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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/06/2019

Denzel Curry, Ângela Polícia, Luedji Luna & DJ Nyack, Rosalía e SebastiAn nas escolhas de Maio.

#ReBPlaylist: Maio 2019

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/06/2019

Já estamos quase a meio de Junho, mas a música que se lançou no mês passado ainda não saiu da nossa cabeça. Aqui, os enérgicos Denzel Curry e Ângela Polícia aumentam a potência, as “swingadas” Luedji Luna e Rosalía gerem o balanço e o sádico SebastiAn dá a estocada final.


[Denzel Curry] “RICKY”

“First they mockin’, now they hoppin’”, barras fanfarronas que podiam ser retiradas de uma miríade de músicas de puro braggadocio. Mas mal estalam os pratos e de rompante entra uma voz aguda e potente percebemos que é o inconfundível Denzel Curry ao leme desta caminhada. Mas “RICKY” — nome do pai de Curry, que dá título ao tema — nunca pára muito tempo na mesma era. É uma corrida e uma fugaz revisão da matéria passada pelos seus progenitores e de como culminaram esses conselhos e ensinamentos, exemplificado através da voz grave que em jeito de consciência descreve a (merecida) gabarolice de Curry.

“RICKY” surgiu como a primeira prova do novo álbum do rapper nativo de Carol City, Flórida, e não podíamos ter pedido melhor presságio. Auxiliado por uma melodia sonante, urgente e sempre presente, em pouco mais de dois minutos Curry mostra-se destemido e resoluto, com uma atitude ameaçadora para aqueles que enfrenta e aliciante para os que estão no seu lado do ringue. Na primeira parte da música, refere os conselhos da mãe e os avisos do pai, o “olha que faz frio, leva um casaco!” destilado numa explosão avassaladora. Na segunda estrofe, rumamos ao passado do artista através de um flow disparado e sentimentos nostálgicos, relembrando os seus primórdios no mundo do hip hop e de como o pai foi uma parte muito importante dessa etapa. A família é sagrada para Curry, seja a de sangue ou a encontrada no seu percurso, Raider Klan, colectivo a que pertenceu antes de se aventurar por uma carreira a solo e que honra em “RICKY”. Quem disse que um banger não pode incutir valores familiares?

– Miguel Santos


[Ângela Polícia] “Flex!”

A jogar em inúmeras frentes em simultâneo, Fernando Fernandes regressou com o seu projecto a solo, Ângela Polícia, em “Flex!”, o primeiro single do seu segundo álbum. Apùtece-me! será o sucessor de Pruridades, um dos discos nacionais de maior destaque por cá em 2017, no Rimas e Batidas, e é esperado nas plataformas digitais durante este mês de Junho.

Depois de ter contado com a preciosa ajuda de Razat no seu LP de estreia, o versátil MC e cantor minhoto recorreu aos dotes de Pesca para chegar à batida do tema que antecipa a chegada de Apùtece-me!, produtor de mão-cheia que tem percorrido caminhos tão distintos como os do hip hop e do techno, pupilo e digno sucessor do eterno guerreiro da cena bass nacional e fundador da Crate Records.

Apesar de passar despercebido para a grande maioria do público, Pesca tem vindo a trabalhar com alguns nomes da elite do underground português como Tilt ou L-ALI, tendo mesmo assinado o maior hit da carreira do rapper que agora veste as cores da Superbad.

Era por isso necessário que alguém voltasse a equacionar o nome de Pedro Cravo para a produção dos seus temas, mantendo assim elevada a fasquia da pluralidade de sons que o nosso modesto movimento hip hop alberga. Crítico e interventivo, faceta punk que tão bem lhe reconhecemos desde o lançamento de Pruridades, Ângela Polícia deu o mote para a colaboração, ao qual Pesca respondeu irrepreensivelmente com um dubstep nefasto que faz ruir qualquer Babilónia que teime em ignorar a arte que se vai praticando abaixo do seu solo.

