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Publicado a: 16/03/2017

Austin: uma cidade sem limites

Publicado a: 16/03/2017

[TEXTO E FOTOS] Rui Miguel Abreu

Aterrar em Austin é, muito literalmente, aterrar noutro planeta. O caminho de Houston até à cidade que acolhe o festival South By Southwest (SXSW) faz-se de carro, revelando uma paisagem em tudo condizente com a que tem vindo ao longo das décadas a ser consagrada nos road movies: longas rectas sem fim, camiões de proporções mastodônticas, pequenas terras que pouco mais propósito parecem ter do que existir para contemplar estas vias de tráfego intenso que as rasgam ao meio.

Em Austin, a vibração é máxima. Faz calor, as pessoas caminham nas ruas de calções e chinelos de dedo, impera uma atmosfera de celebração de vida, muito pouco coincidente com a ideia de resistência a Trump que o mundo quer acreditar que mobiliza a América nos dias de hoje. Mas isto é o Texas, um estado que se inclina para os republicanos (embora não totalmente) e que é orgulhoso das suas tradições nacionalistas. Está, por exemplo, nos lugares cimeiros dos estados que contribuem com efectivos para as tropas americanas.

 


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Mesmo sem que se vislumbrem críticas abertas a Trump nas ruas, a atmosfera é de celebração de juventude e de desafio. Muita polícia, claro – e já hoje houve notícias de disparos durante a madrugada junto a uma das ruas do festival… – mas também, muito desafio e um sentido amplo de harmonia e até de segurança. As pessoas estão aqui para ouvir música. E música é coisa que não falta.

Em cada canto de cada um dos bairros mais centrais há um sistema de som e se não há um sistema de som digno desse nome há alguém numa esquina com uma guitarra e uma pequena coluna a fazer barulho. E ouve-se de tudo: folk e hip hop, rock e blues, jazz e soul. O talento parece que nasce do concreto das ruas.

 


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E depois há os grandes e muito concorridos palcos: YouTube, Fader, MTV, Pandora, Vans, Armani… as marcas disputam a atenção das pessoas, mas nunca de uma forma impositiva e esmagadora. O principal argumento é sempre o artista do cartaz. E ontem poucos bateram Solange: as filas à porta da sala do YouTube eram massivas.

Mas foi numa pequena sala, a Elysium, que vimos Gabriel Garzón-Montano, homem da Stones Throw – label que tem um incontornável showcase marcado para depois de amanhã na sala Main – a deslumbrar a pequena audiência (a sala é do tamanho da ZdB, não maior). Acompanhado por um incrível baterista que também disparava samples, Gabriel apresentou-se ao piano e orgão, comunicador, irrequieto e pronto a responder a perguntas do público. Mesmo na nossa língua: “Gabriel, quando é que vais a Portugal”. “Em breve espero, quero muito ir. Convidem-me!” Não nos parece que venha a ter que esperar muito. O talento revelado na sua estreia na editora de PB Wolf é real, palpável e com enorme potencial.

Aliás, potencial é coisa que não falta no SXSW: hoje tentaremos apanhar concertos com gente como SURVIVE, Young M.A., Zaytoven, Mike Will Made It ou Chicano Batman, mas só numa sala há um alinhamento com Dreezy, Saba, Joey Purp, Noname, The Cool Kids e French Montana. Vai ser difícil arredar pé…

 


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