pub

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/04/2024

Filhas do club e do metal.

AGRESSIVE GIRLS: “É uma mistura de coisas eletrónicas, mas com gritos”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/04/2024

AGRESSIVE GIRLS é o primeiro EP com o nome da mais recente banda formada pelas DJs/produtoras Diana XL e Dakoi. Sujo, cru e raivoso. AGRESSIVE GIRLS é um grito projetado a nível sonoro em punk eletrónico, sendo um espelho das angústias, desilusões e desencanto com episódios da vida e com as pessoas. Ou se gosta ou não se gosta. Disruptivo, original e distinto, este projeto tem começado a trilhar o seu percurso, com datas marcadas para o mês de maio no Festival Impulso, dia 10,  e no B.Leza, para dia 16. Foi num quiosque em Lisboa, que conversámos um pouco com o duo para saber mais sobre o caminho deste projeto.



Como é que foram os vossos percursos antes de embarcarem neste projeto, e como surgiu o click para fazerem alguma coisa juntas?

[Dakoi] Nós já nos conhecíamos. Eu era DJ, a Diana também. Já éramos amigas e víamo-nos na noite em DJ sets. Eu pelo menos sempre senti que queria trabalhar com a Diana, mesmo no início, porque ela tem um range bué grande de música e investigação musical. Ouvia bué cenas, e parecia uma pessoa bué open. Ela passava kizomba nos DJ sets e eu achava bué piada.

[Diana XL] E ainda passo.

[Dakoi] Ya, e foi isso, foi um bocado a partir dessa amizade. Nem era bem amizade ainda, mas havia qualquer cena.

[Diana XL] O click… Eu gostei dessa palavra, o haver o click, porque nós fizemos uma música primeiramente, e depois houve assim um click do género: “Ya, bora avançar nisto, isto pode ser uma cena.” Demorou a chegar lá, mas chegámos ao pensamento de :”Olha, bora fazer uma banda.”

[Dakoi] Ah, demorou a executar. Depois de executar foi tipo: “‘Bora!”

[Diana XL] Sim, demorámos um bocadinho a chegar lá. Ficámos algum tempo a pensar o que era, o que não era, se era uma colab, se era uma banda.

[Dakoi] Normalmente, quando estás a fazer música com outras pessoas, demoras a executar a primeira vez que fazes.

[Diana XL] Ah, sim.

[Dakoi] Para mim sempre foi bué difícil de alinhar fazer música com pessoal. 

[Diana XL] Mas isso foi das coisas que correu bem. Porque alinhámo-nos uma à outra, e a execução não demorou muito tempo na verdade.

Como foi o processo de encontrar alguma solidez, mais na parte daquilo que é a vossa estética, e o conceito daquilo que quiseram fazer como projeto?

[Dakoi] É bué difícil estar aqui a dizer: “Ah, nós tínhamos bué isto pensado na nossa cabeça.” Não tínhamos muito. A verdade é que no primeiro som que fizemos, a gente alinhou-se mais ou menos nas posições. Nessa fase, eu ‘tava mais numa de trabalhar a voz e a aprender a gritar. Estava com outros projetos com instrumentos aside desse, em que iria ser vocalista. Então já tinha dito à Diana que não estava com muita vontade de produzir, e ela ficou: “Ok, não me importo de produzir.” Então definimos as posições assim. Eu estaria mais na voz e letra, e ela estava mais na produção. E o primeiro som que fizemos, foi bué tipo: “Olha Diana, faz aí um beat.” E ela fez.

Qual foi o primeiro som?

[Dakoi] Foi o “Não levo a mal”.

[Diana XL] E foi toda feita num dia.

[Dakoi] E esse som fez-nos bué sentido. Foi um bocado alinhar as posições que estávamos a ter ali, tanto que esse primeiro som só tem a minha voz, a Diana ainda não estava. Depois foi todo um processo para aprender. 

[Diana XL] Ainda não sabia gritar, basicamente.

[Dakoi] Ya, usar a voz. Nós não tínhamos bem uma estrutura pensada. Eu sabia que queria gritar. Mas não sabia que queria gritar no projeto com a Diana, especificamente. Isso era só aquilo que estava a aprender no momento, mas também colou, fez sentido. Então foi um bocado alinharem-se assim em termos de: “Olha, fazes isto, eu faço aquilo.” E deu match assim, essa sonoridade. E fez-nos bué sentido, depois de perceber que aquilo estava a soar bué bem. “‘Bora continuar com esta sonoridade, ‘bora continuar a explorar mais a cena eletrónica hard, com gritos e também muito inspirada em metal, com drums de metal.” Mas também é inspirada em trap, em dubstep. É uma mistura de coisas assim, eletrónicas mas com gritos, e foi um bocado isso.

