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Fotografia: Manuel Lino
Publicado a: 13/06/2023

Uma Noite Particular com novas datas para Lisboa e Braga.

Batida: “A coisa mais agradável tem sido escutar os músicos a fazerem viver o disco”

Fotografia: Manuel Lino
Publicado a: 13/06/2023

Nos próximos dias 16 de junho, na Casa Independente, em Lisboa, e 17 de junho, no Theatro Circo, em Braga, Batida volta a apresentar “Uma Noite Particular”. Estas serão a terceira e quarta sessões — quiçá as últimas — em que Pedro Coquenão desafia o público para um ensaio aberto onde se experimentam hipóteses de trabalho, se estabelecem diálogos e se pode assistir e participar no processo de construção e projeção de alguns dos elementos que integração a nova digressão de músico e produtor, que em 2022 editou Neon Colonialismo.

Nestas noites propõe-se uma experiência nova e inesperada que vive do espaço, do processo e de quem a ele se junta. Mas podemos antecipar, pelo que vimos em noites anteriores, que estes serão encontros marcados pela fusão entre a música e a dança, o som e o corpo, o discurso e a performance, a luz, a cenografia e a tecnologia. Noites que são, também, uma tentativa de pensar em conjunto como um disco se pode metamorfosear para ganhar novas vidas, noutros espaços, noutros tempos e em diálogo com quem o escuta ao vivo e com quem dele se apropria.

Acompanhado pelos músicos Manel Pinheiro, Marcos Alves, Mick Trovoada, Milton Gulli e Ikonoklasta, pelos bailarinos André e Gonçalo Cabral, Batida abre o jogo de um processo que só tem a ganhar quando se deixa contaminar pela vida. Em jeito de balanço das duas primeiras noites, e de antecipação dos novos encontros em Lisboa e em Braga, enviámos algumas perguntas ao músico, que aqui nos fala sobre os desafios e particularidades deste processo e do que eventualmente se seguirá, depois do merecido descanso, que vem mesmo a tempo da segunda temporada de The Bear.



Depois das duas primeiras noites particulares na Casa Independente, em Lisboa, que balanço fazes sobre estes ensaios abertos? 

Tenho de dizer que é um balanço positivo. Ambas as noites venderam mais do que a lotação da Casa, o que quer dizer que as pessoas rodam. O que isso quer dizer, não sei ao certo. São números e apenas os números parecem importar a esta altura – esgotar é um verbo muito procurado – e ainda sobre números, não consigo mesmo fazer médias com dois dados. Preciso de um terceiro elemento para detectar um padrão que, mesmo assim, pode ser enganador. Certo é que estou a fazer o que quero, sinto-me bem na Casa e que estarei esgotado no dia 19. Dia 18 de junho tenho Skoola da parte da tarde e não me posso esgotar antes.

E o que podemos esperar das próximas duas noites, dia 16 de junho, novamente na Casa Independente, e dia 17 de junho no Theatro Circo em Braga? Serão as últimas?

Podem ser. Até porque não é certo para mim que continue a fazer o que fiz até agora. E isto é tão certo quanto o estar a trabalhar cada detalhe como se fosse para fazer uma tour com 50 apresentações para o ano que vem. Quem sabe? Podem esperar que a terceira noite na Casa vai ter exactamente o mesmo alinhamento da segunda, porque pareceu fluir bem e vou assim repetir o alinhamento para poder apurar a parte musical. Tudo o resto é mexido. Há sempre objectos/adereços que vou juntando, fruto do meu trabalho com os generosos artesãos da Marvilab, por exemplo. Desta vez vou procurar assumir mais a introdução, acho – ainda não decidi – e vou trabalhar mais o movimento, ainda na Casa, e assumir mais o trabalho de palco, a utilização do espaço, o vídeo e a luz já no Theatro Circo. 

Estes ensaios abertos têm dado origem a ideias novas, que não estavam previstas, ou têm sido um espaço para testar ideias e propostas em que já tinhas pensado?

Eu rumino muito e tiro muitas notas. Sinto-me bovino no processo criativo. As novidades vão saindo e mastigo-as de novo até as transformar ou expulsar do meu corpo. Neste ritmo, o que tenho feito é gerir as minhas capacidades, as pessoas com que estou a trabalhar, o espaço e, por fim, ainda tentar sentir o que me rodeia. Essa é a grande ideia. A coisa mais agradável tem sido escutar os músicos a fazerem viver o disco – Manel Pinheiro, Marcos Alves, Mick Trovoada, Milton Gulli e Mano Ikono. Apostei na letra M este ano. Deve significar alguma coisa. Vai dar alguma coisa. Ocorrem-me muitas palavras começadas por m (…). A Luz já ficou desenhada com o Paulo Sabino, venha a dança agora. Gonçalo? 

