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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 02/05/2019

X-Tense, Lizzo, Tierra Whack, Keso x Luca Argel, ScHoolboy Q, Carly Rae Jepsen e Anderson .Paak nas escolhas de Abril.

#ReBPlaylist: Abril 2019

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 02/05/2019

Independentemente do género (musical ou sexual), o talento nacional e internacional reúne-se aqui, em grupo, uma vez por mês. Nesta fornada, a equipa ReB dança boleros, gangsta raps e outras tantas coisas que se incluem no nosso vasto universo.


[X-Tense] “Bolero”

Escrever um bolero não é coisa que qualquer artista português faça com facilidade. Mas e se o apimentássemos com algum rap e sentido de humor? É isso mesmo que se passa no novo tema de X-Tense, rapper que continua a firmar créditos mesmo depois de “ter queimado o nome em tudo o que era label que já pisou”.

“Bolero” é o segundo episódio de Pablo, o alter-ego que encara como uma série que ainda vai na primeira temporada, e que é também uma excelente forma de aproveitar a vaga de música latina que se tem imposto um pouco por todo o lado. X-Tense procura experimentar sem forçar e trouxe rimas fortes a acompanhar sobre um tópico que só ele conhece tão bem — o seu próprio percurso.

Parece-me justo dizer que este é um dos mais versáteis rappers do país e que, mais cedo ou mais tarde, terá o reconhecimento popular que merece. Não há-de faltar muito…

– João Daniel Marques


[Lizzo] “Like a Girl”

Não há propriamente palavras para descrever Lizzo: é uma explosão de confiança, mas aliada a vulnerabilidades passadas; é um poço de atitude acompanhado por vários temperamentos. Ela é a pessoa que nos passa a erva numa festa, mas quem se assegura de que estamos bem no final da noite. Lizzo é a melhor amiga que não sabíamos de que precisávamos, mas que sempre esteve cá para nos ajudar. Este álbum de estreia mostra essencialmente estas transições: não é unicamente uma coisa, mas a mistura de várias emoções desorganizadas, confusas e com as hormonas aos saltos.

“Like a Girl” é um bom reflexo: uma manifestação de vários géneros cheia de atitude e auto-confiança, que nos dá ao mesmo tempo mais uma razão para saírmos da cama logo pela manhã. “Woke up feelin’ like I just might run for President/ Even if there ain’t no precedent”, canta. Há hoje em dia uma saturação de canções que apelam à auto-construção a entupir as rádios, mas este single de ‘Cuz I Love You salienta-se pela sua autenticidade das suas palavras e do seu corpo. Tudo foi vivido em primeira mão por Lizzo, o que nos dá uma sensação de alívio. “I’m about to add a little estrogen”: é precisamente o que queremos mais.

– Miguel Alexandre


[Tierra Whack] “Unemployed”

Há uma carreira na música à espera de Tierra Whack. A rapper de Filadélfia tem estado activa nesta primeira metade de 2019 e no último lançamento soltou as garras para avisar a competição de que não será fácil colocarem-se no meio do seu trajecto. No The Cosign, rubrica da Genius, a veterana Remy Ma aprovou a nova sensação do rap norte-americano: “Ela está a rimar a sério… Eu gosto dela. Faz-me lembrar a era em que eu cresci, em que as pessoas estavam mesmo a fazer vídeos, tinham um conceito.”

Embora os números de visualizações que apresenta estejam longe de ser impressionantes, o conteúdo artístico apresentado por Tierra Whack vai certamente dar-lhe um lugar entre os mais importantes casos musicais da sua geração. “Mumbo Jumbo”, o seu primeiro tema de sempre no YouTube, ficou entre os nomeados para Melhor Videoclipe na última edição dos GRAMMYs, sem registar sequer com um milhão de reproduções na plataforma digital. Whack World, o álbum visual que lançou no ano passado, deu a conhecer a versatilidade de Tierra enquanto performer, mostrou que não há, neste momento, ninguém que lhe consiga fazer frente no capítulo visual e mudou as regras do “jogo”: com cada um dos seus temas/vídeos a durar exactamente um minuto,Whack World foi ainda o primeiro álbum de sempre a ser lançado integralmente no Instagram.

