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Fotografia: Simão Costa
Publicado a: 21/02/2024

Ao ritmo de Sulitânia Beat.

Club Makumba: “Não somos uma banda punk de gajos loucos que partem tudo”

Fotografia: Simão Costa
Publicado a: 21/02/2024

Talvez Tó Trips, João Doce, Gonçalo Leonardo e Gonçalo Prazeres não sejam uma banda punk, mas é mais do que certo que a sua música vive de alguma muito saudável e, sobretudo, muito criativa loucura. Ah, e como quem já os viu ao vivo há-de garantir, eles são mesmo capazes de partir tudo. Farão, certamente, isso nas datas de apresentação do seu novíssimo trabalho, Sulitânia Beat, lançado há um par de semanas. Esta sexta feira, dia 23 de Fevereiro, o Club Makumba subirá ao palco do Maus Hábitos, no Porto, para o arranque de uma mini digressão que ainda os levará ao Cine-Teatro de Estarreja (24 de Fevereiro), ao B.Leza, em Lisboa (29 de Fevereiro), ao Texas, em Leiria (1 de Março), e ao Salão Brazil, em Coimbra (2 de Março).

Doce, Prazeres e Leonardo ligaram-se com o Rimas e Batidas via Zoom para a conversa que a seguir transcrevemos. Discutem processos criativos, viagens reais e imaginadas, as naturais tensões resultantes de uma democracia em que todos têm voz activa e o que o futuro imediato lhes reserva. Coisas importantes para estarmos todos e todas bem informados antes de eles subirem a esses palcos e — será seguro dizê-lo, tendo em conta o material que têm para apresentar — partirem tudo.



Eu começo com uma ligeira provocação. Não é uma provocação, mas uma sugestão de conversa. Pergunto-vos se as músicas deste novo trabalho são bandas sonoras para memórias de viagens que vocês já fizeram ou para sonhos de viagens que vocês ainda hão-de fazer. Isto resulta de algum tipo de experiências reais ou são mesmo viagens imaginadas?

[João Doce] No fundo, é uma viagem onde quatro pessoas arranjaram forma de se relacionarem via música. É fruto do primeiro disco, em que apareceu essa entidade mágica que é o quinto elemento, o tal Club Makumba, que nos leva para sítios que, de facto, alguns deles não foram ainda pensados, nem vividos nem sonhados. É isso que faz resultar no nosso som, que tem muito de imprevisto, tem essa coisa da criatividade que te leva para sítios a que muitas vezes não pensávamos ir. Mas o que nós também queríamos é que esta música fizesse parte de sonhos, de viagens e memórias de quem nos ouve. Somos um bocado ambiciosos. Há aqui um lado programado, que é o: “Vamos fazer um novo disco. Vamos juntar-nos para compor e aproveitar toda esta experiência vivida a quatro.” Mas depois, o resultado disto tem sempre um lado, não diria de descontrole, mas de imprevisto. Nessa perspectiva, é mais um sonho por realizar do que um sonho que é pensado e depois concretizado via música.

Não sei se algum dos Gonçalos quer acrescentar algo.

[Gonçalo Prazeres] O Gonçalo mais viajado é o outro, portanto ele pode querer [risos].

[Gonçalo Leonardo] Não. Acho que o João respondeu bem. Eu não diria melhor [risos].

Mas sendo tu a pessoa mais viajada do quarteto, fazes algum tipo de trabalho de campo quando viajas? Ou seja, usas o telemóvel para gravar ideias, sons que ouves na rua? De alguma forma isso acaba por ser matéria que inspira o vosso processo criativo?

