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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 05/09/2023

De 28/08/2023 a 03/09/2023.

Rap PT — Dicas da Semana #151

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 05/09/2023

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.


[Uno, Benny Broker, Mano Peste] “Fodo a Minha Vida Facilmente”

“Fodo a Minha Vida Facilmente”, single de apresentação do novo longa-duração de Uno, é mantra por excelência da linha ténue que separa (ou junta, dependendo da perspectiva de quem olha) a realidade quotidiana do produto artístico resultante das experiências dos residentes e afiliados deste Consultório. Consultório Nascido e Criado é, por isso, uma reunião de admiráveis militantes de uma mesma causa, que não olha às mais nobres conquistas (dar um “bima à cota”, “pisar” Nike ou Prada, fazer trinta por uma linha à “shawty“, e por aí fora), antes se prende num círculo vicioso entre o ser o que se faz e fazer o que se é, regra geral incompatível com quem não sintoniza na mesma frequência. Daí definir-se esta linha por underground — aqui, sim, inequivocamente em sede própria.


[King Bigs] “Gangstanismo”

Quanto mais cedo, melhor, dizem os analistas. O timing é tudo, reforçam. E, nessa corrida, adiantou-se Luís Marques Mendes para não ter de correr atrás de uma série (infindável, parece por estes dias) de possíveis, prováveis e eventuais (ou até irónicos, com Clara Ferreira Alves à cabeça) candidatos à Presidência da República Portuguesa. Mas não contava o comentador político que, depois da era dominante de Marcelo Rebelo de Sousa, aparecesse um outro opositor de peso, precisamente pela mesma altura em que o protagonista do horário nobre da SIC se decidiria, finalmente, a avançar: falamos, nesta sede, de “El Presidénte (Diégo)”, também conhecido entre facções monárquicas por King Bigs, cuja ideologia passa, sobretudo, pelo “Gangstanismo” de stakes elevadas. Carisma? Tem de sobra. Slogans eleitorais? Não lhe faltam. E capacidade de juntar gregos e troianos à volta da mesma coluna JBL? Nem se fala. Intenção de voto declarada.


[Apollo G] “Paz”

Tanto se condena o rap contemporâneo à falta de bons valores (sejam eles quais e para quem forem), quando, na verdade, muitas das vezes olha-se mais para o que se quer ver do que para a bigger picture. Ademais, a ausência nuns não invalida a prática efectiva noutros, ou até — porque é realmente possível — a conjugação de abordagens na mesma pessoa. Deixas como “homem que é homem tenta fazer pela família” não têm, por isso, de ser logicamente incompatíveis com a presença de carros vistosos e bebidas espirituosas, caso a congruência de quem mostra ambos os lados se manifeste evidente. E, nesse aspecto — salvaguardando a exclusão de contradição com o que já se disse uns blocos acima —, nem só na forma está o critério decisivo para juízos de valor, quando se trata mais de honestidade artística e menos de veículos de expressão. Exemplos como Apollo G deixam-nos mais em “Paz” com essa ideia.


[Real GUNS] “Ghost (Gang Conspiracy)”

Faça-se em Real GUNS as palavras acima escritas: honestidade artística é tudo o que o rapper luso-são-tomense tem para dar, e as histórias que narra de viva voz e na primeira pessoa do singular fazem dele um dos mais autênticos MC a fazê-lo por cá. “A aparência engana. Ilude.” É o próprio quem nos avisa de que nem tudo o que vemos é real, ou pelo menos verdadeiro. Nesse sentido, a própria fotografia — ferramenta fundamental na transmissão da mensagem do artista da Linha de Sintra — pode induzir em erro, quando não usada como meio extremamente eficaz de retratar realidades alheias. Já no caso de GUNS, é precisamente através dessas ferramentas, que ele e os seus parceiros tão bem dominam, que a sua verdade ganha forma, espaço e tempo de antena. E é para a revelar que ele canta.


[Pofo] “Auto-indulgente”

“Todos os dias trabalhamos, todos os dias conquistamos” já era um mote seguido por Pofo há dois anos, última vez que demos conta de um single seu em nome próprio. A premissa de “Egocêntrico” mantém-se em “Auto-indulgente”, tema que marca o regresso do rapper que deu cartas na Liga Knockout aos lançamentos depois de ter editado LostFiles em Setembro de 2021. E, aqui, também ele faz finca-pé sobre a sua verdade, não sem descurar o exercício lírico predominantemente virado para a punchline que o caracteriza.


[Monteiro GMB x Paulinho SZ] “Sintra Zoo”

A Linha de Sintra tem sido itinerário responsável pela assinalável diversidade de talento a despontar nos últimos anos a partir da música dita urbana. Nesse “Sintra Zoo” não faltam animais dos mais exóticos, se nos permitem a analogia faunesca, e há mais dois a merecer visitas em família: Monteiro GMB e Paulinho SZ apresentam-se, assim, juntos num single ainda dado às batidas estivais, que — como o prólogo desta novela de episódios semanais antecipa — nos faz abanar a cabeça mais por fora do que por dentro. E há dias em que só isso nos basta.

(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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