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Fotografia: Mano a Mano & _ana.2_
Publicado a: 20/12/2021

Velhas maneiras.

Natal do Marginal’21 – 17 de Dezembro: a margem certa no sítio certo e um Rey em raríssima aparição

Fotografia: Mano a Mano & _ana.2_
Publicado a: 20/12/2021

Sexta-feira passada, no penúltimo dia do festival, voltámos a trocar de local: a festa começou no Plano B. Diga-se que foi uma escolha muito pertinente para o espectáculo da Mano a Mano. Uma sala aconchegante e bastante composta, dona de um charme retro entre bolas de espelhos suspensas e neóns vermelhos — onde se podia ler “Plano B” –, como se estivéssemos numa discoteca bem antiga. A cereja no topo do bolo foi, como sempre, um público com as letras na ponta da língua e com muita vontade de aquecer o espetáculo dos MCs. 

Conhecido por ser a personagem principal de uma colectânea de livros infantis ou, mais recentemente, por ser rapper, produtor, skater e muito mais, TOM (Freakin Soyer) foi o primeiro elemento da editora a apresentar-se. O rapper entrou com força e, entre flows muito variados, estéticas modernas ou andamentos mais clássicos, conseguiu dizer “coisas que um louco não pode deixar de dizer” e, pela forma como foi recebido, tinha uma sala de loucos que concordavam com a mensagem – “Isto são coisas que quem não é louco não vai entender”. 

Sem menosprezar a presença em palco, a qualidade de escrita e o skill métrico de TOM foram as chaves do espectáculo. O que até faz sentido vindo de alguém que activamente refere que vai atrás do que lhe soa bem e que ninguém tem nada a ver com isso — se isso soou bem em estúdio, pode-se dizer que em palco não ficou nada atrás, pelo menos os braços no ar e as cabeças ao ritmo dos instrumentais corroboraram essa afirmação. Como tem sido norma ao longo do festival, o artista deu oportunidade aos seus de se mostrarem nos palcos do Marginal: Vato e Silva G pegaram no microfone e ajudaram a desarrumar a casa, e no fim, ainda houve espaço para um “Diggy Diggy” com Jay Fella. 

Sem tempo a perder, era altura dos senhores, ou “cotas”, como se auto-intitularam, mostrarem das suas. Os M.A.C., actualmente constituídos por TNT e Kulpado, vieram directamente de Almada para mostrar que ainda têm a caneta quente e que os anos que já levam disto não interferiram na paixão pelo movimento. Depois de Missão a Cumprir e Muito a Contar, a ideia das iniciais caiu e lançaram o álbum Sem Título este ano. A solidez que apresentam sobre instrumentais de boom bap, entre clássicos e temas do novo projecto, marcou uma plateia que muito grata pelo que acontecia à sua frente fez da Invicta a casa destes dois companheiros de longa data. Numa homenagem aos que já nos deixaram, o duo contou com AMAURA que foi responsável, de forma virtuosa, pelo refrão da faixa “Hoje é Dia”.

A dupla Silab & Jay Fella foi eleita para fechar o lineup no Plano B. À semelhança do que temos assistido até então neste NDM’21, houve uma demonstração clara que existe uma camada jovem interessada em dar voz à tradição e em manter a cultura hip hop viva como nos velhos tempos. Em 2020, o EP Ed Harris Tape solidificou a sua presença enquanto conjunto. É impossível não encarar estes jovens como descendentes dos graúdos anteriores. Se o observarmos de uma perspectiva honesta, é muito bonito ver como esta cultura continua a juntar pessoas e a promover que “miúdos” de caneta na mão dediquem a sua vida a um sonho. Mais uma vez, os elogios à performance do outro lado do palco foram sistemáticos, sendo que a temperatura subiu quando Blasph deu de si na faixa “Drive”. 

O momento mais épico da noite ou, sejamos honestos, do festival aconteceu no Ferro Bar. A surpresa trouxe, depois de 10 anos ausente, Rey para um concerto de contornos mitológicos no seio da cidade. O mestre das rimas cruas, que avisou que só aos 60 anos é que o sucedido se volta a repetir, deixou os candeeiros do Ferro a abanar tal foi a histeria na sua recepção. O dinamizador da Poesia Violenta deixou os presentes sem voz, rejuvenescendo temas míticos como “O Povo Todo” ou “Espírito Cinzento”. É possível afirmar que naquela sala cheia se sentiu o sangue a ferver do movimento nortenho, uma atitude interventiva, sentida e anti-sistema que tantos têm confessado que se perdeu.

Foi contador de histórias, maestro de mosh pits, professor e ainda sorteou vinho feito pelas suas próprias mãos. Surpresa da noite foi o seu anúncio: Sua Alteza O Vagabundo (2011) será reeditado, mas desta vez os instrumentais estarão em aberto para a entrada de novos MCs, e a única condição é que estes tenham menos de 10 anos de carreira no rap.

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