[Gonçalo Leonardo] Eles dizem que eu sou o mais viajado, mas isso é só uma provocação por eu ter estado de férias há pouco tempo enquanto a malta andou a dar entrevistas [risos]. Mas uma vez que falas nisso, por acaso até há um detalhe no disco que veio precisamente disso. Eu gravei o rádio dum taxi na Colômbia, eles usam imenso delay na voz e eu achei um piadão. Gravei isso no telemóvel e esse pedaço entra no disco, ali no “Samba Catano”, em que se ouve uma voz por trás e assim. E claro: viajando fisicamente ou só de espírito, ouvindo músicas e conhecendo outras coisas, acho que todos nós vamos beber um bocadinho a outras paragens e tentamos trazer isso para a nossa música. Mas isso vem desde o início. Acho que tentamos trazer um bocadinho da imagem do que poderia soar, mas nunca uma imitação. Ou seja, não temos aquela coisa de: “Vamos tocar aquele ritmo daquele sítio específico.” Não é isso. É mais: “Isto soa-me fixe e parece-se com algo árabe ou de não sei de onde. Soa-me bem.” É dessa maneira que acabamos por trazer as tais recordações de viagens.

No jazz usa-se muito a expressão “impressions”. Não são obrigatoriamente retratos reais, mas impressões que se recolhem de diferentes culturas.

[Gonçalo Leonardo] Nunca tinha pensado nisso, mas é uma boa definição. É precisamente isso.

Guiem-me um bocadinho através do vosso processo criativo. Como é que uma música que acaba num disco de Club Makumba normalmente nasce e como é que passa pelas diversas fases? Eu imagino que haja uma fase de sala de ensaio antes de ir a estúdio para resultar no que nós podemos ouvir.

[Gonçalo Prazeres] A maior parte das músicas tem surgido de pequenas ideias que cada um de nós leva para os outros. Ou então de jams que se fazem. Por exemplo nos testes de som, quando o pessoal está descontraidamente a tocar. Alguém acaba por agarrar numa ideia e apresenta-a aos outros. Anda-se ali um bocado à bulha — um puxa para aqui, outro puxa para ali — e tenta-se experimentar várias coisas. O resultado final tem a particularidade de nós os quatro aceitarmos que fica assim. O João às vezes diz que a pessoa que trouxe a primeira ideia às vezes já nem está a defender a sua ideia, está mais com a cabeça nas outras ideias que vêm a seguir [risos]. Então a primeira ideia acaba por nem ser assim tão importante, mas foi o ponto de partida para nós começarmos o processo criativo. Depois acabamos é por perder mais tempo a editar e a ver o que é que fica bem ou mal, para onde é que aquilo pode ou não ir.

[Gonçalo Leonardo] Às vezes também acabamos por nos surpreender. Imagina que eu levo uma linha de baixo que eu acho porreira, apresento-a ao resto da malta e tenho uma ideia do que é que poderá soar na música. Isso é muito giro, porque alguém põe o seu instrumento por cima e a abordagem é completamente diferente daquela que eu estou a imaginar. Isso é sempre uma surpresa. “Nunca tinha pensado nisso. Mas resulta. ‘Bora aí que é porreiro.” Neste disco especificamente, também tivemos uma coisa importante, que foi o termos feito uma residência artística em Castro Marim, onde estivemos 100% a compor e a trabalhar. Aí fomos pegar nessas coisas que tínhamos no baú, essas coisas que resultam dos ensaios de som, essas ideias, e estivemos intensivamente a jammar sobre isso. Se calhar, o processo a seguir, quando já temos ideias para partes diferentes, tentamos fazer uma estrutura do tema. Esse é o passo seguinte. Depois, às vezes, deixamos arrefecer um bocado e pegamos na música mais tarde. Neste caso, isso também aconteceu. Nós fizemos a residência em Novembro ou Dezembro, e depois, passado uns meses, voltámos a ouvir tudo e a trabalhar sobre as coisas.

