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Publicado a: 07/09/2017

Rincon Sapiência no Musicbox: Chegou o novo baile black

Publicado a: 07/09/2017

[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTOS] Sebastião Santana

Às 22h30, as portas do Musicbox abriam-se para deixar entrar os primeiros súbditos festivos do Manicongo. Timidamente, percebia-se: as onze badaladas deveriam fazer a festa acontecer e a cada minuto que passava o nervosismo dos espaços vazios engordava. DJ Mista Luba ajeitava os pratos e carregava no play 25 minutos depois da hora. A voz de um MC invisível soava pela casa que, a pouco e pouco, via o público chegar-se à frente em expectativa.

“A Coisa Tá Preta” e se assim o é, é porque está boa. “Se eu te falar que a coisa tá preta, a coisa tá boa, pode acreditar”. E foi. Rincon Sapiência chega a dançar para ocupar um trono vazio e, deste lado, começa-se a perceber que a ameaça de que um homem só basta para encher um palco estava muito perto de se tornar real. A faixa de abertura roda como uma espécie de manual de instruções para o que se avizinha: tem berimbau, tem ritmo afro, tem electrónica, tem sintetizadores e tem desafio. “É vitamina para a alma!”

 


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Rincon foi de poucas mas assertivas palavras. A satisfação de, depois de vários dias em tour pela Europa, se apresentar perante uma plateia plena de entendimento transparecia de forma clara e esse foi sempre o maior dos diálogos. “Estou muito feliz por ter encontrado vocês; me sinto em casa, finalmente, depois de alguns dias, existe um entendimento”, confessava depois de ter ensinado meia casa a sambar ao som de “Moça Namoradeira”. O Rincon tímido mas tremendamente sorridente entre músicas contrasta com o que varre um palco a dançar e, por duas vezes ao longo do espectáculo, deixa cair freestyles incisivos e desafia a interacção do público em cantos de resposta.

Bastou olhar por cima do ombro ao início de “Música Preta” para perceber que os ritmos do afro rap tinham começado a fazer o seu efeito de trazer os dançarinos da rua para a pista de dança. E sim, é bastante normal que, por esta altura, a pergunta surja: “Dançarinos? Mas este não é um concerto de hip hop?” É. Mas é também de música afro, de samba, de funk e trap. O ecletismo é notório na passagem do rap “Coisas de Brasil” para a contagiante “Festa no Gueto” – talvez um dos pontos altos da noite – com as suas aproximações ao ska jamaicano ou mesmo no boom bap de “Profissão Perigo” para o berimbau de capoeira em “Crime Bárbaro”. Se há coisa que sentimos com Rincon Sapiência é a materialização da teoria que nos diz que o rap é, realmente, o maior fruto da mistura.“Vocês adoram a festa! Ó bagunceiros!”, expressava entre risos, “repito! Um bando de bagunceiros!”

 


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“Ponta de Lança” estava na ponta da língua de uma sala que se tinha tornado pequena demais para tanta festa. Iríamos assistir ao encore antes de se declarar o fecho oficial; pelo menos na teoria, pois na realidade os efeitos secundários prolongaram-se durante pelo menos mais uma hora pós-concerto, ao som dos pratos enciclopédicos da música brasileira do DJ Mista Luba.

“Linhas de Soco” fechava a noite. Pela primeira vez, um rapper brasileiro trouxe o novo baile black ao Musicbox.

 


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