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Texto: ReB Team
Fotografia: ldx.photographie
Publicado a: 04/05/2020

Uma alternativa à realidade.

#ReBPlaylist: Abril 2020

Texto: ReB Team
Fotografia: ldx.photographie
Publicado a: 04/05/2020

Há mar e mar, há ir e ficar. Em casa. Recuperando e adaptando a frase, da autoria de Alexandre O’Neill, elevada a provérbio, damos o mote para as escolhas que pontuaram as playlists para o segundo mês de confinamento. Temos quem queira pensar sobre a arte e os seus deveres e direitos, temos quem proponha criar a banda sonora para os piores momentos da humanidade e temos quem simplesmente queira expressar-se sem grande premissa por trás. Façam proveito de tudo — ou daquilo que vos apetecer mais neste momento…


[Quelle Chris & Chris Keys] “MIRAGE” feat. Earl Sweatshirt, Denmark Vessey, Merrill Garbus & Big Sen

A entrada é feita por Quelle Chris, o protagonista de Innocent Country 2, auxiliado por Chris Keys, que arromba a porta de saída para entrar na faixa com a deixa “stepped out like Scooby-Doo and the gang”. “MIRAGE” foi o último avanço antes do segundo capítulo desta saga ser disponibilizado na íntegra, contando, neste episódio em particular, com a participação de Earl Sweatshirt, Denmark Vessey, Merrill Garbus e Big Sen. Porém, a miragem, desta vez, está onde mais se espera: um conjunto de versos do autor de FEET OF CLAY é sempre motivo para beliscar o braço, seja para confirmar a realidade dos acontecimentos, seja para sentir a própria pele arrepiada. Mas cada ilusão a seu tempo. Voltemos ao início.

Cassete a rodar e acordes do órgão em loop marcam o início desta longa viagem de apenas sete minutos. Quelle Chris segue ao volante sob as indicações de Chris Keys e acompanhado por Earl Sweatshirt, o co-piloto ao longo da faixa, dos coros e da viagem. No banco de trás estão Denmark Vessey, que a certa altura contribui com a sua perspectiva acerca do caminho que estão a levar; Merrill Garbus a preencher os silêncios através da voz que alimenta o carro; o sábio Big Sen, de olhos fixados na paisagem a correr pelo vidro, a ligar os pontos que motivaram esta jornada, em tom de ensinamento paternal – “(…) people don’t know what to do, so we make our art and art is beautiful. But art is also the truth”.

Ainda assim, mesmo depois de um sentido testemunho declamado no último terço da canção, os versos de Earl são os que mais marcam, agarram e impacto têm. Para aqueles que acompanham este rapper desde os áureos tempos dos Odd Future, o poder das suas rimas não é novidade. No entanto, por incrível que pareça, o protagonista de obras como Doris, I don’t like shit, I don’t go outside e Some Rap Songs é ainda capaz de nos surpreender como nunca. Desarma-nos, logo a princípio, ao atirar “I thought I saw a fountain/ I thought I saw me on the other side of the see-saw mounted”. E a partir daqui é a rendição ao artista, enquanto o mesmo balança entre o instrumental e os seus pensamentos. A escrita de Earl desde sempre fascinou os que viram nele a mágoa de quem a traduz na sua música. Mas ao contrário da carga desconfortável sobre a qual nos habituámos a vê-lo escrutinar-se a si próprio, em “MIRAGE” a sua abordagem quebra qualquer distanciamento emocional que ainda o afastava de nós. Culpem Chris Keys pelo fascínio que ajudou a provocar face a essa mágoa tão habitual em Earl Sweatshirt. É aqui que a conclusão de Big Sen ganha ainda mais sentido: “(…) art is beautiful. But art is also the truth”. “MIRAGE” é arte. Mas a miragem também pode ser verdade. E é isso que nos fascina – “the lie what did the damage”.

– Paulo Pena


[7777 の天使] “Celestial Decay”

O segundo lançamento do duo português 7777 の天使, projecto que junta as melodias celestiais de Swan Palace e a agressividade rítmica de DRVGジ, continua no caminho traçado pela sua estreia, Ski Mask Angels, na exploração de música hardcore com alta carga emocional, criando um equilíbrio entre batidas frenéticas e violentas e melodias introspetivas que se distingue daquilo que os seus pares estão a fazer.

Bruised Grills Eternal Tears, lançado pela editora berlinense Soul Feeder, acentua o grupo como um dos poucos projectos de witch house em Portugal actualmente. Repescando este género que atingira o seu pico no início da década de 2010, a dupla adicionou-lhe o gabber, o noise, o industrial, e uma estética renascentista que acrescenta uma camada teológica às músicas, criando retratos detalhados e violentos num ambiente trágico e escuro, como se de um desastre celestial se tratasse, sempre na dualidade entre a pureza melódica e sujidade rítmica. A música de 7777 の天使 consegue retratar a queda do monte Olimpo, a traição de Lúcifer, a chegada do Apocalipse e das tragédias que caem sobre quem não as espera.