[João Doce] O nosso processo não é muito diferente do das bandas em que todas as vozes têm o seu espaço. Quando tens uma banda onde há um compositor que convida outras pessoas para tocar, o processo não é tanto este. O nosso processo é democrático, no sentido em que todos nós também temos de ter um equilíbrio dentro daquilo que é o desprendimento da cena que estamos a fazer para a música, porque a ideia pode não ser válida quer para os outros três, quer para essa entidade mística que é Club Makumba. Ao mesmo tempo, temos de defender aquilo que é a coerência do som. Ou seja, há sempre um equilíbrio e um certo desprendimento. Por vezes a coisa não está a resultar e tu tens de partir para outra cena. Noutros momentos temos de lutar pelas músicas. Nessa residência que fizemos, houve músicas que nos deram luta e nós tivemos de lutar por elas. Elas saem de um processo, mas obviamente que também têm esse lado aberto e experimentalista. Houve músicas que deram luta, que no primeiro dia nos chatearam, no segundo dia estiveram a arrefecer e no terceiro dia pegámos nelas e demos cabo delas, até ganharem a sua validade e viabilidade. Isso é uma coisa engraçada, porque é um bocado a energia e a tensão que a banda tem nesse processo de depurar e de, às vezes, até deixar cair. Às vezes um gajo deixa cair para sempre e há malhas que, se calhar, já nos esquecemos delas e nunca mais vão aparecer. Há outras que agora não dão, mas noutro dia pode ser que dêem — não entraram neste processo mas podem entrar no processo seguinte. E é porreiro tu sentires que tens nos outros três elementos um lado de criatividade e de auto-controle, no bom sentido. Às vezes chegas ao fim de uma sessão e dizes: “Epá, estive a desatinar com aquele gajo por causa daquela parte, mas de facto aquilo soa bem como o caraças.” [Risos]

[Gonçalo Prazeres] No momento, como estamos tão perto daquilo, parece que é uma coisa completamente diferente. Eu reparei que no disco há pelo menos duas músicas que ficaram completamente diferentes das versões anteriores, que caíram por terra. Depois de termos perdido várias horas a trabalhar naquilo, chegámos à conclusão de que não era por ali. Mas é super-interessante esse trabalho de grupo, de conseguirmos fazer uma coisa e depois olhar: “Não é por aqui.” Temos confiança uns nos outros. Se alguém sente que a coisa não pode seguir por ali, o pessoal tenta perceber o que é que se passa e refazer a música.

Nessa residência que fizeram em Castro Marim já gravaram material ou depois estiveram mesmo em estúdio a fazer as gravações daquilo que escutamos no álbum?

[Gonçalo Leonardo] Fizemos uma espécie de pré-produção. Levámos o material e gravámos para nós, mas isso não foi utilizado no disco. Depois voltámos a gravar tudo em estúdio.

E esse processo de gravação foi rápido? Vocês chegaram ao estúdio já com as ideias muito definidas? Foi uma coisa muito rápida?

[Gonçalo Leonardo] Aí já tínhamos as coisas bastante alinhavadas. Como fizemos essa pré-produção, já estava tudo muito definido. As bases, não é? Depois fizemos overdubs e isso. Mas as músicas já estavam bastante fechadas, porque já tínhamos trabalhado bastante nisso. Deu para cada um fazer o seu trabalho de casa. Depois chegámos lá e foi super-rápido. Em dois ou três dias gravámos os temas todos, depois foi pôr coisas por cima que nos íamos lembrando.

[Gonçalo Prazeres] E havia músicas que não estavam completamente fechadas. Por exemplo o “Samba Catano”, nós ainda não sabíamos para onde é que íamos muito bem com aquilo. Depois de termos assegurado o resto, houve tempo para estarmos ali um bocado a experimentar algumas coisas. Isso foi um trabalho de vários meses, depois de sairmos do estúdio, em que íamos retirando e acrescentando coisas.