[Diana XL] É punk eletrónico, basicamente.

O elemento mais emocional que está bastante presente na vossa expressão é a raiva. Como foi estarem confortáveis no assumir dessa postura, que vocês até descrevem como “sem middle ground”? É uma música super crua, mesmo em termos mais vocais, com o grito.

[Dakoi] Não estás. Eu não estou confortável. Pelo menos não estava confortável, mas pus-me confortável. Nessa altura muito específica, quando começou AGRESSIVE GIRLS, estava a passar por umas cenas que estão nas músicas, e para mim era tipo: “Ya, eu preciso de mandar isto para fora.” Senti-me mesmo aliviada de mandar aquilo para fora. 

[Diana XL] Eu acho que os sentimentos de que falamos nas músicas são coisas que não são difíceis de expressar. Para mim é mais difícil encontrar as palavras certas para eu o dizer, mas é isso. Já tive sentimentos mais difíceis a trabalhar nas minhas músicas do que raiva. Como é uma coisa tão forte, tão atacante… Por acaso nunca tinha pensado nisso antes. Mas sim, para mim é fácil.

[Dakoi] Eu não acho fácil. Eu acho que há emoções que parecem bué básicas, consegues descrevê-las com uma palavra. Na língua portuguesa tu sentes bué, porque tens bué palavras com bué emoções. Mas eu acho que é difícil, à mesma, expressar raiva. Depende da maneira como canalizas. Eu também não quero canalizar a raiva toda de uma maneira. Mas não acho que seja fácil.

Mais no sentido de como lidar com raiva a 200%. Acho que essa é a diferença que existe naquilo que vocês fazem.

[Dakoi] O truque é: tu sentes a raiva a 200%, espezinhas essa raiva toda, dás uma volta de 360º e viras numa coisa boa. AGRESSIVE GIRLS é uma coisa boa para nós. Então é um bocado: “Ok, eu estou a sentir esta merda toda, mas vou fazer desta merda um ganda cake para uma cereja. É um bocado isso. É virar uma coisa má ao contrário

[Diana XL] É construtivo.

[Dakoi] Para nós é isso, por isso é que, para mim, expressar essa raiva era desconfortável, mas é tipo: “Eu preciso disto, ya.” E fez-me bué bem.

Como é que tem sido a experiência a tocar ao vivo?

[Dakoi] É bué fixe. A cada concerto que damos é mais fun. Também estamos a encontrar mais o nosso público, a maneira como queremos estar, que também ajuda o crescimento e é uma coisa que acontece com o tempo. Quanto mais dás, mais público tens e mais o público sente, porque também já conhece. O primeiro ou o segundo gig, o pessoal ainda tava a ver o que é que se passava. Agora sinto que há um pessoal que já sabe. Ficam recetivos e a tentar entender o que se passa. Isso é fun também. Não é um público bué loud. Ainda é um público a tentar aprender quem nós somos, curiosos, mas eu gosto disso. 

[Diana XL] Sim, e ver que tipo de comportamentos é que é esperado ter num concerto de AGRESSIVE GIRLS, porque o pessoal não mosha, o pessoal não dança, o pessoal não salta. Ficam assim meio do género: “É suposto saltar? É suposto dançar? É suposto moshar? “E não há uma resposta certa. Quer dizer, há uma resposta certa, que é o moshar. Mas como é punk eletrónico, tem voz e gritos… Dá para dançar, mas não percebes se danças, não percebes se moshas, e ficas só kinda a ver o que é que é suposto fazer. E ya, acho piada.

Tinham algumas expectativas, sobre como é que as pessoas iriam mexer-se?

[Diana XL] Foi exatamente como eu estava à espera, na verdade. 

[Dakoi] Há sempre expectativas, mas as expectativas às vezes é bué delulu. Sabia obviamente que o pessoal não ia estar tipo: “Ganda gig de metal”, ali a moshar bué hard, crowdsurfing, chaos. Já sabia que o pessoal provavelmente ia ser quietinho, mas eu quero que um dia chegue lá, tipo bué caos.

[Diana XL] Sim, eu quero que o pessoal moshe

Como é que essas experiências de tocar ao vivo também têm influenciado as próprias possibilidades do material que depois levam para o estúdio? 

[Diana XL] Por acaso, fazermos os lives ajudou-nos a ter uma ideia diferente do que é que são as coisas, redescobrir as músicas e a voz, e está a dar-nos bué ideias para mais música, mais conteúdo, emoções novas, registos novos de voz, e coisas que queremos explorar.

