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Fotografia: Denilson Mairosse
Publicado a: 19/12/2023

Abraço transatlântico sob a forma de música.

Bruno Berle na VALSA: voz, violão e afetos

Fotografia: Denilson Mairosse
Publicado a: 19/12/2023

No Reino Dos Afetos, Bruno Berle é príncipe. A sua voz pode ainda não ser a mais soberana, mas pouco a pouco vão-se juntando novos pares de ouvidos ao seu grupo de adeptos, que embora discreto se fez notar em coro quando um qualquer momento da actuação o pediu. Foi assim na quinta-feira passada, 14 de Dezembro, na altura em que sacou para o palco “Quero Dizer” e “Até Meu Violão”, o único par de temas do seu álbum de estreia a constar num alinhamento única e exclusivamente composto por canções suas e de outros autores contemporâneos que, tal como ele, cresceram afastados dos principais focos culturais do Brasil.

Essas duas primeiras músicas de No Reino Dos Afectos, as que mais estavam na ponta da língua do público que se deslocou à VALSA, em Lisboa, motivaram um acompanhamento em sussurro de quase todos os presentes, tão tímido quanto o próprio Bruno, visivelmente maravilhado pela oportunidade de se apresentar ao vivo no nosso país em nome próprio. Por breves instantes, pareceu que aquela pequena porção de Lisboa rezava toda na mesma direcção — “Por onde vou / O seu amor / É o bem maior em tudo que eu vejo / E por onde for / Com seu amor / Guardo constelações em meu peito” e “Até o meu violão / Luar no sertão / Longe da cidade / Até a luz da manhã / E a cor da maçã / Sem você é nada” foram autênticos mantras que, embora entoados não muito alto, encheram por completo a pequena VALSA, que esgotou para ver de perto este cantautor de Maceió, Alagoas, abrindo vaga a uma segunda sessão no mesmo dia um par de horas depois.

Melhor, só mesmo se tivéssemos tido a oportunidade de assistir ao concerto à luz das velas, de tão íntimo que foi o ambiente ali criado. Bruno Berle tem todo aquele melaço típico das vozes brasileiras que nos habituámos a escutar e, ainda por cima, canta sempre sobre assuntos do coração, algo que facilmente acciona um qualquer ponto fraco em grande parte dos comuns mortais. Ao timbre meigo e doce junta-se o à-vontade no manusear das cordas da guitarra, dominando uma infindável quantidade de acordes e desdobrando-se entre eles com a maior das facilidades, sempre de forma muito fluída — ainda para mais dado que esteve sempre sozinho em palco e, por isso, sem os sons de outros instrumentos que pudessem camuflar qualquer pequeno deslize. Mais nada foi necessário. E quando assim o é, o duo de guitarra e violão é mais do que suficiente para deixar qualquer alma arrebatada.

Saímos da VALSA com os níveis de cortisol bem lá embaixo, completamente afagados pela música trazida por este novo artista do catálogo da Far Out Recordings, editora inglesa com muito bom ouvido para captar talentos do lado de lá do Atlântico. Não sem antes trocarmos algumas impressões com Berle — a entrevista poderá ser lida por cá tão brevemente quanto possível — e lhe adquirirmos uma das várias cópias em vinil de No Reino Dos Afetos que trouxe consigo. Na viagem de regresso a casa veio connosco, também, o desejo para que possamos voltar a vê-lo no futuro, já sagrado rei deste seu próprio mundo, obviamente com outras condições e preferencialmente acompanhado por uma banda, para que a sua visão de MPB lo-fi se possa manifestar no palco em toda a sua plenitude.


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