Digital

Girls 96

1996

Maternidade / 2024

Texto de Joana Canela

Publicado a: 29/04/2024

pub

A vida na cidade não é só feita de digital nomads e bolhas imobiliárias. E nem toda a música tem de ter o peso da intervenção. Às vezes a melhor arma pode mesmo ser a inocuidade ingénua que, no meio do caos, seja capaz de libertar os filhos do betão da seriedade política e da tensão económica. Girls 96 talvez tenham conseguido encontrar o buraco que fazia falta tapar. 

Com uma estética divertida, apoiada num profundo “abanar de raba”, a dupla de Paloma Moniz e Ricardo Gonçalves agarrou-se às fundações da pop, destituindo-a do aborrecimento comercial através de batidas apetitosas com gosto a noite e desenhando uma sonoridade refrescante e dançável. E ainda que o projecto tenha nascido em Londres, esta identidade específica é-lhes justamente portuguesa. Ouvir as seis músicas do EP 1996 não é apenas um entrar num nicho, é um eclodir de uma vontade de viver num formato sexy e descomprometido. 

“Bonita” arranca com a marca de água dos sintetizadores de Girls 96 e um “oh… estás bué bonita”. Este é o mote para a desbunda fácil que abre caminho para a fortíssima “Ainda Importa”, com uma batida ainda mais atrevida e letras com uma estranha familiaridade geracional: “todas as miúdas são mais giras do que eu, mais interessadas do que eu, mais da cidade do que eu”. Nem a cidade nem a beleza conferem estatuto; talvez a única coisa transversal seja mesmo a insegurança. E a noite, sempre a noite, a cair de faixa em faixa, à espera de um dia melhor.


pub

Últimos da categoria: Críticas

RBTV

Últimos artigos