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Publicado a: 06/04/2017

Westway Lab Festival – Dia 1: fugir da grande cidade

Publicado a: 06/04/2017

[TEXTO] Manuel Rodrigues 

A chegada a Guimarães, berço que acolhe o Westway Lab Festival pelo quarto ano consecutivo, é motivo de choque imediato. Isto, claro, para quem vem de uma metrópole como Lisboa. Os tons acinzentados são substituídos por paisagens verdejantes que se fundem com o azul do céu num exercício de harmonia digno de um postal. A selva de betão enfraquece e deixa-se suplantar pelo carácter rústico das habitações. Os centros comerciais dão lugar a comércios de dimensão local, descartando os mamarrachos publicitários que encontramos a cada esquina da capital. A paz vence a agitação ao ponto de nos baralhar os sentidos claramente viciados nessa estranha adrenalina que nos regula o dia-a-dia. Stress é palavra que não encaixa em Guimarães, por isso, é bom que o cérebro se comece a habituar.

Check-in feito, baterias recarregadas, é tempo de ir até ao Café Concerto do Centro Cultural Vila Flor para assistir ao showcase das residências artísticas do Westway Lab. E o que são, efectivamente, estas residências? Em suma, um desafio lançado a artistas portugueses e estrangeiros para se fecharem durante dez dias numa espécie de laboratório experimental, o Centro Criativo de Candoso, e construírem uma mão cheia de temas para apresentar ao vivo no festival. A avaliar pelo resultado final, é possível concluir que estes músicos não andaram aqui a brincar. Comecemos pela junção Jaran e Yafeni. Pop bem executada, mergulhada numa base indie e rematada pela soul de Yafeni, que, por diversas vezes, evoca o legado incontornável de artistas como Beyoncé e FKA Twigs. As canções são eficazes na sua missão e despertam a curiosidade no público. “Como se chama essa música?”, pergunta, às páginas tantas, alguém na assistência. A resposta não se faz demorar: “Way Up”! Obrigado, Yafeni.

O segundo embrião destas residências artísticas mistura moléculas de Urso Bardo, um duo português de bateria e guitarra, e Buslav, um músico polaco que se expressa nos teclados, saxofone e voz. Rock arrastado, a fazer lembrar o pós-rock de bandas como Sigur Rós, Mogwai, Tortoise e Godspeed You! Black Emperor. Os teclados agridoces de Buslav encontram no espaço Café Concerto, pouco maior que o nosso conhecido Titanic Sur Mer e repleto de mesas e cadeiras para assegurar a comodidade dos presentes, o ambiente perfeito para se propagarem. Isto não é música para saltar nem para dançar, mas sim para sentar e sentir. Os aplausos fazem-se ouvir no final das canções e multiplicam-se à medida que o alinhamento avança, ganhando maior ênfase na recta final, altura em que Buslav investe num brilhante e inspirado solo de saxofone.

No exterior do Café Concerto encontramos uma rampa de relva que se ergue em direcção ao horizonte, servindo de miradouro sobre a cidade, a partir do qual vislumbramos o Paço dos Duques de Bragança – é nesta altura que nos damos conta que o céu de Guimarães, ao contrário do de Lisboa, é estrelado – incrível. No regresso ao interior damos de caras com os Mondanes, um colectivo de Gotemburgo, Suécia, que articula uma folk enérgica, inspirada nos anos 60 e nas bandas que ajudaram a esculpir todo um conjunto de texturas coloridas, alegres e expansivas. “Out of Sight” e “Garden Meadows” são duas das músicas interpretadas. Manter a grande cidade fora do alcance e abraçar a natureza, o verde e a liberdade: é isso que se quer.

Olá Guimarães.

 


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