[João Doce] Acho que nós acabámos por beneficiar bastante de já termos uma história para trás. Embora os nosso dois discos estejam separados por dois anos, na realidade entre a gravação do primeiro disco e este passaram quatro anos. Houve a pandemia pelo meio. Beneficiámos, enquanto banda, de termos encontrado o nosso som rapidamente. Além do talento, acho que também há alguma sorte. Nós encontrámos o nosso som e gravámos o primeiro disco, embora com algumas ideias que vinham de coisas anteriores. Depois da estrada, da convivência e mais a residência, acho que a banda já estava muito oleada para partir para esta segunda aventura. Por isso, acho que o famoso temível segundo disco foi, para nós, um disco de consolidação de identidade. Ou seja, nós estávamos confortáveis com as bases e isso permitiu-nos alargar um bocado… Este disco tem mais coisas, é mais aberto e chega a mais lados. Como disse o Leo, tem muito a ver com a base que se sente na gravação. O pilares estavam lá. Acho que isso é uma conquista. Os concertos que demos ao longo destes dois anos também contribuíram para isso. O facto de estares a tocar ao vivo e poderes ir lendo o público, abre-te uma janela que permite que as músicas se estendam para aqui e para acolá, e isso também ajuda muito na composição, porque tu olhas para uma estrutura e não vês sinais proibidos nem barreiras intransponíveis. São guias que em certos momentos te permitem sair dali. E se nós conseguirmos sair todos bem e entrarmos todos bem, então é espectacular.

Eu ia perguntar se essa intensidade no palco acaba por influenciar a direcção do vosso material. O palco transformou a banda do primeiro para o segundo disco?

[Gonçalo Leonardo] Completamente. Até porque não houve palco antes do primeiro disco. A banda cresceu muito depois. A nossa dinâmica transformou-se. Aliás, nós conhecíamo-nos pouco musicalmente no primeiro disco, não é? Isso cresceu muito na estrada, no tocar ao vivo e no sentirmo-nos à vontade. Depois há o lado da desbunda, do abrir dos temas, do ir para aqui e para acolá, da improvisação. Esse lado da experiência deu muita bagagem e confiança uns nos outros para criar solidez no nosso som. Acho que isso se sente mesmo do primeiro para o segundo disco. Fugindo um bocadinho à tua pergunta, acho que também há outra coisa importante: o nosso técnico de som, Hugo Valverde, que nos acompanha ao vivo e que também esteve connosco na residência, foi ele que misturou e nos ajudou a produzir o disco. E houve sempre essa perspectiva em termos do som, de tentar que o disco tivesse um som de som ao vivo, com jarda, com punch e assim. Acho que isso foi conseguido. Também gravámos todos ao mesmo tempo, como já tínhamos feito no primeiro, cena live.

[Gonçalo Prazeres] Ya. O Hugo conhece bem o nosso som e as nossas ideias da parte sónica. Ele também teve connosco em estúdio e ajudou a gravar, a colocar os microfones. Nós desde o início que lhe falámos que queríamos ter esse punch.

[Gonçalo Leonardo] E, aliás, mesmo ao vivo, ele foi-nos ajudando a construir uma identidade sonora da banda. Podes ter um som muito bem feito mas com estéticas diferentes e eu acho que ele também fez parte dessa construção sonora da banda. Também acho que conseguiu transportar isso bem para o disco.



Algum de vocês, ou mesmo a banda em conjunto, tentou fazer algo de diferente em estúdio desta vez? Desde o utilizar um instrumento diferente, um efeito ou um método diferente? Houve alguma coisa realmente experimental nesse sentido?

[Gonçalo Prazeres] Sim. Houve uma das músicas em que eu ainda não tinha uma melodia, eles estavam a gravar a base e eu pedi para me tirarem da escuta, fui gravar várias faixas e ver o que acontecia. Tive para ali a desbundar e foi daí que surgiu a melodia e os efeitos todos de saxofone que estão lá metidos. Só via o Hugo a dizer-me que sim lá da régie, que era o único que estava a ouvir, porque eles estavam a fazer a parte deles. Eu ainda não tinha organizado nada. Nunca tinha feito isso em estúdio. Foi interessante, depois, poder agarrar nesses bocados aos quais dei alguma forma, escolher para onde é que eles iam. Houve tempo, descontracção e espaço para isso.