[Dakoi] Aprendes bué ao vivo. Consegues entender, também, em termos de público, o que é que faz as pessoas vibrarem mais, e isso também nos dá um bocado de gás, o vermos a reação do público. Isso dá-nos gás para, tipo: “Olha, ‘bora mais uma vez fazer isto, mas de uma maneira diferente.” Pegar um bocado nessa ideia e estrutura, voltar a trazer para outros sons. Na “Paga o que deves”, senti bué que o pessoal curte dessa música ao vivo, e isso não era uma coisa que eu ia sentir antes. Podes presumir qual é o som que vai bater mais ou não, mas às vezes não sabes, e ao fazer ao vivo aprendes bué, tipo: “Ah, eles curtiram disto, ou o público ’tá a sentir isto.” E nós, como curtimos, também queremos fazer outra vez.



Vocês vêm de um meio mais underground, e vêm um pouco desse tipo de espaços de cultura em Lisboa. Como é que olham para estes lugares? Numa entrevista vocês até falavam que desde a pandemia não houve propriamente uma recuperação. De que de maneira é que esses espaços influenciaram o outcome do vosso trabalho e todos esses processos que acabaram por desenvolver?

[Dakoi] Opá, não sei, eu não me sinto do underground

Mas não no sentido de vocês serem underground, mas de que vêm desses espaços. O que vêem do que está a acontecer nesse campo?

[Diana XL] Nós somos bué underground [risos]. Nós temos mil seguidores no Insta.

[Dakoi] Mas eu não gosto da cena de chamar underground, no sentido de achar que nos está a pôr numa caixa. Se houvesse bué espaços underground, iríamos tocar nesses espaços, não iríamos tocar em espaços maiores. Eu acho que o nosso projeto pode ser chamado para palcos maiores, e é essa a ambição. Ao estarem a chamarem-nos underground, reduz um bocado o nosso trabalho, é por aí. Não que eu tenha algum beef com o underground, porque eu vim do underground e faço bué cenas do underground, inclusive tenho uma festa underground, literalmente. Ou seja, fazer coisas com pouco dinheiro, e fazer coisas acontecer porque era suposto acontecer, mas não gosto de utilizar essa palavra para nos descrever num sentido que nos limite, ou que faça parecer que nós pisaríamos palcos bué pequenos e não outros.

[Diana XL] Queremos sair do underground, basicamente. É isso. Acho que somos undergrond, sim, obviamente, mas gostávamos de sair desta posição em que estamos, porque não é por escolha — não quero ser bué reclusiva, misteriosa, whatever; ou alguém que está a fazer música só por fun e não quer dar boost nem potencializar a sua cena. Nós queremos sair.

Existe todo um conjunto de espaços em que a cultura acontece, e que não está propriamente visível, mas que existe uma certa transformação e um espaço de contacto e de partilha entre artistas que depois resulta em novos resultados em termos dos projetos que a malta faz. Ou seja, a minha pergunta foi mais no sentido de: aquilo que vocês fazem é um resultado do que se passa nesses espaços?

[Dakoi] É. A falta de espaços fez com que… E os espaços que há… O não termos oportunidade de estar e de pisar um desses espaços virou AGRESSIVE GIRLS. É sobre isso, o não termos o espaço. Ainda não apareceu nada assim que melhorasse. Não sei, Lisboa está bué caótica…

[Diana XL] Num mau sentido.

[Dakoi] Sim, é isso, está tudo muito disperso, está bué difícil a vida da noite e concertos de cultura, está bué difícil.

[Diana XL] É, estamos a passar por uma fase estranha agora na música live, nos concertos e assim, as pessoas não estão a tocar. O panorama está a mudar, não sabemos para o quê, as bandas estão kinda a voltar, as pessoas já se estão a fartar dos DJs…

[Dakoi] Acho que não.

[Diana XL] Não, nunca se fartam de DJs, mas há mais recetividade a bandas e a cenas de hardcore, e a cenas mais punkzinho.

[Dakoi] Não sei.

[Diana XL] Tipo o Damas.

[Dakoi] Já houve, sim, tipo hardcore fixe, mas não sei, não há cachês.

[Diana XL] Sim, os cachês estão terríveis desde a pandemia.

Como é que sentem que estão as coisas desde esse intervalo da pandemia? Que recuperação é que houve ou não desde aí? Como é que isso desestruturou a forma com as coisas têm funcionado?

[Diana XL] Não foi um intervalo, foi um stop completamente. E não começou.

[Dakoi] Eu não tive uma carreira antes, por isso também não consigo falar como performer, porque era DJ.  Não consigo falar muito disso pessoalmente, porque não passei por isso antes, só estou a lançar um projeto agora, mas sinto bué que houve coisas que foram abaixo na pandemia e não voltaram depois disso. 