– Gonçalo Oliveira


[Luedji Luna & DJ Nyack] “Acalanto – Remix” 

É difícil a tarefa de escolher uma única música deste Mundo, o novíssimo EP de Luedji Luna e de DJ Nyack, para ilustrar aquela que é uma das criações mais interessantes a chegar do Brasil em Maio. Nyack serve o canto popular afro-brasileiro de Luedji Luna com importantes doses de jazz, r&b e electrónica, para além da óbvia aproximação ao rap, na remistura de cinco faixas de Corpo No Mundo (2017), trabalho de estreia que valeu já vários prémios à cantora baiana. Em “Acalanto”, faixa que abre o EP e a única sem participações num álbum em que se ouvem também Rincon Sapiência, Tássia Reis, Stefanie, Djonga, Plim e Zudizilla, Nyack abdica das cordas e da percussão para envolver o timbre quente da baiana no Rhodes e sintetizador de Samuel “Samjazzy” Silva e na guitarra e baixo de Vinicius Sampaio, criando uma faixa digna de qualquer clube de jazz de topo à escala global.

Luedji Luna actua a 11 de Julho no B.Leza e a 19 de Julho no Festival de Músicas do Mundo.

– Núria R. Pinto


[Rosalía] “Aute Cuture”

Depois de aplaudirmos a super-estrela catalã no NOS Primavera Sound, voltamos ao seu último banger para nos adoçar os ouvidos: “Aute Cuture” reescreve a expressão francesa que designa o mundo da inacessível alta costura que alimenta páginas e páginas de publicidade das revistas mais glossy do universo e incendeia a imaginação de milhões de pessoas que não se chamam Rihanna ou que não fazem parte dos Migos. E reescreve “haute couture” com um esgar de sarcasmo, pois claro, piscando o olho à Louis Vuitton que na Feira de Carcavelos ou nas Ramblas de Barcelona bem poderá ter uma mais simplificada designação, Luis Vitton, provando que deixando cair um par de letras é possível também deixar cair uns quantos zeros no preço satisfazendo a fantasia de quem vive no mundo real dos subúrbios operários e dos ordenados de três dígitos.

Há também, parecem dizer-nos Rosalía e El Guincho, que volta a assegurar a produção, uma dose de contrafacção nesta música, que vem de Espanha, mas não é bem latina, que é pop, mas está longe de ser descartável, que parece leve, mas tem mais substância do que parece. Como já acontecia com “Con Altura”, outro banger de recorte dembow que assinou ao lado da também estrela desta edição no NOS Primavera Sound J Balvin, Rosalía parece neste pós-El Mal Quererquerer posicionar-se firmemente na esfera da elite pop internacional, mas com os seus próprios argumentos, recusando-se a ceder terreno a fórmulas americanas, acenando furiosamente com a sua identidade catalã na cara de tudo e de todos.

Neste momento, Rosalía representa a vanguarda, porque vai de facto à frente, a desbravar um novo caminho que poderá ser benéfico até para artistas nacionais, daqueles que não temam soar diferentes, abusar do sotaque do seu bairro e sejam capazes de fazer coisas arrojadas com rendas de bilros, versões electrónicas do malhão e cadências inspiradas pela ondulação da nossa costa. Vai Rosalía, que nós vamos atrás.

– Rui Miguel Abreu


[SebastiAn] “Thirst”

Que bom reavivar a memória do design sonoro de SebastiAn, que lança cada tecla como um papel a ser amolgado e esmurra ritmicamente o pano de fundo, para onde empurra as vozes — nesta nova “Thirst”, um sample tortuoso de Endless, o evasivo “semi”-álbum de Frank Ocean — com um prazer que só se pode adivinhar sádico. Gostando tanto disto, seremos nós os freaksmaso, então?

“Run for Me”, o mais recente single com que o produtor francês nos brindou, traz o portentoso Gallant para nos guiar por águas relativamente dóceis. É, contudo, “Thirst” que oferece o tipo de assalto aural que nos faz sentir vivos, uma fragmentação de puro deleite e desorientação. Sendo só musical, este tipo de ataque sensorial ainda oferece alguma segurança; qualquer trepidação hostil podemos trocar por vibração corpórea.

Não há, pois, que recear um prolongamento audiovisual… isto é, antes de saber que é Gaspar Noé o seu responsável. Nem era preciso que nos dissessem: um segundo e já o vídeo exibe disparos agressivos de cor, antes de ensanguentar um homem pelo seu comportamento abusivo na pista de dança. Uma cena eliminada de Irreversible, talvez? (Por favor não.) Para aqueles de nós que se tentam abster da barulhenta agonia em tecnicolor que é a filmografia de Noé, é quase uma afronta quanto sentido faz o seu emparelhamento com SebastiAn. É um duplo pontapé nas vísceras — como se um só não bastasse — e os olhares e os punhos também cortam. Algum masoquismo nunca magoou (muito) ninguém.

– Pedro João Santos

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