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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/11/2022

Sem egos.

Apollo Brown & Philmore Greene: “O Cost of Living é sobre as boas e más escolhas de viver nesta sociedade”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/11/2022

Cerca de 500 quilómetros separam Detroit e Chicago, qualquer coisa como ir de Faro a Aveiro, e o que para alguns de nós é o martírio de quase atravessar um país para os norte-americanos é ir “já ali”, e esta diferença cultural geográfica fica bem patente pelo meio da música e pelo rap dos dois países. Se 500 quilómetros em Portugal são tão significativos no que toca à sonoridade rap que vamos escutar de um sítio para o outro, nos Estados Unidos a diferença é pouca, e é na demora a devolver uma resposta a uma esta questão sobre isto por parte de Apollo Brown e Philmore Greene que evidencia ainda mais esta proximidade musical, desta zona do EUA conhecida como o midwest. A fazer fronteira com o Canadá, a cidade de Detroit é um dos pólos de rap mais bem protegidos dos Estados Unidos, e culpa disso é o “bairrismo”, digamos assim, de Apollo Brown.

O reputado produtor, com uma discografia de fazer inveja, densa e recheada de projectos de grande qualidade, acompanhado muitas das vezes por rappers de igual tarimba, como são os casos de Ghostface Killah, Joell Ortiz, Che Noir, Skyzoo e Ras Kass, tem erguido bem lá no alto a bandeira da sua cidade, e a compilação de 2019, Sincerely Detroit é ilustrativa de exactamente isso. Mas, em 2022, o foco estava noutra cidade, a de Chicago, de onde é natural Philmore Greene, o rapper que se propôs neste novo disco, Cost of Living, a dar a sua visão sobre o sítio que o viu crescer, num trabalho que, segundo ambos, foca-se muito nesta questão do bairrismo, de relatar o que é observável no teu crescimento e no teu desenvolvimento enquanto cidadão, mas, ao mesmo tempo, é transversal a qualquer país do mundo, a qualquer realidade, porque há temáticas que tocam os quatro pontos do globo.

Como tal, o Rimas e Batidas esteve à conversa com ambos via ZOOM para nos revelarem mais detalhes sobre este processo e esforço colaborativo com selo da Mello Music Group.



Antes de mais Apollo, gostaria de dizer que acabas por ter uma inspiração directa num projecto de rap Português, que provavelmente desconheces. Refiro-me ao Sinceramente Porto que se inspirou no teu Sincerely Detroit na parte do título, lançados apenas com um ano de diferença. O título é inspirado e o conceito acaba por ser semelhante: 1 disco, 1 cidade, vários rappers dessa zona.

[Apollo Brown] Eu queria muito que produtores de outras cidades emulassem aquilo que eu fiz em Detroit, sabes? De qualquer lado… Filadélfia, LA, Chicago, mesmo de qualquer lado. Neste caso foi em Portugal, e isso é incrível. Era brutal existirem uma data de Sincerelys cá fora, inspirados nas cidades de cada produtor, a representar a zona deles, com os melhores rappers dessas cidades também. O meu Sincerely Detroit teve 56 artistas, é um daqueles álbuns que não é fácil de fazer… não conseguia meter mais ninguém mesmo que quisesse, a dimensão em CD era de 80 minutos e o disco tem 79 minutos e 40 e tal segundos, não dava mesmo. Literalmente foi até ao tutano… Mas, relativamente ao disco português que referiste, fico muito grato de ter servido de inspiração para alguém.

Falando no vosso Cost of Living, e não querendo ser muito cliché, é uma homenagem a Chicago, certo?

[Apollo Brown] Definitivamente tem muito relacionado com Chicago, mas vou deixar o meu boy Phil explicar melhor. 

[Philmore Greene] Sim, obrigado. É realmente um álbum que tem muito haver com Chicago, eu sou nascido e criado em Chicago e, sabes, quando chegar a minha hora, também vou estar em Chicago, portanto é definitivamente um álbum sobre Chicago, porque é de onde eu sou, mas se eu fosse do Idaho também era dedicado a lá, sabes? Acho que é um álbum com o qual te consegues relacionar facilmente, é atingível por toda a gente, em todo o lado, seja em Portugal ou aqui, o “custo de vida” é algo transversal a todos nós.

E essa é a parte curiosa do álbum… é transversal mesmo a todo o lado.

[Apollo Brown] Toda a gente está a passar por algo, pode ser parecido ao que descrevemos, mas certamente conheces alguém que está a passar pelas dicas que tocamos no álbum, a vida não é um mar de rosas, mano… isto não é o Instagram, não é uma vida de redes sociais, sais das redes sociais e a história é completamente diferente.

[Philmore Greene] Os telemóveis manipulam toda a gente hoje em dia, tanto para o bem como para o mal, é uma faca de dois gumes. Consegues controlar toda a tua vida e carreira musical através deles, podes gravar um álbum com eles também, enviar as tuas vozes para mistura/masterização, mas, ao mesmo tempo, matam as capacidades humanas das pessoas, e elas nem se apercebem. Basta olhar para algumas crianças, não sabem escrever e falar bem, há pessoas atrofiadas devido ao uso excessivo desses aparelhos. A “Time Goes” é basicamente sobre isto, de como os tempos eram e de como são agora, a revisitar essas alturas, sejam as partes boas como as partes más.

[Apollo Brown] O Cost of Living é todo ele sobre decisões, sacrifícios, as boas e más escolhas que se traduzem nas consequências de viver nesta sociedade, tudo tem uma consequência para o que fazemos, seja boa ou má. 

[Philmore Greene] O Apollo tem os créditos na escolha do título, acho que haviam mais alguns na manga, não é? Mas este foi aquele que nos ficou mesmo na cabeça…

[Apollo Brown] Sim, tinha, mas este aqui acaba por ser um tributo a uma faixa tua que também se chama “Cost of Living”, sabia que este título também estava no teu radar e tinha esta camada adicional. Era um título com pernas para andar.

E o conceito do álbum em si, musicalmente falando?

[Apollo Brown] É assim, o conceito já estava na cabeça do Philmore, e eu simplesmente fiz a banda sonora do filme que ele escreveu. Isto não é bem um conceito, é vida real. São cenários de vida real, entendes? Coisas que aconteceram com o Philmore, com amigos e família dele, vizinhos dele que também o viveram, desde criança até agora… portanto, não é bem um conceito, e achamos que o título assenta bem com o que disco representa. 

[Philmore Greene] Há faixas neste álbum que vão ser ouvidos por malta do meu bairro e eles vão compreender aquilo de uma forma única, porque nós crescemos à volta destas histórias, destes acontecimentos, eu falo de pessoas que nós conhecemos, várias delas até podem estar a escutar o álbum e ouvirem histórias que os envolvem, e eles adoram isso, porque não têm voz para partilhá-las, e eu estou a desempenhar esse trabalho, de partilhar com o mundo essas cenas. 

Uma coisa que me saltou à vista foi a química que têm. Como se conheceram?