Depois de ter sido destacada enquanto a nova artista “Up Next” pela Beats 1 Radio, a rapper luta agora por um lugar entre a anual turma de caloiros da XXL. E sem grande esforço, já que, puxando pelas péssimas memórias dos últimos anos, Tierra Whack está bastantes furos acima do artista standard que encara a Freshman como um passeio no parque. O freestyle que assinou em Novembro para a Hot 97 — nem Funk Flex conseguiu explicar bem o que se passou durante aqueles três minutos — é exactamente o tipo de ingrediente em falta nas mais recentes edições da rubrica da XXL.

Posto isto, nem deveria ser necessário ir à procura de mais motivos para oferecer um lugar ao sol a Tierra Whack, e a própria sabe disso. Como é que um produto genial da geração Internet explica à frente de uma câmara que merece um maior destaque do que aquele que os seus números explicam, depois de tudo o que por aqui já enumerámos? Com um minuto de ASMR a devorar deselegantemente um pacote de batatas fritas. Não metam à prova quem já mostrou ser o real deal.

– Gonçalo Oliveira


[Keso x Luca Argel] “Peito banguela”

Keso é enorme e pouco importa que os views que acumula não tenham directa correspondência com a verdadeira escala do seu talento. A única métrica que lhe faz plena justiça é a que mede a quantidade de pêlos que se eriçam nos nossos braços quando se escuta cada nova peça que assina. A mais recente mostra-o, mas pouco. Esconde-se na sombra da sua MPC, resguarda-se na performance dos músicos convocados para “Peito banguela” e contenta-se a reorientar os focos para Luca Argel, o cantor brasileiro com que é cúmplice neste pequeno crime de que ninguém se importa de ser vítima. A canção não chega aos três minutos, mas sobra no céu da nossa boca que quando damos por ela já se junta em harmonia a Argel, cantando “carregou tudo com ela, menos minha dentadura”. Keso, de sorriso tranquilo, abana certamente a cabeça enquanto a tarola vai lembrando ao nosso coração que também precisa de bater. É um primeiro passo para algo maior e isso tem que nos deixar felizes. Keso não rima, mas Luca diz-nos tudo o que precisamos de saber: “se a boca ainda se segura, o peito ficou banguela”.

– Rui Miguel Abreu


[ScHoolboy Q] “Lies” feat. Ty Dolla $ign & YG

“AUTOMATIC CAR BANGER!!!”, lê-se na caixa de comentários de “Lies” no YouTube. Uma leitura acertada deste tema que tem o bounce infeccioso da Costa Oeste e participações dos assertivos Ty Dolla $ign e YG, sem esquecer Hykeem Carter e Sounwave, produtores de serviço que, de propósito ou não, acabaram por fazer uma espécie de versão gourmet de “Thotiana” de Blueface.

Metam-se num carro, imaginem que estão na Califórnia e subam o volume: é o ScHoolboy Q, baby!

– Alexandre Ribeiro


[Carly Rae Jepsen] “Julien”

Longe do coração do subterrâneo, a pop demora a canibalizar a música mais vital de um período corrente. (Salvo algumas excepções: as Sugababes conseguiram um dos seus primeiros êxitos ao cantar a três um bootleg de Richard X que juntava “Freak Like Me” de Adina Howard ao instrumental de “Are Friends Electric?” de Gary Numan). Usar o top 40 para sondar a parcela musical do zeitgeist significa muitas vezes contentarmo-nos com uma cultura sonora em diferido — mas oferece outras recompensas: uma cultura sonora reimaginada.

É neste cômputo que se encaixa o french touch reapropriado por grandes mulheres, já pós-febre dos anos 90, com produtos insuportavelmente brilhantes. Em Confessions on a Dance Floor, Madonna jogou com o vapor electrónico de “Get Together” e as partes mais oníricas de “Hung Up”; isto foi 2005. Em 2001, o house francês atingia um pico de saturação em Discovery, esse subvalorizado ópus dos Daft Punk; é engraçado imaginar Kylie Minogue a ouvi-lo e pensar “não é tarde nem é cedo”, ao preparar o que se tornaria o seu disco mais estético e minimalista. Fever, lançado em Outubro desse ano, é um claro produto dessa era, que passa por descarnar esse som num filtro de pop deliciosamente grudenta — a grande “Love at First Sight”, dizia-o Hunter Felt do PopMatters, era essencialmente uma versão reescrita (talvez melhor) de “Digital Love”, de Homem-Cristo e Bangalter.

