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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/06/2023

O som antes do colapso.

#ReBPlaylist: Maio 2023

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/06/2023

É o dinheiro que os juros não esticam, as comissões de inquérito que não terminam, uma inflação cuja descida mal se nota e há pneus de certos modelos de automóvel que parecem ter os dias contados. A vida não ’tá fácil no plano económico-social e, para nós, prevêem-se até dificuldades acrescidas do ponto-de-vista laboral. É que o Primavera Sound Porto arranca já amanhã e vai meter-nos a trabalhar sob chuva durante quatro dias, por isso convém começar já a fazer figas para que a coisa não meta água também no sentido figurado.

Se o cenário soa catastrófico? Talvez. Mas já dizia o mestre Nélson Cavaquinho na sua própria avaliação ao “Juízo Final“: “O Sol há de brilhar mais uma vez / A luz há de chegar aos corações”. Fé no batuque e nada temam, que há aqui mais uma dose de cinco canções cuidadosamente seleccionadas pela equipa do ReB, numa espécie de banda-sonora anti-Óscar não oficial.


[Baby Keem & Kendrick Lamar] “”The Hillbillies

A um dia de voltar a agraciar a Invicta com a sua presença no Primavera Sound Porto 2023, Kendrick Lamar está de volta com um novo tema. “The Hillbillies” é a mais recente colaboração do artista de Compton com Baby Keem (que actua um par de horas antes no mesmo palco do primo mais velho), um tema descontraído e sem grande alvoroço que ganha instantaneamente a nossa atenção sem nunca o pedir explicitamente.

Há um antes e um depois de Mr. Morale & The Big Steppers, e Lamar evidencia-o neste novo tema. Embarca num flex ao seu estilo, simples e eficaz (“I don’t buy much, I buy land, bro”), espalhafatoso na sua onda recatada, provando que a catarse terapêutica que antecedeu esse projecto desbloqueou no artista um à-vontade para discutir a sua opulência. Os refrões são brincalhões e transmitem um espírito de freestyle, mas sente-se um foco de quem já trabalha há muito tempo em melodias apetecíveis. Esses hooks espelham o beat metálico, frenético e dançável, movido ao som de um sample de “PDLIF” de Bon Iver, notando-se uma química incontornável entre Keem e Lamar, que se alimentam irmamente da energia um do outro. 

As referências aos futebolistas Lionel Messi e Neymar Jr estão nas letras, mas sentem-se na troca de palavras. “The Hillbillies” é como um livre directo que parece um penálti; ou um passe em desmarcação que pensávamos só ser possível na Playstation; um tiki-taka caloroso entre dois artistas que fazem o difícil surgir como que sem esforço.  E que gosto dá ver estes dois rappers jogar. 

— Miguel Santos


[Berlok] “Maskrinha”

Berlok é o produtor cabo-verdiano radicado em Portugal que se deu a conhecer com o estrondoso beat de “Pé Ratxadu“, do álbum Badiu (2021), de Dino D’Santiago. Essa reinvenção da tradição cabo-verdiana e mistura com sons electrónicos ou próximos do hip hop transitou para o seu primeiro trabalho em nome próprio, Terra Terra, editado neste mês de Maio. O resultado é um disco vanguardista e agitado, tanto repleto de melodias e ritmos tradicionais como de sons graves e robustos, que tanto podem funcionar na pista de dança de um clube como em qualquer convívio caseiro de qualidade. “Maskrinha” é um dos temas instrumentais do disco que melhor espelham o potencial de Berlok — os beats soam autênticos sem estarem crus, estão no ponto certo; sendo que o álbum inclui colaborações com Dino D’Santiago, ÉLLÀH, Alberto Koenig, Ritxa Kursha, CESF e as Batukadeiras d’Bragança. Uma estreia auspiciosa para um produtor que pode ter muito para dar.

— Ricardo Farinha


[Prisão Platão] “Melodia Mordomia”

Os Prisão Platão são de Lisboa mas soam como se tivessem surgido do caldeirão do rock portuense da segunda metade da década de 90. Acham que estamos a mentir? Pois bem: escutem esta “Melodia Mordomia”, o segundo single da banda. 

“Melodia Mordomia” soa como se as bandas favoritas dos Prisão Platão na adolescência fossem os Ornatos Violeta e os Clã; e é provável que seja verdade. Groove que vai buscar toques ao funk, guitarradas que gritam “Peixe!”, melodias que podiam muito bem estar presentes num deep cut adorado dos Clã. Dos anos 90 para 2023. E soa bem! Tudo certo, dizemos nós. Ide escutar. Não se vão arrepender.

— Miguel Rocha


 

[Jack Harlow] “They Don’t Love It”

A novidade já remonta ao mês passado do mês passado, mas o — até ver — único vídeo saído do novo disco de Jack Harlow, editado em Abril, chegou-nos já no primeiro dia de Maio. “They Don’t Love It” é a segunda de dez faixas de Jackman., o mais recente trabalho do rapper de Louisville, Kentucky. E é precisamente de volta a casa que o autor do insosso (e não é a primeira vez que lhe acusamos a falta de sal…) Come Home The Kids Miss You nos mostra, finalmente, que consegue ter pulso firme do princípio ao fim de um projecto.

“I been smooth for so long, I’m tryna get rough / Fuck buffin’ my nails, dawg, I’m tryna get buff” estabelece logo à entrada o tom do curta-duração que se estende por pouco mais de uns surpreendentemente proveitosos 20 minutos — foi preciso chegar ao topo para cair com estrondo e voltar a erguer-se já calejado. Irónico é que o MC se insurja contra a opinião pública ao longo de um álbum largamente mais bem-conseguido do que todos os seus anteriores, quando foi exactamente essa opinião pública desfavorável à sua causa que o fez tirar o melhor partido de si próprio. Não é uma questão de não gostarmos de ti, Jack, até porque o papel de pinga-amor irresistível desde cedo te assentou à medida. Simplesmente sabíamos que eras capaz de bem mais do que mostraste num álbum que prometia tanto — pelo menos para este miúdo condescendente dos subúrbios que cresceu para se tornar jornalista de rap.

— Paulo Pena


[SQÜRL] “The End of the World”

Big tech companies vendem-nos a ideia de que precisamos de “realidade aumentada” ou que o futuro passa mesmo por viver a vida no plano digital, num “metaverso” qualquer. O dinheiro é cada vez menos palpável — double pun intended — e, foda-se, até nos impingem bens materiais feitos de 0’s e 1’s que apenas nos pertencem dentro de um determinado domínio na esfera da World Wide Web. A existência dentro de uma máquina não fascina, mas cá fora anda tudo louco e o planeta já não parece o mesmo local seguro de há 5 anos atrás. Estamos perante “The End of the World” e os SQÜRL, de Jim Jarmusch e Carter Logan, fazem-nos ver um cenário não muito distante no tempo vindouro através de um rock doomer, imersivo e de combustão lenta, que mais parece uma densa neblina de gás tóxico capaz de fazer apodrecer quaisquer sonhos cor-de-rosa que possam pairar pelas nossas cabeças. O tema integra uma película sónica não mais esperançosa e intitulada Silve Haze, que levou a dupla novamente ao catálogo da Sacred Bones Records e veio munida de participações por parte de Marc Ribot, Charlotte Gainsbourg e Anika.

— Gonçalo Oliveira

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