[Apollo Brown] Eu contactei o Philmore, sempre tinha ouvido falar dele e do seu trabalho, era e continuo a ser fã da sua música. Na primeira parte da sua carreira ele trabalhou bastante com o Rashid Hadee, alguém que eu conheço há muito tempo também, e como costumo dizer a outros, se o Rashid Hadee gosta de ti e do teu trabalho, então eu também vou gostar [risos]. E para além disso, como é claro, o Philmore faz muito boa música e eu vejo-me ali, gosto de a ouvir, revejo-me naquilo e queria fazer parte dela. O Phil teve alguns shows em Detroit, eu fui lá, trocámos umas ideias, conhecemo-nos e decidimos que íamos definitivamente trabalhar em algo, não sabíamos era quando, em quê, se um tema, se um álbum, e, pronto, o tempo passou, e está aí um álbum colaborativo. Ele veio até aqui [estúdio de Apollo e onde estava durante a entrevista] e fez a sua cena, gravou o álbum. Eu só trabalho assim, fisicamente, com a pessoa perto de mim, é uma das poucas coisas que ainda subsistem nesta indústria, tenho que estar com a pessoa, sentir a vibe do que estamos a trabalhar, conhecer o outro, e deixar as cenas fluir a partir daí, fazer a música de forma natural. Eu não faço álbuns por e-mail, portanto tens que estar em estúdio comigo… quero ver as tuas reações, quero ver como trabalhas, as tuas dinâmicas, quero que tu vejas as minhas reações quando tu estavas a gravar, quero sentir essa dinâmica e forma orgânica de trabalhar. A música que fizemos neste álbum é mesmo isso, orgânica, natural, intemporal, bonita…

Mas desculpa, voltando à tua pergunta, conhecemo-nos na estrada, ele também se dá bem com o Skyzoo, um bom amigo meu, e fez todo o sentido trabalharmos. Eu entendo que por vezes tem que se trabalhar à distância, envias o instrumental/rimas e pronto, mas se tiveres a oportunidade de te juntar com o artista, estarem juntos uns bons dias a trabalhar, eu incentivo vivamente a fazerem-no, é a melhor maneira, a maneira certa para mim, na verdade. Poderem juntar-se com um artista, conhecerem-se enquanto pessoas, enquanto artistas, faz tudo parte do processo para mim, se o puderem fazer que o façam, tirem proveito dessa experiência. Há muitos artistas a trabalhar juntos que não se conhecem, parecem estranhos uns para os outros, às vezes nem sequer estiveram no mesmo espaço e estão a fazer música… 

Apollo, já que este álbum é bastante focado em Chicago, tanto sónica como narrativamente, deve ter sido um processo interessante interpretar a cidade de Chicago nesses aspectos-

[Apollo Brown] É engraçado dizeres isso, porque isto é a minha interpretação sonora de Chicago. Se a pedires a 10 pessoas, vais ter 10 sons diferentes, cada um tem a sua perceção, porque isto é a visão de fora para dentro, de alguém fora de Chicago a interpretar a cidade e a olhar para ela. Podes visitar a cidade 10 milhões de vezes que não vais conseguir interpretá-la totalmente, só se viveres lá é que sabes realmente o que ela é e simboliza, especialmente se tiveres nascido e crescido por lá, aí simtens o sabor total da cidade. Chicago lembra-me bastante de Detroit, para mim é uma cidade também muito operária, muita resiliência, já estive lá muitas vezes e vejo-a como uma cidade muito introspectiva, calma e não como um sítio foleiro, onde só se ouve crunk o dia todo.. nah, nah [risos]. Há muita música de qualidade, com sentimento.

[Philmore Greene] E fizeste um trabalho mesmo excelente, muito bom mesmo. Foi tão bom que quando o Apollo veio aqui e eu tive de levá-lo à minha zona, ao meu bairro, podíamos ter feito a rota turística, a cena cliché, mas não, nada disso, queria que ele experienciasse isto para que a música ganhasse outro significado, uma camada adicional, meio de proximidade com a sua interpretação de Chicago. Quis-lhe mostrar Chicago como eu a conheço e onde eu cresci. 

E, para vocês, quais são as maiores diferenças musicalmente entre Detroit e Chicago? É muito engraçado eu perguntar isto e sei que até podem não haver assim tantas para vocês, porque a distância entre as cidades parece pequena, mas do país de onde eu venho é quase como atravessar o país de uma ponta à outra [risos]… e há tantas diferenças na música, a nossa escala é mesmo diferente!

[Apollo Brown] Aqui como sabes também temos as nossas regiões, se vieres da Costa Oeste tens um som, da Costa Este outro, se vieres do Sul também, e por aí fora. Relativamente a Chicago e Detroit, acho que não existem assim grandes diferenças, aliás, até representamos a mesma região no país, portanto… mas olha, acho que temos uma grande… a nossa vista é mais bonita que a de Chicago [risos].

