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Uma pequena entrada, estreita, de curtos passos, que nos conduzia para o amplo átrio — o começo de tudo. O azul e a espacialização desta luz em torno de nós, congelando a visão de forma monocromática nas grandes manchas luminosas. Ecoavam, ao longo de todo o armazém 8 Marvila, os graves das batidas eletrónicas que guiavam o público por um extenso hall de entrada, interminável, ou desejável de o ser, o primeiro fascínio, e a nave central do recinto, o palco aberto para a dança. Um local que nos recebe e permite-nos estar nele. Os nove focos de luz que compunham a sala em ritmo de golfinhos saltitantes, no fluxo das ondas em alto mar, e ao centro duas circunferências em perfeito limbo, assentes apenas num ponto em comum, na tangente, o cruzamento no infinito da sala e a visualização da Discotexas por completo. As escadarias em Escher e o cair de braços abertos sobre um sentimento que se perpetuava desde o início. O pé direito em altura máxima, e o cheiro da história por entre pipas de vinhos e licores.
A alegria de Da Chick em matiné, permitiu que a danceteria fosse aquecida e iluminada pelos vitrais que desenhavam o telhado. A tarde que se começava a compor e as pausas feitas no largo do Jardim. Esta liberdade num retângulo imenso, de nos deslocarmos por entre salas e locais abertos que permitiam um convívio mais calmo e um respirar de palavras. James Flower e Vallechi, agora em b2b e a divisão de um pré-escuta, explorando e abrindo caminho para Madd Rod, que remexia a pista em tempos certos, sempre em efervescência. O abano de um leque que se tornou rapidamente comunitário ou as rotações de uma ventoinha que foi abrigo seguro para muitos. A vibração das caixas sonoras e os cabelos soltos que precisavam de mais espaço, as luzes que se transmutavam entre si mesmas, num espetáculo ora de raios de sol, ora de nuvens agitadas que pairavam sobre o público. Os perfumes misturados e os goles de água que nos permitiam descansar durante alguns segundos, sem nunca perdendo o ritmo, de sets que deslizavam entre eles, os cinco sentidos bem apurados, numa linhagem que conseguiu ser mantida ao longo da festa, mas autêntica em cada músico, e Yulia Niko preservando a pista aberta e quente, com um cheirinho que flutuava de industrial a acid, passando pelos clássicos e mantendo-nos acordados — “I can’t get no sleep”, para o que viria a ser o aguardar marcado nos ponteiros do relógio, Xinobi & Moullinex. A ascensão no grande palco e autocolantes da Discotexas, que viriam a marcar os próximos dias sem sabermos, fossem ao peito colocados, ou, cuidadosamente, no porta malas afixados. Os passos de dança libertos, a abrirem espaço para podermos dançar acompanhados, festejando de braços entrelaçados os 16 anos que nos fazem ansiar por mais — 07 de outubro no Porto, Museu do Carro Elétrico — e relembrando memórias de todas as festas já passadas. As primeiras bodas, 10COTEXAS, celebradas com a Discotexas Band: Da Chick, Moullinex e Xinobi, no MusicBox em 2017.
A todo o trabalho conseguido e a toda a exploração que tem sido feita com artistas portugueses, e também estrangeiros, no trilho da música eletrónica. E a nostalgia de um tempo que pode ser também o nosso, de um modo pós-moderno — “Psycho Killer” — fez o público dançar como se fosse a última da noite, no seu modo francês, a elegância das luzes que pareciam ser mais intensas, no reflexo de um teto fluorescentemente luminoso que construía toda a campânula que nos cobria, com cores que demorávamos a assimilar, ora amarelo, branco, roxo, porém, sempre “AZUL“. E defronte destes dois músicos havia um único espaço, para o qual existiamos em simbiose, “Far Away Place“, terminando a noite em “feliz aniversário” coral.
Agora, a nossa vez de atuar, a vela de estrelinhas acendida com o fósforo interminável.
E a última fatia? Para todos nós.
Parabéns à Discotexas.
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