[Gonçalo Leonardo] Também houve a introdução de alguma electrónica. A malta começou a falar nisso, que era fixe ter algumas coisas nesse sentido. A “Samba Catano”, por exemplo, foi uma música que até surgiu por causa daquela malha muita marada de electrónica que está lá. Houve outros temas em que tentámos meter mais alguma camadas de electrónica, mas uma electrónica subtil. Não queríamos, de repente, passar a ser uma banda com batidas de electrónica [risos]. Queríamos umas camadas que acrescentassem alguma coisa e que tornasse as coisas diferentes das do primeiro disco. A introdução da electrónica foi uma experimentação nesse sentido.

Vocês têm agora uma série de apresentações. Arrancam já no dia 23, no Porto, no Maus Hábitos. Antes de falarmos do que se vai passar em palco, digam-me só: que tipo de banda são vocês na estrada? Costuma-se dizer que a estrada faz ou destrói as bandas, não é? Vocês são daqueles que têm rituais? A refeição antes ou após o concerto é muito importante? Já destruíram hotéis [Risos]?

[João Doce] Acho que somos uma banda muito tranquilona a esse nível. A ala do rock & roll, que é a ala mais cota da banda, como já destruiu muitos hotéis pela sua vida, agora tentamos estar um bocadinho mais calmos. Mas há alguns rituais, por exemplo estarmos um bocadinho só os quatro antes de entrar em palco. Não há muita coisa a dizer nem grandes cenas, mas é importante trocarmos um abraço entre nós antes de entrar em palco, porque é sempre uma aventura nova cada vez que subimos a um palco. Como dissemos há bocado, o nosso tipo de concerto, como não é uma repetição e há sempre coisas novas a acontecer, irrepetíveis, há muito essa questão da confiança e da ligação entre nós. Às vezes pode parecer engano — e às vezes é [risos] — mas essas partes abertas da música obrigam a que nós estejamos muito em sintonia. Essa coisa do antes, de estarmos juntos e de nos abraçarmos, isso acontece. Agora, não somos uma banda punk de gajos loucos que partem tudo [risos]. Já queremos algum conforto, aquelas coisinhas tranquilas.

[Gonçalo Prazeres] Gostamos de jantar bem…

[Gonçalo Leonardo] E de beber um whiskyzinho antes de ir para o palco.

[Gonçalo Prazeres] Ou um bom vinho.

[Gonçalo Leonardo] Isso aliado a um bom jantar… São coisas que ajudam [risos].

Imagino que sim. Vocês tiveram aquele tratamento dub a parte do material do primeiro álbum. Há planos similares para este álbum? Tencionam dar-lhe um tratamento adicional qualquer?

[Gonçalo Prazeres] Planos, planos? Acho que não há nada oficial. Sei que uma das pessoas que fez os remixes, o Dynamike, disse no outro dia que gostava de fazer algo semelhante outra vez [risos]. Ele gostava de agarrar em algumas coisas outra vez, mas nós ainda não planeámos nada. Mas eu acho que era uma ideia fixe. Era interessante.

[Gonçalo Leonardo] Nós também gostamos de estar sempre a fazer coisas, portanto elas vão surgir. Não vamos fazer exactamente a mesma coisa, mas vamos querer fazer alguma coisa diferente. Vamos querer pegar no disco e, sei lá, fazer algumas coisas com outras pessoas pelo meio. Até vir o próximo disco, acho que vamos querer fazer coisas com este pelo meio. Mas está tudo em aberto.

Pensando nos concertos que vêm aí: o que é que vai acontecer nesta digressão? Vai haver alguma novidade, algum convidado em palco? O que é que podem revelar e antecipar, para já?

