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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/12/2022

Direcção e visão.

Tigran Hamasyan: “O projecto que vou apresentar em Portugal foi muito envolvente e importante para mim”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/12/2022

Tigran Hamasyan prepara-se para dupla apresentação em Portugal: o reputado pianista arménio toca já no dia 5, segunda-feira, na Casa da Música e, no dia seguinte, terça-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. O ponto de partida para a viagem musical que apresenta em Portugal será The Call Within, um álbum complexo que o próprio músico e compositor explicou, em anterior entrevista ao Rimas e Batidas, ser muito diferente daquilo a que o mais convencional mundo do jazz está habituado: “Honestamente, desde que Mockroot saiu em 2015, as pessoas começaram a dizer-me que muitas bandas de rock progressivo estavam a mencionar a minha música nas suas entrevistas. Bandas como Animals as Leaders, Periphery”, justificou Tigran. “E ainda que o rock não me fosse completamente estranho, a verdade é que nunca tinha escutado estas bandas até descobrir que elas estavam a ouvir a minha música. Mas isso deixa-me contente, por ter a atenção dessa cena, porque muitas vezes sinto que há mais apreço pela minha música vinda do mundo não-jazz do que o contrário — eu nunca sou falado na Downbeat ou o que quer que seja. Sinto que estou quase sempre fora da caixa do mundo do jazz”.

E para provar que estar fora da caixa não é necessariamente algo de negativo, Tigran apresenta em data dupla um disco que cruza mundos, que oferece inúmeras possibilidades de encantamento e sobre o qual por aqui se escreveram as seguintes linhas: “Sim, The Call Within pode ser escutado com metrónomo, lápis e caderno de notas ao lado. Pode ainda ser apreciado com o corpo a tentar encontrar o lugar nos grooves matematicamente avançados que nos propõe. Mas também tem matéria para o espírito, produto natural de um artista que se inspira na poesia, na contemplação dos mapas e nas lendas que o folclore cristão e pré-cristão da Arménia resguardou como sinais fundos de identidade”.



Da última vez que falámos estava em casa, ainda longe dos palcos. Neste momento, por onde anda?

Estou no Luxemburgo. Vou tocar aqui esta noite.

Quando falámos, preparava o lançamento de StandArt, mas disse-me que o álbum que ia apresentar nestas duas datas em Portugal seria The Call Within. Também é esse projecto que tem andado a tocar no resto da digressão?

Apresento o The Call Within numa pequena digressão em Dezembro. São duas datas em Portugal e duas na Bélgica. Mas eu vim dos Estados Unidos da América e lá andava a tocar o StandArt. São dois projectos diferentes.

Como é que isso funciona? Tem de mudar alguma coisa, o “chip”? Porque há diferenças entre ambos os projectos no que à abordagem musical diz respeito, certo?

Sim. Eu diria que é uma coisa natural, até porque a música é muito diferente de um projecto para o outro. Só tens de garantir que tens a mentalidade correcta e que ensaias bem, de acordo com aquilo que cada um dos projectos requer. Mas um ajuda o outro. O processo de composição para o projecto que vou apresentar em Portugal foi muito envolvente e importante. Eu tive de pensar a direcção exacta que as coisas iam seguir, tive de ter visão para a parte da improvisação. No StandArt foi ao contrário, teve muita improvisação e criação espontânea. São projectos que se completam um ao outro, mas é claro que para isso é preciso ter a mentalidade certa.

Disse-me que apenas apresenta o The Call Within em quatro datas — duas em Portugal e duas na Bélgica. Há quanto tempo não toca esta música?

Não há muito tempo. Tivemos algumas algumas datas para a tocar este ano aqui e ali. A minha grande digressão foi nos EUA e terminou em Junho. Desde então que vamos tendo algumas outras datas pela Europa.

Vai trazer consigo o Arthur Hnatek e o Evan Marien?

O Arthur vai estar na bateria. O baixista será outro, que me tem acompanhado na maior parte das datas.

A parte rítmica desse disco é muito importante. Quando estava a compor os temas, já tinha em mente o Arthur para a bateria?

Sim. Quer dizer, há temas que foram escritos há muitos anos, ainda eu não conhecia o Arthur [risos]. A “Vortex”, por exemplo, escrevi-a quando estava no secundário, com 17 anos. Não a escrevi toda na altura, mas a parte principal da melodia e do baixo estava lá. Há temas que se têm vindo a desenvolver ao longo dos tempos. Só um ano antes do disco sair é que eu soube que ia tocar aquelas canções ao lado do Arthur e do Evan. Andei a limar as arestas a consolidar tudo aquilo tendo em conta os músicos que tinha em mente. Quando soube que o Arthur ia tocar, tratei de todos esses detalhes já a pensar nele.

Tenciona voltar a fazer mais projectos com eles os dois?

Eu adoraria.

Está nos seus planos para 2023?

Em 2023 já tenho um projecto muito grande em vista. Só vai sair no início de 2024, mas vou andar ocupado com isso. Não posso adiantar muito sobre ele, apenas digo que é o projecto com a maior dimensão que eu alguma vez fiz. Estou mesmo muito entusiasmado com isso e tenho pena de ainda não poder partilhar mais detalhes sobre o que se trata. Mas vem aí algo!

Eu vou estar atento e certamente que vamos poder falar sobre isso mais à frente, quando tudo se materializar. Na outra entrevista que me concedeu, estava em casa e notava-se que aquele era realmente o seu habitat natural. A vida na estrada traz alguns imprevistos e é por isso que hoje está a falar-me a partir do foyer de um hotel. Como é que lida com essas coisas?

Faço tudo para me manter são. Tenho de organizar o meu foco. Quando estou na estrada, tenho sempre as coisas muito organizadas. Mas é sempre exaustivo. Eu já tenho de me preparar para o concerto, tenho de me deslocar para o local e tenho de tocar. Mas ainda tenho de fazer todas estas outras coisas que já não têm nada a ver com aquela noite em particular. É algo que tem de se fazer e é um desafio. Eu já estou habituado.

Não pude deixar de reparar no belo modelo de auscultadores que traz consigo. Durante estas pausas entre concertos, também aproveita para estar no seu quarto de hotel a compor mais música?

Ultimamente não. Se eu for mais cedo praticar antes do soundcheck, sim. Mas, na maior parte das vezes, tento não me cansar demasiado. Pratico as coisas que tenho de tocar naquela noite e tento não cansar demasiado a cabeça.

Tem de trazer um livro da próxima vez. Estás a ler alguma coisa?

Estou sim. Estou a ler um livro da Marie-Louise von Franz. Ela fez uma análise profunda a alguns contos de fadas para falar sobre consciência colectiva, mitos-

Arquétipos?

Isso. Tenho andado a lê-la e tem sido muito interessante.


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