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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/11/2022

Uma estreia a meio-gás.

YUNGMORPHEUS na ZDB: pouca música, muito amor

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/11/2022

Real recognise real. Foi isto que o hip hop nos ensinou ao longo de toda a sua história. E é algo que facilmente podemos aplicar a outras vertentes. Antes de se tornar no que se tornou, John Coltrane foi sideman de Miles Davis, por exemplo. Neste caso, YUNGMORPHEUS (ainda) não é propriamente aquele nome que temos imediatamente debaixo da nossa língua, mas pertence a um universo que nos é muito familiar, em grande parte graças às colaborações que travou com gente como Pink Siifu, Fly Anakin, Fousheé, Joe Armon-Jones, Obijuan ou Goya Gumbani. No caso do autor de NEGRO — que também se estreou no nosso país este ano — chegou mesmo a dividir um álbum inteiro com ele ainda antes deste “rebentar” pelas páginas da crítica mundial especializada. E esse Bag Talk até foi recentemente reeditado e apetrechado com mais uma dezena de faixas. Mesmo a calhar.

Quem cresceu a ler os créditos de todos os discos com que se apaixona sabe do que se trata todo este jogo de ligações e, mais cedo ou mais tarde, certo nome há-de fazer soar um alarme. Quando YUNGMORPHEUS foi anunciado para a Galeria Zé dos Bois, assumimos prontamente a missão de conhecer mais de perto o homem que ia suceder a Navy Blue, Fly Anakin e Injury Reserve na linha da programação orientada para o rap protagonizada pela ZDB este ano, toda ela acompanhada por este que vos escreve. Sabíamos que o talento estava lá e que, possivelmente, apenas faltava um clique para que o rapper e produtor ficasse definitivamente marcado na nossa memória com algo que é só seu.

Chegámos pouco antes da hora marcada — o concerto estava escalado para as 22 horas — e a ZDB era quase que como um deserto numa noite de quinta-feira que ameaçava com chuva a qualquer momento. Entre tão poucas pessoas, facilmente detectámos um diálogo que estava a decorrer em inglês. YUNGMORPHEUS estava mesmo à saída do bar, a falar descontraídamente com uma senhora e com quem mais se fosse lá meter com ele, bem disposto. A proximidade entre o artista e o palco naquele momento era, no entanto, enganadora, já que o concerto só começou para lá das 22h40, quando o número de cabeças ali presentes já era mais animador para quem tem de actuar.

“Tenho de ter cuidado”, dizia YUNGMORPHEUS enquanto entrava em cena e se dirigia ao computador para iniciar o seu one man show, ao mesmo tempo que dava curtos tragos de um copo que anunciou conter aguardente. Enquanto nos perguntávamos se poderia ter trazido alguém para o ajudar, uma brisa de sopros de jazz marcava oficialmente o início da actuação. “Gosto de começar todos os concertos assim, com uma cena descontraída de jazz ou soul”, avisou antes de pegar pela primeira vez no microfone para preencher um beat mais melódico do que rítmico. Mas apressou-se a passar para um estilo de rap mais incisivo. “Sei que é disso que vocês gostam”, atirou.

Escutámos instrumentais de Ohbliv e Theravada, num alinhamento maioritariamente composto por “cenas que ainda não saíram”, conforme revelou o artista — uma delas era “The Price of Convenience”, dos EP que tinha lançado nessa manhã, Burnished Sums. O resumo podia ser maior, mas ainda nem sequer tínhamos aquecido quando o rapper anunciou que ia interpretar a última faixa da noite — pouco passava das 23 horas. Saiu do palco, mas toda a gente se deixou ficar na plateia, ainda na expectativa de um encore que não aconteceu.

Por mero acaso desabafámos com um funcionário sobre o quão curto o espetáculo tinha sido e foi-nos dito que YUNGMORPHEUS perdeu a sua mala no voo — actuou com um portátil emprestado, recorrendo apenas a alguns instrumentais que conseguira recuperar pela cloud. Sempre com aquele “soube a pouco” presente no pensamento, a porta entreaberta que dá acesso ao backstage levou-nos a arriscar espreitar. Quase não foi preciso pedir. A t-shirt alusiva a NEGRO que assentava neste corpo fez com que YUNGMORPHEUS puxasse da câmera do telemóvel — “o Pink Siifu vai gostar que eu lhe envie esta foto”, disse. Trocámos algumas impressões — soubemos que gostou da comida portuguesa e aprendemos que Obijuan se lê “Obi-Wan”, como o jedi de Star Wars — antes de lhe desejarmos melhor sorte para uma próxima. “Vou querer voltar”, garantiu-nos.


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