[Philmore Greene] Epá… tive-me que rir dessa Apollo, desculpa [risos]. Mas ouve, temos que trazer o ‘Los [alcunha para Carlos na zona deles] cá e deixar ele decidir qual é a melhor, mano, parece-me o mais justo. Mas agora a sério, nós somos de estados-primos, é praticamente a mesma coisa, se calhar na forma de vestir há uma coisa ou outra diferente, mas não há bem diferenças, somos o midwest, basicamente.



E por falar em regiões, do outro lado do país há um dos poucos convidados do álbum, directamente de Los Angeles, Evidence. Apollo, sei que trabalhaste anteriormente com ele, certo?

[Apollo Brown] O Evidence é o meu mano! Quando fizemos a “Paradise”, pensei logo nele para participar, a faixa atraiu-me para esse caminho, a cena dele assentava na perfeição, Mr. Slow Flow himself… Quando lhe mandei o que tínhamos ele até disse que não podia entrar porque sentia que a faixa estava feita, que sentia que estava boa sem a sua participação, e eu até concordei, porque não precisávamos de nenhumas features, o álbum estava bem assim, mas ele acabou por participar com a sua percepção de Los Angeles e ficou incrível mesmo, o Rashid Hadee foi também o outro convidado do projecto e gostámos da sua participação. Acaba por ser uma faixa mais lenta, suave, é engraçado que ao envelhecer o meu mood vai mudando e, consequentemente, os meus beats estão-se a tornar mais lentos também, os BPMs têm caído imenso nos últimos anos. 

Sobre a intro, “Consequences”, de quem é aquela voz?

[Apollo Brown] Eu sou um rei do soundbite, mano. São anos atrás de anos a coleccionar coisas desse género e depois vou usando nos projectos. 

É uma intro que abre e descreve na perfeição a paisagem do álbum.

[Apollo Brown] Verdade, acho que assenta muito bem também, define o tom, o mood do que fizemos. 

E relativamente à criação deste disco, como decorreu o trabalho entre vocês? Alguma pequena história interessante que gostassem de destacar?

[Apollo Brown] Bom, vou te dar a conhecer um bocadinho do Apollo… sou um gajo aborrecido, sem grandes histórias para contar e, mesmo se as tivesse, acho que não partilhava por respeito aos intervenientes. Em tour, então, sou mesmo aborrecido… para mim é hotel, show, vender merch, hotel para fazer Facetime com a minha família. Longe vão os tempos de loucura, festa, não sou rei da festa, não sou mesmo eu. Relativamente ao processo, foi mesmo uma jornada de conhecer melhor quem era o Phil enquanto pessoa, é isso que me interessa, conhecer bem quem também vai representar a minha “marca” e eu perceber a “marca” que vou representar do outro lado, sabes? Não vou querer trabalhar com malta cuja “marca” é totalmente fora da minha, se eu não me sentir em sintonia com essa pessoa, então não vai funcionar para mim. Eu também não sou um santo, não estou aqui a julgar ninguém, mas tenho os meus valores, a minha forma de ser e isso é mais importante para mim que qualquer outro interesse. Por exemplo, sei lá… não acho que vá trabalhar com alguém que apoie com unhas e dentes o Trump, ou algo nessa linha… acho difícil explicar, porque eu não sou uma pessoa julgadora, queres fazer X ou Y, ok, tudo bem, estás à vontade, mas, pronto, podem é haver alguns valores que eu não me consigo rever, e é incompatível para mim quando sinto que os ideais da outra pessoa estão muito desalinhados dos meus. Não vou criar música com alguém que tenha fama de racista só para fazer um bom dinheiro… nada disso, mano, não me vais ver nisso, aqui choco um bocado com a mentalidade americana do hip hop, de ser tudo sobre o hustle, o game, mas para mim não, a integridade está acima de tudo. 