O pináculo da violência emocional deste disco dá-se em Celestial Decay. Utilizando uns poderosos coros roubados a António Pinto Vargas e samples do filme japonês Love Exposure, os músicos oferecem uma densidade emocional ao ritmo gabber que não é fácil de atingir. O equilíbrio entre os vários elementos encontra-se perfeito, correndo todos para o mesmo propósito, sem conflitos internos por mais agressivo que seja o ruído nos nossos ouvidos. A dança que esta música cria no nosso corpo é acima de tudo catártica, como se cada movimento nos fizesse libertar uma energia que não sabíamos bem ter, da qual estávamos desconectados, à medida que encontramos as melancólicas e épicas melodias no meio de todo o ruído que nos drena a energia dos ouvidos. Em apenas três minutos ficamos exaustos e a precisar de uma pausa para um cigarro. Depois, é voltar a ouvir.

– Francisco Couto


[Amnesia Scanner] “AS Going” feat. LYZZA

Ainda não havia pandemia, já as narrativas apocalípticas explodiam em todas as nossas redes, fosse porque o Trump estava prestes a começar uma guerra, fosse porque as gerações mais velhas nos deixaram um farrapo de planeta à beira do colapso em vez de um ecossistema equilibrado — mas o tema, independentemente da origem, era o mesmo: o fim dos tempos.

Poucos produtores reflectem o agora com a crueza a que os Amnesia Scanner nos habituaram, ora com jogos de memes, ora com polinização genérica cruzada e filtrada, com o seu som harmónica e ritmicamente disforme, mas com texturas coerentes. A expansão da dupla filandesa sediada em Berlim continuou, desta feita com o foco do novo longa-duração, Tearless, numa sociedade no limite dos tempos e, nem por acaso, anunciado em tempos de novo coronavirus. O novo single, “AS Going”, com a brasileira radicada na Europa LYZZA a assumir as vozes, mais ou menos manipuladas, determina uma direcção insinuada em Another Life, de ritmos menos europeizados e americanizados e de latitudes mais quentes. Contudo, a julgar pela presença na lista de convidados, junto a LYZZA e à artista peruana Lalita, dos putos que andam a virar o metalcore do avesso, Code Orange, não é só de cumbias e funks que se vai fazer o disco. Venha o fim do mundo, desde que processado pelos stacks de software dos Amnesia Scanner.

– André Forte


[Arianna Casellas] “pt II”

Editado pelo selo Discos de Platão, Concepto de Madre é o EP de estreia de Arianna Casellas, venezuelana a viver em Portugal. A artista usa a sua voz, um cuatro e algum processamento de som para contar a vida itinerante que leva, resgatar personagens da infância e escrutinar a relação com a sua voz, com as suas memórias, com a sua mãe. Arianna escrutina muito, e é com essa intelectualização que consegue oferecer um objecto muito pessoal.

O trabalho está dividido em duas partes, onde junta e cola canções com narrações autobiográficas. A estrutura não é a mais convidativa, mas é mergulhando nela que nos deparamos com o encantamento de “Eu descobri que tenho algum medo à escuridão” (09:25, “pt. 1”) ou “Casa é dentro-Eu sabia” (07:45, “pt. 2”).

Este EP é a fotografia de uma pessoa constantemente à procura de algo. Regista a sua tentativa de comunicar (Arianna  alterna entre espanhol e português como se fossem uma língua só), a sua vontade de cantar e a ausência presente da mãe. “É estranho, parece estar tudo congelado no tempo”, diz a certa altura, referindo-se a uma memória sua, mas podia estar a referir ao próprio EP.

Arianna Casellas vai e volta: de Caracas para a Costa do Valado, para o Porto e de volta a Caracas, sempre ao colo da sua infância. Ela “só queria ter um quintal” (12:30, “pt. 1”), um sítio onde pousar a cabeça. É uma estrada longa a que a Arianna está a percorrer. Até lá chegar, fica a música.