[Gonçalo Leonardo] Nestes concertos vamos, essencialmente, apresentar o novo disco. Vamos tocar algumas músicas do disco anterior, assim aquelas que achamos serem as mais fortes. E pronto. Vamos tentar tocar bem as novas músicas [risos].

[João Doce] Todos estes planos do que é que vão ser as vidas do disco em palco estão muito em aberto, quer a participação de outras pessoas em concertos futuros, quer a nossa música ser adaptada ou, de alguma forma, de nós conseguirmos fazer isto com outros elementos culturais e artísticos. Podem passar por coisas tão estranhas como aquilo de que me estou a lembrar agora, desde coisas que envolvam projecção de imagem enquanto estamos a tocar, elementos mais performativos… Há muita coisa que nós podemos experimentar com a nossa música. A nossa música tem esse lado muito visual, muito cinematográfico, mas também tem um lado muito físico. Era porreiro nós, no futuro, tentarmos outras expressões artísticas ligadas à nossa música. A cena do dub foi muito fixe, eventualmente poderá ser repetida, mas também a experiência que nós tivemos com aqueles três concertos no Musicbox, que nos permitiu perceber que a nossa música é suficientemente aberta e — perdoa-me a modéstia — suficientemente apelativa para que outros músicos e artistas possam cavalgar nela e fazer outras coisas. Portanto, não havendo uma ideia muito concreta, há um mar de possibilidades. Todos nós temos essa abertura e conhecemos muita gente interessante dentro do meio artístico. Também há isso que o Leo disse há bocadinho: há uma progressividade que as músicas vão tendo. Quem ouve a nossa música em estúdio faz uma primeira interpretação dela, que é muito diferente da interpretação que tu fazes quando estás a ver ao vivo. Isto permite que a nossa música possa ter outras vidas, com outras pessoas, outros elementos —sejam gráficos, de performance, sei lá… Nós estamos muito abertos à maluqueira [risos].

Finalmente: já têm mais alguma coisa marcada além destas cinco datas? Há planos para tocarem, por exemplo, fora do país? Há datas a apontarem nesse sentido?

[Gonçalo Prazeres] Temos mais coisas marcadas. Vamos tocar no Bons Sons. Há mais umas datas, mas eu não sei se as podemos divulgar já.

[João Doce] Sim, há mais coisas na agenda que reflectem este trabalho que estamos a fazer, quer do lançamento do disco, quer do lado da comunicação — e desde já agradecemos-te por também estares a fazer parte deste movimento. Quanto à internacionalização, como tu sabes, é um processo difícil e complicado, por causa de tudo o que tem a ver com os custos associados e com o facto de sermos um país periférico. Espero que nuestros hermanos não me levem a mal, mas nós temos um país inteiro, gigante, a separar-nos um bocado do resto da Europa. Isto traz custos muito grandes. Se tivéssemos fronteiras com o centro da Europa — França, Inglaterra, Alemanha… — permitia-nos estar mais perto de alguns festivais e ser como algumas bandas que andam de país em país, como nós andamos dentro de Portugal, de carrinha, em que hoje tocamos aqui e amanhã tocamos acolá. Numa questão de 300/400km conseguíamos estar na Suíça, Alemanha… É uma diferença muito grande para um país periférico como o nosso, ainda por cima com as dificuldades que temos ao nível da economia. Mas vamos continuar a insistir dentro desta lógica de que tem que haver um retorno do ponto-de-vista da visibilidade e da notoriedade que nos faça chegar a outros públicos e que justifique o investimento. Temos tentado. Agradeço-te por teres levado o nosso disco e agradeço a todas as pessoas que possam servir de veículo para a nossa música ao nível da comunicação com o exterior. Mas eu não quero estar aqui numa de Calimero a chorar muito. A verdade é que a internacionalização é um caminho de pedras.


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