A primeira vez que falaste connosco sobre estes encontros, mencionavas que podíamos esperar “tentativas falhadas” e “mais honestidade do que num palco com tempo contado ao minuto”. Como é que sentes que o público se relacionou com a tua proposta que é, apesar de tudo, bastante diferente da maioria dos concertos em que está tudo marcado e programado? 

Sobre o público, registei um bom número de pessoas queridas na primeira noite. A Casa encheu nas duas noites e espero que encha nesta terceira. A resposta é dada com bilhetes vendidos. Gostava de os vender antecipadamente para poder sentir ao certo qual o papel do meu trabalho nisso :) Vamos ver que milagre acontece em Braga. Sobre a disponibilidade do público, num contexto como o da Casa, penso que tem sido positivo. Entre a Casa e o Theatro Circo o público vai ser muito diferente, certamente: um espaço é uma maravilhosa Casa feita para conversar e o outro, um pomposo Theatro para para escutar e observar e isso dá uma experiência totalmente diferente. 

Os ensaios têm sido muito abertos, sem um guião completamente fechado, deixando-se contaminar pelo espaço, o ambiente, as pessoas. Como vais adaptar essa natureza mais aberta destas noites para um modelo mais estruturado? É possível ter um modelo de espetáculo mais “fechado” mas que mantenha algum grau de abertura para o que acontece em cada lugar?

Gosto de ler esta frase sem pontos de interrogação. Sobre o como: trabalhar melhor uma coisa, não implica mecanizá-la, defini-la e matá-la portanto. Estando presente, não consigo repetir mas quero tentar trabalhar mais. Não trabalhei nada o suficiente para ficar fechado ou ser um modelo de alguma forma que não a minha favorita que é o free form e não vende. 

Nestas noites particulares tens pessoas que chegam cedo e contigo partilham um momento de diálogo e reflexão mais aberta, e depois tens quem chegue um pouco mais tarde e encha a sala para assistir ao momento que associamos mais a um concerto. É um desafio para ti pensares num modelo de apresentação do álbum que simultaneamente possa captar pessoas com diferentes níveis de interesse e relação com o teu trabalho e a tua proposta?

É um desafio viabilizar financeiramente o que faço. Apenas isso. Adoro trabalhar em tudo o que tenho feito. Viabilizar, passa por encontrar um modelo, acertar ou encontrar um público alvo e oferecer um serviço de forma consistente. Sou muito grato a cada programador que me contrata sabendo que posso não corresponder ou vender bilhetes. Apresentar-me como DJ é algo muito linear e costuma ser eficaz. Desde criança que exercito essa arte e a de tentar comunicar.

Tendo em conta as experiências que tens tido nos últimos anos e o resultado destes primeiros ensaios, tem sido um desafio particular montar um espetáculo que, simultaneamente, não ceda à cultura do tédio e da passividade e ao mesmo tempo não te force a uma intensidade de trabalho desmesurada e que por vezes pode ser muito destrutiva?

Preciso que me comprem, porque preciso de dinheiro para comprar tempo: tempo a trabalhar no que gosto e tempo dentro de água. Se não conseguir, morro de alguma forma antes do tempo em que morrerei de vez.

Depois destas próximas datas em Lisboa e Braga, quais os planos que se seguem?

Estar na Skoola no domingo de tarde, apanhar a camioneta e voltar para casa, comer algo familiar com a namorada, ver um filme, dormir um dia inteiro, tomar um duche longo, ficar a olhar para o horizonte (eu tenho horizonte aqui) em estado de choque (a não ser que algo se revele entretanto) e depois para as estrelas com o Quioco, os dois descalços. Dormir de novo, ter sonhos estranhos, olhar para uma folha de Excel e extratos bancários, ficar à espera de feedback, tipo pescador com cana (mas não por muito tempo que o exercício é boa meditação mas não me alimento só disso) e aguardar pela estreia da nova temporada do The Bear que sai essa semana, não é? O único plano é o de existir melhor. Enfrentar e simplificar parecem ser os verbos, cheira-me.


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