– Gonçalo Tavares


[Assafrão] “APL”

A Rádio Quântica já nos aproxima com os seus programas diários. Com esta edição, Post Rave Effects, mostrou-nos João Craveiro — também conhecido como Assafrão — a abordar uma pista de dança que abraça tanto o breakbeat como o four-to-the-floor e os pads nostálgicos do house mais sonhador. A música de dança é muito mais do que o seu propósito nocturno (e funcional) de ditar os nossos movimentos, é também um veículo para nos juntarmos em momentos nos quais não nos podemos aproximar fisicamente. Embora o lado B deste EP, “Rave Come Down” seja a verdadeira ode à cultura rave, à música electrónica e à partilha entre os amantes deste meio — com sampling de testemunhos desse ambient e da vida hedonística por trás desta música –, “APL” destaca-se por ser um registo mais singular neste trabalho de Assafrão. As saudades de dançar (fora de casa, claro) apertam e as variações da batida, que se vai complicando de maneira catártica com o desenrolar da música, são um elemento cativante, entre samples e teclados que glorificam estes Post Rave Effects. Próximo de alguma música electrónica emocional e introspectiva que Silvestre lançou também como DJ Paulo, ou de alguns trabalhos da No, She Doesn’t, por exemplo, “APL” é a ressaca que temos sentido numa espera que ainda se irá prolongar sabe-se lá até quando.

– Vasco Completo


[Riça] “Napoleão Precário”

Muito se fala do storytelling como um dos aspectos mais interessantes do hip hop, e por Portugal nomes como Valete ou Sam The Kid foram e continuam a ser imprescindíveis nessa discussão. “Serial Killer” ou “16-12-95” são alguns exemplos de como esses autores usaram a sua plataforma musical para discutir temas importantes numa história com batida. Actualmente, essa vertente do rap continua viva, e o mais recente exemplo surge através de Riça e do tema “Napoleão Precário”.

Ao longo de 11 minutos, o rapper nortenho discursa sobre um Porto moderno numa espécie de ponto de situação da gentrificação da cidade que não pode sair à rua sem ser importunada por milhares. Há ouro a descobrir neste novo capítulo da Invicta e o mineiro que seguimos é um estafeta da Uber Eats, um Napoleão precário à conquista da próxima gorjeta. Neste caso, Riça conta a história de uma encomenda aliciante que se sobrepõe a tudo o resto. Pelo meio existem alguns momentos cómicos, referências a vários marcos do Porto e críticas pungentes ao status quo da cidade.

Mas não é só das palavras de Riça que vive esta música, é também da sua destreza na produção. Auxiliado por uma guitarra arranhada de Chuaga e um baixo marcado de Ricardo Martins, o artista cria um instrumental que se adequa perfeitamente à progressão da música. Uma bateria fresca e efervescente garante que não se perde o andamento e as teclas são versáteis para soar tanto a ironia melancólica no refrão declarativo como algo jocoso nas estrofes que avançam a história. A batida nunca nos distrai do que é dito e acentua as palavras de Riça, brincalhão e poético quando há espaço para isso e sério e contemplativo quando a letra assim o exige.

Esta atenção ao detalhe a nível instrumental atinge o seu auge na última estrofe da música, em que sentimos a urgência que conduz ao desfecho trágico. Há uma perfeita sintonia entre as duas partes que compõem “Napoleão Precário” e o tema prova (mais uma vez) que o storytellingcontinua a ser um dos pontos definitivos do hip hop e a sua progressão está em excelentes mãos.

– Miguel Santos


[Zeroh] “Invaluable”

“Culture is a baby” — é esta a expressão que ouvimos nos primeiros segundos de BLQLYTE. Que é como quem nos sussurra ao ouvido um “nada do que ouviste até agora irá ser replicado aqui”. O desafio que Zeroh nos lança é, portanto, fácil. Não precisamos de fingir esquecer o sem número de flows que já ouvimos ou aquela técnica-chave popularizada pelo nosso sound designer favorito. Há tanto, mas tanto por explorar, que basta optar por um novo trilho para que uma obra seja apenas igual a si mesma.

E o caminho inexplorado é aquele que ainda está às escuras. Os seis anos que demorou a delinear o seu álbum de estreia pela Leaving Records sentem-se na voz e na produção do enigmático Edwin Liddie Jr.. BLQLYTE emula um trajecto de grau de dificuldade máximo: ouvimo-lo quase que a rastejar e prestes a perder as forças à procura do próximo checkpoint, a apalpar as paredes de uma sala escura na tentativa de achar a porta para o nível seguinte ou a esbarrar contra um qualquer obstáculo, que tanto pode passar pela habitual frustração de quem ainda está a desenvolver a sua primeira assinatura ou os altos muros impostos pela indústria discográfica, sentidos especialmente por aqueles cujo talento não pode ser catalogado de imediato e colocado numa caixinha bonita para enviar para as lojas. Alguns desses obstáculos, Zeroh trepa-os com um esforço penoso, outros são facilmente contornáveis. Mas há também daqueles em que mais vale não fazer “nada” para os ultrapassar: encontrado o problema, debate-se sobre o mesmo depois de apertar o rec e dá-se meia volta para procurar a sorte noutro lado.