[Philmore Greene] Para mim também foi um pouco esse processo de conhecer o Apollo, mas, imagina, há certas cenas sobre ele que encontras em segundos no Google, em artigos, notícias, páginas de Wikipédia, mas eu neste processo pude conhecê-lo mesmo enquanto pessoa, ali cara-a-cara, no seu estúdio pessoal. E, para além disso, eu estive a aprender. Aprendi o quão profissional, detalhado e dinâmico o Apollo é, tudo através deste processo. Por vezes há malta que tem um estereótipo do que é fazer um álbum e ir para estúdio, pensam que é muita festa, mulheres, enfim, aqui não, aqui foi mesmo business. 

[Apollo Brown] Exacto, há pessoas que têm esse estigma, mas comigo não, mano… eu sou um gajo aborrecido. Para mim é business, e sabes porquê? Tempo é dinheiro, entendes? As minhas sessões de estúdio não são uma data de gajos enfiados aqui a beber, a fumar, mulheres. Depois disso, tudo bem, faz o que te apetecer, mas não no meu estúdio… quanto muito posso convidar alguns artistas, se for caso, para me darem opiniões, estarem ali também meio como inspiração, mas de resto não. Para mim estar em estúdio é para trabalhar. 

[Philmore Greene] Nós fizemos 10 músicas em 6 horas, foi mesmo business. Estivemos trancados, eu tinha já tudo decorado, fui chegar a Detroit e trabalhar!

[Apollo Brown] A ética de trabalho do Phil é louca, mano, esquece, ele tem one takes neste álbum! 

A minha questão estava mais focada no próprio processo de fazer música, às vezes há episódios curiosos que acontecem em estúdio, gostavam de contar algum?

[Philmore Greene] Eu por acaso sou daqueles rappers que não é mega restritivo nas minhas letras, refrões, não torno o processo totalmente focado só em mim e nas minhas ideias, e aqui aconteceu isso com o Apollo. Isto é um trabalho colaborativo e, como tal, trabalhámos juntos, eu dei rimas ao Rashid Hadee, o Apollo deu-me dicas de como encaixar certas rimas, de qual deveria ser a minha delivery aqui ou ali, é um trabalho de duas pessoas e, mesmo por isso, colaborámos, o foco estava aí. Fizemos estes temas num bom período de tempo mas nada foi apressado, trabalhámos tudo de forma metódica, tivemos em conta a energia das minhas rimas, a velocidade a que se rimava, tudo isso foi revisto e debatido. Não sou um artista egoísta e “surdo”, trabalhei com o Apollo em todas as partes do meu rap, ouvi o que tinha para dizer, tudo em prol de termos o projecto mais polido e mais perto do perfeito possível. 

[Apollo Brown] Penso exactamente da mesma maneira, é um esforço colectivo. Se tu estás nas nossas sessões de estúdio então é porque tens valor e sentimos que podes dar algo mais à nossa arte e música, eu não sou um gajo de mente fechada, nada disso, se tens algo que sintas que é produtivo para dizer, então chuta, quero fazer a minha música soar o melhor possível, nunca vai ser perfeita, mas, bom, o que é perfeito? Mas eu também não trabalho com ninguém que precisa de babysitting [risos], o Philmore não precisa de mentoria, ele sabe o que está a fazer, é profissional. Não sou daqueles gajos que pede para ouvir rimas por chamadas telefónicas, a controlar o que o outro está a fazer, juro que odeio isso, não consigo suportar… até mesmo quando algum artista me liga e diz “ouve lá isto” eu não deixo, corto logo isso e digo para esperar até estarmos juntos em estúdio. Portanto, quando o Phil chegou aqui, foi tudo surpresa e novo, e essa é outra parte bonita de trabalhar cara-a-cara; em estúdio com a outra pessoa, tens a oportunidade de ouvir em primeira mão, e um gajo é todo-ouvidos quando a dinâmica é essa. O processo foi mesmo lindo aqui.

