mesmo. Toda vez que a gente tem a oportunidade de viajar fora e fazer tour, começamos a reparar onde realmente entra a disciplina musical. Por isso, toda vez que a gente fala, reforçamos a visão que temos que ensinar aos nossos pequenos a valorizar a música, realmente se doar e se dispor, dissecar e entender a parada. Porque, querendo ou não, a gente está vivendo num momento digital em que as pessoas estão ficando muito distantes da música. É muito foda chegar e falar para os moleques aqui de Campinas, cidade onde a gente nasceu, que a música deles tava tocando em Portugal. É difícil pra eles acreditar, porque você tem que atravessar o oceano, mas quando atravessa e começa a ver que tem pessoas que levantam a bandeira, a gente começa a se questionar. Então, acredito que os europeus têm um outro tipo de disciplina musical. 

Existe uma maior valorização da música?

[Paulo] Eles valorizam de uma outra forma, tá ligado!? Tem outras nuances… A pirataria é proibida, então eles são forçados a pagar os artistas… São várias coisas. Mas é muito legal saber que tanto lá quanto aqui tá bem equilibrado em questão de energia. Acredito que na Europa assimilam o nosso trabalho mais com o lado eletrônico. E aqui tem essa valorização do funk, tem essa valorização dos estilos brasileiros. Valorizo os dois… Algumas das vezes a gente fica pensando porque a gente sente que o pessoal não valoriza, por exemplo, a gente que está aqui em Campinas, a nossa quebrada, acredito que era pra muito mais gente estar aqui apoiando, mas não aconteceu. Era pra geral estar apoiando os novos projetos, os novos artistas. Temos que acreditar nas pessoas e na arte que elas fazem.


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