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Publicado a: 10/06/2018

A alternativa feminina no NOS Primavera Sound: a chuva, a sensualidade e… Kelsey Lu

Publicado a: 10/06/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro e Alexandra Oliveira Matos [FOTOS] Pedro Mkk

A chuva apareceu no último dia do NOS Primavera Sound 2018. Um percalço meteorológico que não melhorou a experiência de quem estava no público, mas que acabou por beneficiar a música de Kelela, artista que regressava a Portugal depois de uma passagem pela edição do ano passado do Super Bock Super Rock.

Completamente vestida de branco, a autora de Take Me Apart apresentou-se em palco com o DJ nas suas costas e mostrou-se surpreendida (e emocionada até) com a tremenda reacção das dezenas de pessoas que se encontravam nas primeiras filas. As coisas estavam a correr tão bem que a organização do festival permitiu que se tocassem mais duas músicas, “The High” e “Rewind”.

Em termos de performance, nada a apontar. Não se atira em grandes malabarismos vocais, mas também não se deixa engolir. O r&b menos convencional com alto patrocínio da lendária Warp é o som de fundo do exotismo lírico de Kelela. Que continue a chuva…

 



Surpreendente: podia ser simplesmente esta a palavra para comentar o concerto de Kelsey Lu. Porém, a performance solitária, mas tão preenchida da norte-americana merece mais, muito mais. No palco, uma mesa com um sampling pad e um pedal de loops, um vaso com estrelícias (as preferidas da cantora, revelou a própria) e uma garrafa de conhaque. Todo um setup que se tornou ainda mais rico quando Kelsey entrou vestida com um macacão volumoso em tule a fazer lembrar os enfeites dos santos populares. Na cabeça, um chapéu preto de penas e uma caixa de fruta que pousou em frente ao palco.

“Morning after coffee” foi a primeira canção. Tocou-a na guitarra. Notas simples que deixaram espaço ao balanço da voz enorme que tem. “A minha música não é linear, tal como a vida”, disse a certa altura. Sem violoncelo, que também toca, ia retirando os instrumentais do sampling pad ou usando a sua voz em belos ecos sem fim. Cantou “Shades of Blue”, single que lançou em Abril, e passou por todas as músicas de Church. Lançado em 2016, esse primeiro trabalho da artista foi gravado numa igreja — curiosidade que talvez explique o gosto evidente pela ressonância acústica.

Ao longe, ouvia-se o concerto do palco mais próximo, facto que não passou despercebido a Kelsey McJunkins. “Oiço algo a acontecer lá ao longe, mas o que importa está aqui à minha frente”, comentou. Os aplausos faziam frente à chuva que caía cada vez mais forte e os braços levantaram-se em direcção ao céu quando a cantora desfez o ramo e atirou as flores para o público, uma a uma. “O amor é que importa”, garantiu.

 



Antes de arrancarmos para ABRA, uma passagem rápida pelo Palco Primavera Bits, local onde Caroline Lethô, um dos nomes mais promissores da electrónica portuguesa, largou uma série de instrumentais com laivos de house e techno, géneros que servem um propósito muito simples: agitar o corpo e a mente.

Directamente de Atlanta, mais concretamente do quartel-general da Awful Records, a “Darkwave Duchess” não entrou bem na primeira vez que actuou em território português, mas foi crescendo com o passar do tempo, terminando com a sensação de dever cumprido.

A primeira metade do concerto foi um misto de emoções: sozinha, alienada e, demasiadas vezes, a dançar “outra” música. Apesar de interagir com o público, a cantora parecia deslocada e perdida no meio dos instrumentais musculados — r&b mergulhado em trap — que nos faziam bambolear o corpo. A voz, esse tão frágil, teve a maior importância para o desfecho: se começou tremida, terminou segura e confiante.

Solange, Syd (The Internet) e FKA twigs aparecem no ADN da artista, mas ainda falta qualquer coisa — provavelmente um acompanhamento sério de um produtor. Para acompanhar com atenção…

 



Tem 21 anos e é natural de Villassar de Mar, perto de Barcelona. Informações que, provavelmente, não fazem adivinhar o que é possível ouvir e ver de Bad Gyal. Por isso fomos descobrir quem é afinal a jovem que ficou conhecida com “Pai”, a reinterpretação que fez de “Work” de Rihanna há apenas dois anos.

Passava pouco da uma da manhã. O fim do NOS Primavera Sound aproximava-se a passos mais largos do que aqueles que conseguíamos dar em direcção ao palco Pitchfork, tal era o receio de cair na lama. Em palco entrou primeiro Pablo Martínez, ou FakeGuido (nome de produtor pelo qual é conhecido), para soltar o beat. Alba Farelo entrou logo de seguida a abanar os seus longos cabelos loiros e nem o microfone de rosto fazia adivinhar as coreografias e acrobacias que se seguiam.

“Tu moto”, de Worldwide Angel (2018) foi a primeira canção e o público começou de imediato a reagir. A ajuda preciosa do autotune deixam-nos na dúvida quanto às capacidades vocais de Alba. É tudo uma questão de estética ou estará a compensar alguma coisa? Seja como for, não podia cair melhor na mistura reggaeton, dancehall e trap que criou. Nocivo.

As bailarinas, sim, fazem lembrar os videoclipes de Sean Paul, por exemplo. Os movimentos assertivos dos braços e das pernas, o balanço certo e sexy das ancas ia sendo acompanhado pela Bad Gyal que também sabe dançar (e bem). Parecia um ritual, tal era a quantidade água que caía a cada música. As letras iam variando entre o inglês, o castelhano e o catalão, assim como as palavras que ia deixando ao público. As temáticas corriqueiras propiciavam o agitar de gabardines e chapéus de chuva (incluímos aqui todos os grandes esforços vislumbrados para imitar as duas bailarinas).

“Candela” e “Internationally” foram os momentos altos, mas a artista não deixou de passar por “Dinero” (música da mixtape Slow Wine). Estivesse o tempo seco e não nos teríamos demitido de um twerk. Fica para o próximo ano. Com menos chuva, se puder ser.

 


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