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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Mura] “08/02/2023 FREESTYLE” @ On The Spot #3
Na terceira edição da rubrica On The Spot, Mura volta a chegar-se à frente do microfone (ele que inaugurou o formato) para mais um freestyle com carimbo Godsize Records. Desta vez, o instrumental veio “emprestado” de uma faixa memorável que, por meio de Sonnyjim e The Purist, em nome de White Girl Wasted, juntou o já na altura falecido MF DOOM a Jay Electronica. E, entre barras especialmente assertivas, “Sou potente no palco” revela-se a mais certeira, pelo que ainda nem há um mês pudemos confirmar no Musicbox.
[X-Tense] IMFF2
“No Natal ouve-se Mariah Carey, no dia dos namorados ouve-se X-Tense, vai começar a ser tradição”, é a observação mais bem cotada da caixa de comentários de IMFF2. A segunda edição de In My Fucking Feelings volta a marcar o Dia dos Namorados, precisamente um ano depois da inauguração do conjunto de temas trágico-românticos — com samples, até, de Destiny’s Child. Com a tónica acentuada em matéria de desamores, o segundo volume convoca Diogo Piçarra e David Bruno ao consultório de Nuno Barreiros, para dar ainda mais expressão à melodia dedicada aos corações partidos. Em cheio nos sentimentos.
[Majestic T.K.] “Almancil Freestyle (Remix)”
Quem também se deixou contagiar pela cantiga de In My Fucking Feelings foi Majestic T.K., que enquanto rapper prodigioso que é (veja-se a sua mais recente passagem pela Liga Knockout) se fixou no “Almancil Freestyle” para provar que também tinha palavra e meia a dizer.
[Farrusco] “Uma Espécie De Fumo Ninja” (Prod. Crate Diggs)
Não chegou a tempo do Dia de São Valentim, mas não foge ao tom da simbólica data. E “Uma Espécie De Fumo Ninja” também não tem que ver, certamente, com os criadores de Olhos De Cetim (disco nada estranho por aqui): o jazz trabalhado por Crate Diggs é bem mais clássico do que aquele que se metamorfoseia no trabalho de Leonor Arnaut, Norberto Lobo, Raquel Pimpão e Ricardo Martins; mas a simplicidade da escrita de Farrusco, com sentida profundidade, acaba por se revelar comum a ambos os trabalhos, aparentemente tão distantes entre si.
[ZA] “Finesse”
O exercício é tão simples quanto complexo: agarrar no beat e disparar o maior número de barras metricamente possível. Para isso, ZA fez-se valer do seu registo por excelência — entre jogos de palavras e duplos sentidos — e passou a pente finesse o instrumental alinhado por Beiro.
[Real Guns] “Muka Mundo, Pt.2”
“Muka Mundo, Pt.2” é a faixa inaugural de ODB [Original Dirty Bastards], novo trabalho de Real Guns, desta vez aliado aos 404Soundlab. No sucessor de Escrevo Com Sangue, a linha de Ovilton Santiago continua distintamente vincada, e o mote do tema que abre o disco reflecte, exactamente, essa ideia: mudar o mundo a partir da rua ao lado.
[Pibxis] “Pibxis Lion” feat. Keso
Rei do Rap foi um dos grandes projectos feitos no âmbito do hip hop nacional durante o ano passado, por isso não é de estranhar a sua relevância ainda em 2023. Estranho não é, também, ser “Pibxis Lion” a faixa que serve de nova chamada de atenção ao último trabalho de Pibxis, editado pela Paga-lhe O Quarto Records de Keso, ele que (além dos contributos de Chek1 e DJ Crava) assina a produção e o refrão — de forma inigualável, como seria de esperar — do tema que ganha agora nova vida através da animação de João Nipo.
[Wet Bed Gang] “Estrela Maior”
“Estrela Maior” foi o terceiro e último avanço de Gorilleyez, editado hoje, 21 de Fevereiro — dia em que o quarteto da Vialonga assinala e celebra o aniversário de João Rossi, mentor e fundador do colectivo Wet Bed Gang. É, também, o tema inaugural do novo longa-duração do super-grupo que, aqui debaixo de um céu estrelado, reunido à volta da fogueira, canta versos de reflexão em tom de consagração.
[Apollo G] “Loyalty Over Love”
Não é Wet Bed Gang, mas bem podia ser: “Loyalty Over Love” transmite o mesmo calor que, por exemplo, Ngana Zambi, sem perder a identidade do seu autor. Entre o crioulo e o inglês, Apollo G dedicou, também, uma canção que, muito por culpa de Mr. Marley, evoca as mais aconchegantes raízes africanas, com um ritmo indissociável e inconfundível.
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