Vocês estão prestes a mostrar o vosso EP no Festival Impulso e no B.Leza. Quais são as expectativas, e aquilo que podemos esperar destes concertos?

[Dakoi] Eu sinto que tenho que responder a esta pergunta bué bem para hypar, e não consigo [risos]. 

[Diana XL] Acho que faz um sentido bizarro nós irmos tocar no mesmo lineup que a Sambado no Impulso, porque ao mesmo que não temos nada a ver, temos bué a ver com a Sambado, e acho piada. Estou com expectativas para esse gig, porque acho que também vai estar buéda gente do hyperpop e acho que vão ficar um bocado chocados. Mas acho que vão aceitar a nossa cena, porque nós nunca tivemos um gig com o mesmo público da Sambado a ver-nos. Só tivemos mais pessoal do hardcore. Vai ser engraçado ver os hyperpopers a curtirem.

[Dakoi] Mas também não sei bem qual é o nosso público. Acho que o nosso público é bué diverso.

[Diana XL] Nós não temos público agora.

[Dakoi] Isso não se diz [risos].

Está a formar-se…

[Diana XL] Nós estamos a formar agora o nosso público alvo, o público que gosta de nós e vai…

[Dakoi] Mas há pessoas que poderiam bué não gostar e gostam. Que não seria esperado gostar.

[Diana XL] Mas sim, queremos bué que pessoal novo veja, pessoal que outrora não iria ver, do género de pessoal que vai ver a Sambado e pode ficar assim um bocado chocada por nos ver, mas depois vê que faz sentido. 

Pegando até nisso, gostava de perguntar: aqui em Portugal, e até pegando na Sambado, quais é que são as vossas referências?

[Diana XL] Nós.

Que pessoas é que vocês olham, e que sentem que estão a fazer algo… Porque falando na Sambado, estavas a dizer que não tem nada a ver, mas eu acho que até tem bastante a ver numa certa disrupção, e a própria estética queer…

[Dakoi] Estás a ver aquelas pessoas que dizem: “Ah, eu oiço todo o tipo de música.” Eu não oiço nada. Tenho os ouvidos cheios, estou farta de ouvir tudo, porque eu trabalho à noite, só oiço música de club, só ambient. Olha, gosto do Aires.

[Diana XL] O Aires, pessoal do ambient, o USOF, que ele já está há anos nisto e é ambient legend.

[Dakoi] Ya, e também é do hardcore. Ya, eles são… Há bué pessoal do ambient que veio do metal.

[Diana XL] Eu curto da Sambado. Musicalmente, curto. Se bem que hyperpop já não é muito a minha cena, mas em termos de filosofia de vida gosto muito da Sambado.

[Dakoi] A gente gosta do Hetta, bleachmane.

[Diana XL] Os Reia Cibele, os putos que estão a fazer música agora. E é isso, inspiro-me nos putos que estão a aprender agora.

[Dakoi] SleepyThePrince.

[Diana XL] Porque os putos que estão a fazer agora, fazem diferente. E é isso, inspira-me o pessoal que está a fazer cenas diferentes, que é isso que eu quero, que façam cenas diferentes.

[Dakoi] A nossa cena não é uma cena que se espelhe muito, ou que a gente busque muito.

Com o que há cá…

[Dakoi] A gente também está a tentar fazer uma cena… Eu tinha bué referências americanas. Cresci com referências americanas de metal e assim, e é muito diferente do que se faz aqui, não dá para espelhar, mas a gente ouve bué pessoal de Portugal, acho que há bué artistas bué bons.

[Diana XL] Para este projeto temos poucas referências lá de fora, a não ser que seja bandas de metal e assim.

[Dakoi] Mas nem lá de fora, mas nem cá de dentro, baby. A gente inspira-se por géneros musicais, sonoridades. É mais por som. A gente inspira-se em som, em géneros.

Também pode ser uma inspiração estética.

[Dakoi] Ya, e não artistas específicos. É difícil para mim responder a esta pergunta, na verdade.

[Diana XL] Mas é isso, eu inspiro-me mais por certos conceitos das pessoas, não tanto o som. Mais em termos de conceito, de porque é que as pessoas estão a fazer o que fazem, ou os temas, as pessoas serem fixes, ou terem uma filosofia de vida fixe. É mais por aí, para mim.

[Dakoi] Porque é isso que nós literalmente estamos a fazer. Temos coisas a dizer, dizemos, e tentamos passar isso para uma estética sonora, que faz sentido para nos expressar dessa maneira.


pub

Últimos da categoria: Entrevistas

RBTV

Últimos artigos