Carly Rae Jepsen não é nova no negócio de refazer motivos sónicos de outrora, mas costuma ser mais ambígua nas referências: o clássico Emotion, a que se presta culto ardente desde 2015, é todo ele caixas de ritmos e drama noctívago; imprime uma fotografia retocada e suavizada dos anos 80, tão sugestiva de Bananarama como de Tears for Fears. O seu novo álbum, Dedicated, vai abrir com “Julien”: atentem no que vem antes do refrão final, e não estarão muito longe da parte equivalente em “Digital Love”, a submersão do vocoder a contar palavras dóceis a alguém distante, antes de rebentar. No mesmo momento para o tema de Jepsen — que resgata gloriosamente a elegância circular do toque francês — tudo se suspende, tudo orbita num plano galáctico, distante, antes de voltar em grande. Esses são bons intervalos para apreciar o quanto algumas pedras-de-toque, algumas épocas continuam vivas na memória coletiva da pop — talvez subconscientemente — em vez de lhe diagnosticar uma retro-doença.

Dentro da obra de Jepsen, “Julien” é uma novidade: celebra-se um amor imortal num invólucro tão elegante quanto infinitamente sumarento e bestial. É também uma forma de tirarmos o cavalinho da chuva quanto à estagnação criativa de Jepsen, que já desertou o top 40 há algum tempo, mas continua a fazer pop universal. Não é a Björk da pop, tudo bem, mas Dedicatedaponta num caminho estilístico que lhe é inaudito, às vezes espástico (“Now That I Found You” e “Party for One”) e outras vezes mais grogue (este single e “No Drug Like Me”). A cada pequena metamorfose, continuamos a tê-la como paladina de melodias e pormenores que fazem do nosso córtex auditivo cobertor e almofada. E não é esse um dos melhores confortos?

– Pedro João Santos


[Anderson .Paak] “Come Home” feat. Andre 3000

Para um artista versátil e imprevisível como Anderson .Paak, às vezes torna-se difícil reconhecer padrões e aspectos que se repetem ao longo dos seus vários projectos musicais. Mas algo que se tem verificado desde o seu segundo álbum Malibu é a qualidade das potentes músicas que nos introduzem aos diferentes álbuns. O artista nascido Brandon Paak Anderson parece ter encontrado uma fórmula de sucesso para o ponto de partida dos seus discos e “Come Home”, a música que nos dás as boas-vindas ao recente Ventura, volta a demonstrá-lo com frescura e brio.

A virtude deste tema está em canalizar a energia sonora de tempos passados, trazendo-a para este século com profissionalismo e atenção ao detalhe. O deslizar grave de um baixo inicia a música — e o álbum — fazendo-se acompanhar por um coro angelical e uma flauta transversal, num início que nos remete à gloriosa soul dos anos 70 e a músicas como “Walk on By”, especialmente a versão do ícone Isaac Hayes. Mas enquanto que esse tema é mais de tranquilidade, “Come Home” é um clamar sentido de um coração que anseia para ser reunido com o seu amor. Ouvimos na voz de .Paak o seu desejo profundo, os seus agudos arranhados garantem-nos que não vai arredar pé enquanto não tiver aquilo que anseia.

Mas no final, .Paak surpreende o ouvinte ao acrescentar a esta música de sonoridade vintage o calor do hip hop, o género mais relevante da música popular actual, através de um verso absolutamente exímio de André 3000. O rapper de Atlanta e membro do grupo OutKast entra a matar e mostra que, passadas mais de duas décadas desde o primeiro trabalho do duo, a sua caneta continua quente e as suas palavras mais afiadas do que nunca. A variedade de flows, jogos de palavras e referências são demasiados para referir, mas são definitivamente mais uma prova do talento enorme deste artista, terminando assim mais uma excelente introdução de um projecto de Anderson .Paak.

– Miguel Santos

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