Altos e baixos que, à escala do rapper e produtor de Los Angeles, diferem bastante das dos demais É por isso um acto quase heróico, saber quando já se bateu no fundo e ainda assim conseguir tirar partido disso para um pedaço de arte. E “Invaluable” é, sem dúvida, um desses momentos de lucidez no caos que é BLQLYTE. Uma atmosfera demasiadamente tensa mesmo para quem acabou de se levantar da cama, ainda de barriga vazia e sabendo de antemão que o dia não lhe reserva nada de esplêndido. Só que Zeroh tem a mente clareada o suficiente para tirar proveito da situação e, mesmo que nem ele acredite nisso, todos sabemos que um retrato, se assinado pela mão certa, pode dar uma tela de inegável valor.

– Gonçalo Oliveira


[Ravyn Lenae] “Rewind”

Boa carne, fracos ossos. “Rewind”, single de uma banda sonora, revela a margem de erro de Ravyn Lenae – mas isso é algo que exista, sequer?

Poderão ter tropeçado no seu nome graças ao perfeito Crush, curta-duração de 2018 produzido por Steve Lacy. O mini-êxito foi “Sticky”, naquele talhe que o guitarrista criou só com guitarra, bateria e um iPhone. Funk de ninfa, pop tórrida, r&b elástico: sabores num EP à prova de bala, cantado com um primor que é filho de D’Angelo e Minnie Riperton. Não tentou sintetizar as aprendizagens dos discos anteriores, deixadas a repousar no lúcido e saltitante Moon Shoes, e no meditativo e sensual Midnight Moonlight.

No novo tema, Lenae ignora grande parte do que já fez, a ponto de parecer um reset. Com produção de Monte Booker e de Phoelix (ambos de Chicago), a malha de guitarra pisca o olho ao r&b contemporâneo – sobranceira, porque se sabe mais complexa, puxada como uma corrente de bicicleta. As frequências mais agudas confundem o chilrear de pássaros com um atendedor de chamadas. Só é pena que não roube aos seus concorrentes mais mainstream um par de melodias mais sólido (“Man”, de JoJo, ganharia este confronto).

É no instrumental e na harmonização vocal que “Rewind” marca pontos. Fora disso, sobra-lhe apenas um esquisso de canção – ainda assim, corpulento o suficiente para entrar na rotação cerebral de quem a experimente. Talvez antes de editar o já concluído primeiro álbum, a artista esteja a livrar-se das canções meramente boas. Que luxo é ser-se Ravyn Lenae…

– Pedro João Santos


[Run The Jewels] “Ooh LA LA” feat. Greg Nice & DJ Premier

Tootsie Slide” é fixe e tal e todos precisamos de dançar a dada altura da nossa vida (ou do nosso dia), mas o rap ainda é (também…) acerca de agitar mentes, ainda lhe compete agarrar-nos pelo colarinho (mesmo os azuis…) e agitar-nos e fazer-nos pensar. Ou simplesmente proporcionar aquela faísca que acende a fogueira. A da indignação, por exemplo.

Antes que o nosso confinamento tivesse começado, e a caminho de RTJ4, os “manos” Killer Mike e El-P imaginaram “Ooh La La”, tema que vive de um clássico sample de “DWYCK” dosGang Starr com Nice & Smooth, como a banda sonora de uma revolução a que deram um vídeo à altura, com pilhas de notas e de cartões de crédito a arderem na fogueira de uma mudança drástica que poderia acontecer até, a julgar pelo vídeo, já depois de amanhã. Greg Nice é convocado para a tradução visual deste banger, tal como Zack de la Rocha, outro agitador que sempre procurou revoltar-se contra a máquina do capital. Sobre beat marcial de DJ Premier, que também dá um ar da sua imensa graça no clip, os Run The Jewels elevam a fasquia para um novo álbum que deverá cair neste estranho 2020 como um piano em cima da cabeça de alguém que vá desprevenido a passear-se na rua. Se é para sermos todos esmagados, que seja por algo assim!

– Rui Miguel Abreu


[EU.CLIDES] “Terra Mãe”

Da varanda de uma casa sem localização clara, EU.CLIDES canta-nos “Terra Mãe”, título que serve como representação de uma liberdade que parece vir agarrada a uma espécie de recontextualização da letra (que é assinada por TOTA) de “Traz Outro Amigo Também“, tema de Zeca Afonso. Neste seu primeiro single, o artista assume-se como compositor de gosto requintado, começando pelo cruzamento de um dedilhado de guitarra (que nos remete para “Shape Of My Heart“) com um arranjo simples mas elegante de trompete e terminando na forma como coloca estrategicamente os drums e a voz a servir a canção, não necessitando de recorrer a artimanhas ou a virtuosismos bacocos para se destacar. Uma lição de bem fazer que terá ainda beneficiado da mistura e masterização de Sassa Nascimento, engenheiro que acumula créditos em discos de ProfJam, Richie Campbell, Mishlawi, Agir ou HMB. Bela estreia que ficará em repeat por aqui nos próximos tempos.

– Alexandre Ribeiro

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