pub

Publicado a: 10/06/2017

Sampha no NOS Primavera Sound: A personificação da ansiedade

Publicado a: 10/06/2017

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Hugo Lima

O último dia do NOS Primavera Sound começou com Sampha, um canta-tristezas que consegue melhor que ninguém transmitir o sentimento de chegarmos ao final de uma relação feliz – neste caso com o festival nortenho – , emanando aquela nostalgia que nos dá vontade de regressarmos a um passado que não pode ser repetido. Demasiado lamechas para começar?

Do cantor britânico, não se espera mais do que uma sensação de intimidade e solidariedade. É impossível ouvi-lo e não sentirmos todo o mal/bem que ele canta. É uma dádiva. No entanto, o homem que adora o piano da casa da mãe não é um frontman expansivo ou arrebatador. O palco Super Bock recebeu uma autêntica enchente para acarinhá-lo, mas sentiu-se, a espaços, que estava deslocado, notando-se que ali existe alguém que se sente mais confortável em locais mais solitários.

 


shampa_copyright_hugo_lima_006


Para abrir, Sampha, acompanhado por três excelentes músicos, atirou-se a “Timmy’s Prayer”, canção que foi co-escrita por Kanye West. A competência não se questiona, mas percebemos imediatamente que existe uma voz que funciona melhor dentro de quatro paredes do que num palco. A peculiaridade do timbre foi (e é) um trunfo que torna tudo melhor, mas a solo? Falta um qualquer “molho”. Picante para a mesa do artista de Londres, se faz favor.

“Too Much”, um dos temas mais incríveis que Drake teve a gentileza de mostrar a todo o mundo em Nothing Was The Same, sampla uma faixa de Sampha com o mesmo título. Se a versão de estúdio é incrível, é impossível não ficarmos rendidos quando a ouvimos ao vivo – os casais à nossa volta começaram a aconchegar-se, um sinal claro de que estava a resultar. Foi aqui que nos deu vontade de gritar algo como: “Deixem-no sozinho com um piano, pelo amor de Deus”.

Posto isto, queremos deixar uma ressalva: o trio que o acompanhou não deixou o concerto cair e esteve sempre pronto a puxar para cima uma actuação demasiado morna. Não existem culpados. Um fast forward para destacarmos o momento em que os quatro membros se juntaram à volta de um kit de bateria, que continha ornamentos especiais, e deslumbraram com uma sessão rítmica de alta velocidade.

Depois de apresentar alguns temas do muito antecipado disco de estreia, o final trouxe “Blood On Me”, música com letra intensa e um dos melhores refrões criados pelo artista britânico, e “(No One Knows Me) Like the Piano”, a pérola mais cintilante do alinhamento. Dedos no teclado e voz no céu. Todos queremos voltar para os braços das nossas mães, o piano é só uma desculpa que o Sampha arranjou para fazê-lo. O que é que ele tem a mais que nós? Uma maneira de o (d)escrever. E cantar, claro. E fá-lo para o mundo, mesmo que todos possam ver o quão deslocado ele está.

 


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos