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Publicado a: 14/11/2015

5 breaks clássicos para ouvir antes do Red Bull BC One

Publicado a: 14/11/2015

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

 

No princípio era o break, não o verbo. Antes do mc aparecer, foi o DJ que entendeu que era sobre o break que se poderia construir uma outra realidade. O break foi o big bang deste universo, a explosão primordial de onde tudo o resto nasceu. E a primeira consequência ditada pela descoberta efectuada pelo DJ de que duas cópias em vinil do mesmo disco poderiam ajudar a propagar o break até ao infinito foram, claro, os break boys, b-boys

Kool Herc trouxe da Jamaica a ideia de sound system, um sistema orgânico de cabos, tweeters, woofers, amplificadores, gira-discos, mas também de técnicos, diggers, toasters. Tecnologia, nem sempre usada para fazer aquilo para que tinha sido originalmente pensada, e recursos humanos, nem sempre os mais óbvios. E a coisa funcionava: em meados dos anos 70 o Bronx foi elevado átrio primordial de uma cultura nova, a palco de um original big bang de que ainda hoje sentimos as repercussões. O universo continua em expansão.

Depois de Herc vieram Afrika Bambaataa e Grandmaster Flash. Bam foi o primeiro master of records, o primeiro a codificar um conhecimento enciclopédico sobre breaks, o primeiro a criar as bases do que viria a ser conhecido como diggin’: a procura incessante da batida perfeita, impressa em vinil, pois claro. E depois veio Flash, que pegou na descoberta de Herc e no conhecimento de Bam e lhes injectou skill, musicalidade, a capacidade de rockar dois breaks com flow, musicalidade e sentido.

 

 

Já de seguida, cinco dos meus breaks favoritos. Cinco daqueles momentos a que nenhum b-boy resiste, cinco hinos do baterista à eternidade, cinco explosões de onde emanou poesia em movimento.

 


 

[JAMES BROWN] “Funky Drummer”

Boom-Boom-Bap!

Provavelmente, o mais emblemático de todos os breaks de bateria foi assinado por Clyde Stubblefield, quando, enquanto parte da secção rítmica de James Brown, assinou momentos históricos em temas como “Cold Sweat” ou, principalmente, “Funky Drummer”.

Concentrando-se no bombo, na tarola e no hi-hat, Clyde responde ao apelo de James Brown (“let’s give the drummer some…“) e, num longuíssimo break (que não é um solo…), inventa a música moderna, soando como se de um metrónomo humano se tratasse. O sofisticadíssimo desenho rítmico na tarola e a segurança do seu trabalho de pés no bombo e no pode ser encontrado em centenas de discos de hip hop ou, acelerado, como parte da revolução drum ‘n’ bass.

“Funky Drummer” é um disco de 1970. À época, James Brown usava os seus concertos ao vivo como o combustível da sua inspiração. Talvez para poupar dinheiro nas incontáveis horas de estúdio que uma banda pode queimar até estar “no ponto” para gravar, o Padrinho da Soul costumava terminar um espectáculo e levar imediatamente a sua banda para as imediações do gravador mais próximo. Nesses dias, a América profunda atravessava uma revolução da consciência. O Civil Rights Movement e as vozes aparentemente opostas de gente como Martin Luther King ou Malcolm X ainda ecoavam nas paredes das grandes cidades. James Brown era um músico no centro do turbilhão. Uma verdadeira estrela com uma visibilidade que interessava a todos os campos desse conturbado mapa político. Na segurança extrema dos seus músicos, o homem de “Sex Machine” reflectia a sua própria disciplina: uma disciplina de auto-afirmação, a única via que, segundo a sua opinião, poderia conduzir à elevação do Homem Negro.

E Stubblefield, naqueles segundos preciosos de “Funky Drummer”, quando toda a banda se remete ao silêncio e as peles tensas da sua bateria fazem vibrar o ar no estúdio, envia a todo o mundo uma mensagem: “Nós estamos aqui há muito tempo. Já construímos grandes civilizações. Durante 500 anos fomos oprimidos, violentados… Mas agora chegou, de novo, a nossa hora. Chega!” E na precisão sincopada daquele break lê-se a História de uma diáspora forçada, das terras quentes de um grande continente negro onde o tambor sempre transportou ideias até às margens de um Mundo Novo que durante séculos não soube reconhecer dignidade num povo. Um povo que nunca abandonou os seus tambores e que os usou ainda nas plantações para codificar ideias e reforçar laços de identidade. Que essas ideias sejam, décadas mais tarde, filtradas pelo processador de um sampler nas mãos de um jovem negro ou branco, na América ou na Europa, só vem reivindicar, de novo, a universalidade dessa vibração primordial. “A bateria,” dizia a canção, “é o instrumento mais importante.”*

* “The drums… the drums… the drums are the most important instrument…

(Excerto de texto de 2002 publicado originalmente na revista Op.)

 


 

[HERMAN KELLY & LIFE] “Dance To The Drummer’s Beat”

Tema de 1978, é um verdadeiro hino aos b-boys: vamos dançar ao ritmo do baterista, dizem os Life liderados por Herman Kelly. A partir de Miami, este tema estendeu-se para todo o planeta e onde quer que um quadrado de cartão se pudesse encaixar, o mais certo é que uma boombox nas proximidades debitasse este pedaço de funk com tempero latino.

 


 

[THE JACKSON 5] “Hum Along And Dance”

Poderosíssimo apelo à dança dos incríveis Jackson 5 de Michael Jackson. Este é um clássico da Motown de 1973 com assinatura de Barrett Strong e Norman Whitfield e arranjo de topo de James Carmichael. Tudo junto, isto dá um tema gigante.

 


 

[INCREDIBLE BONGO BAND] “Apache”

Mais um grande disco de 1973: como é que um “grupo” como o Incredible Bongo Band pega num tema dos Shadows e o transforma no maior hino do Planeta B-Boy é uma história incrível. E como todas as histórias incríveis até já deu um filme, de título Sample This! que aborda precisamente o impacto que o tema alcançou com o passar dos anos e a estranha história (Charles Manson?…) em torno do disco e dos músicos que o criaram.

 


 

[RARE EARTH] “I Just Want To Celebrate”

Os Rare Earth eram uma banda de rock, com inclinações hard até, mas igualmente funkys até ao tutano. Deram até nome a uma label especializada da Motown onde se encaixaram uma série de propostas com mais electricidade. Foi um dos primeiros  de sete polegadas que descobri no terreno, há muitos, muitos anos, na feira da ladra. E desde então compro normalmente todas as cópias que encontro para ir distribuindo por amigos. É um tema de celebração afinal de contas. E com uma força demolidora. Querem destruir uma pista? Este é o explosivo tema certo para isso!

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