Também criaram merch para este projecto! CDs, vinis e até cassetes… para todos os gostos, algo que qualquer hip hop head gosta de ver, e tão rara que é hoje em dia.

[Apollo Brown] Realmente é diferente nos dias que correm devido aos tempos de produção: são 10 meses para manufacturar vinil, 4 para CDs… enfim, lançar todos os formatos no mesmo dia como fazíamos antigamente — aliás, até há 4 anos era assim –-, tudo tinha o mesmo dia de lançamento, mas agora… not anymore. Agora tens um dia para lançar digitalmente, outro para os CDs e vinis, se fizeres cassetes também vai ser outro dia, é mais difícil actualmente. Mas, pelos nossos fãs, vamos sempre ter edições físicas, tenho fãs pessoais que acho que me davam porrada senão fizesse vinis [risos] e, por isso mesmo, tentamos fazer CDs, vinis, até porque nem toda a gente conduz um carro moderno com tecnologia super actual e muitos ainda dão uso ao seu leitor de CDs, e preferem esse formato. E depois há sítios tipo a África do Sul, onde é CDs only, só consomem mesmo esse formato e como eles, há outros sítios onde CDs são o meio preferencial, é por isso que ainda os fazemos também. Relativamente às cassetes, mano, são um objeto de colecção para muita gente, compram-nas e nem as abrem, colocam só no seu armário de colecionáveis e pronto. Eu faço cassetes e esgotam em uma hora, são um item apetecível e que já é raro hoje em dia, há muita procura sempre. E, claro, o streaming é o meio primordial para maior parte das pessoas hoje em dia, demorei um bocado para ser adepto desse formato, e mesmo assim ainda não me sinto totalmente convencido, requer um consumo muito mais avultado do público para compensar realmente o esforço e trabalho ali metido, you don’t really get the bag for your buck. Nós tentamos distribuir o álbum em todos os formatos, sabemos o quão importante é para algumas pessoas.

[Philmore Greene] Muito importante, mesmo. Há pessoas que gostam de coleccionar, outras que gostam do contacto com a arte, de poderem ter um álbum assinado por mim e pelo Apollo comprado directamente das nossas mãos para depois mostrarem mais tarde a um filho e esse filho poder herdar isso dele. Também gosto eu de o ter por uma questão de ser dono daquele pedaço de arte, da minha linhagem futura poder um dia ver que o seu avô ou bisavô fez parte disto, criou esta música, entendes? Acho que há muita gente que tem edições físicas por uma questão de coleccionismo puro, muitos nem ouvem os trabalhos nesse formato. O merch agrega outra camada à própria música e a experiência de a consumir, é muito importante. Há uns dias estava a contar a um amigo que uma vez estava numa base militar, durante uma tour, com um hoodie branco, e boom, ali do nada um militar comprou-mo, era fã da minha cena, eu estava presente e, pronto, trinta dólares ali no momento. É bonito vermos o valor que algumas pessoas dão ao merch, realmente é uma camada adicional a toda esta arte de sermos um rapper, um artista.

E vendem para todo o mundo, certo?

[Apollo Brown] Claro, claro. Sempre que estou em tour também tenho edições físicas comigo, faço questão de o fazer.

[Philmore Greene] E na essência do trabalho tu acabas por fazer um bocadinho parte dele, portanto tens que comprar uma cópia para ti também ‘Los, vá [risos]. 

Vou guardar para quando vocês vierem cá a Portugal atuar, têm que cá vir…

[Apollo Brown] Realmente temos mesmo, há muito tempo que quero levar a minha mulher a Portugal, eu próprio também quero ir aí para tocar, para absorver um bocado o país. Tens que falar com os promotores daí para nos levarem aí [risos]. 

[Philmore Greene] Isso mesmo. Tens de lhes dizer que fazes parte do Cost Of Living e que precisas que o Phil e o Apollo venham a Portugal. Tem que acontecer, não nos importávamos nada! 


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