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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[UEST. x Jackie] “Tropa D’elite” (feat. nastyfactor)
À partida, um encontro entre UEST. e nastyfactor não seria a colaboração mais provável de antever, mas essa é a parte divertida de estar deste lado à espera do que é inesperado. Já a presença de Beiro, ainda que não revelada no título, é de maior probabilidade e prevista ao lado do rapper do Porto. Porém, ainda há Jackie pelo meio a retrocar as voltas na produção e a contribuir para um tema com pontos de avanço no factor surpresa. Está reunida a “Tropa D’elite”.
[REAL GUNS] “ILEGAL”
Não é a primeira vez que o dizemos, mas não há como fugir dessa impressão cada vez que REAL GUNS canta novas palavras (mesmo que a mensagem não seja assim tão diferente): há nessas mesmas palavras uma dose bruta de REALidade que, no caso deste mensageiro, o mantém até ao fim do seu tempo de antena, precisamente pela forma como preenche esse tempo. E “ILEGAL” é a prova cabal para nos prendermos a ambos.
[Baby Creezy] “10k”
Um par de dias antes de ser anunciada uma nova actuação de Gunna no A COLORS SHOW (a estrear hoje), Baby Creezy — um assumido discípulo da estrela do trap norte-americano, como confessou ao ReB em Novembro de 2020 — assinalou também ele um regresso a cores com “10k”. O artista angolano, visivelmente longe de Quarteira (cidade onde se sediou), está num patamar completamente distinto do seu “ídolo”, mas com “10k” não só aumentou o valor do seu repertório, como também subiu uns quantos degraus no nível dos refrões irresistíveis. Felizmente, ele não tem vertigens.
[JACA] “AUSÊNCIA”
Novamente acerca de confissões ao ReB, mas desta vez em Novembro de 2021, Mike11 apresentava JACA como um prodígio “talhado para ser produzido por mim” — e a verdade é que quando ouvimos os primeiros versos de “AUSÊNCIA”, percebemos exactamente isso. A casar com delicada harmonia o drill e o r&b, o artista do Porto apresentou-se em nome próprio já com uma maturidade musical notória, apoiado por aquele que o apadrinhou na Eleven World Records e por ZOO. Esperemos que venha desta “ausência” para ficar.
[Goose08] “Diferente”
Para quem se fascinou rapidamente com as qualidades de Goose08 e procurou incessantemente por mais material além daquele que, escasso, se encontrava até então disponível, as rimas de “Diferente” não são nada estranhas. Mas foi preciso esperar por 23 (não o de Central Cee), no dia 23 de Março, para haver um “Diferente” editado num EP com mais quatro temas. E para quem prometeu tanto com tão pouco, este pequeno grande primeiro projecto abre um leque de perspectivas risonhas e totalmente diferentes.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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