“Manu Dibango é uma força da natureza. Conta 83 anos de idade, tem nos ombros o peso de uma discografia com muitas dezenas de títulos e que recua até 1968 e goza do estatuto de uma verdadeira lenda. Não é apenas um embaixador de primeira linha dos Camarões, é um dos maiores gigantes que a cena musical africana produziu. A editora londrina Africa Seven, mais uma peça do complexo puzzle de selos apostados em recuperar para o presente as maiores pérolas do passado gerado em África (tal como a Teranga Beat, World Circuit, Analog Africa, Soundway, Hot Casa e tantos outros), tem feito de parte do legado da francesa Fiesta o motivo dorsal da sua existência, concentrando o olhar sobretudo sobre o prodigioso output de Manu Dibango nos anos 70 e nos anos 80, quando, muito antes da explosão da ideia de world music, o saxofonista camaronês se assumia como o grande colosso africano ao lado de Fela Kuti. Ao contrário de muitas das suas congéneres, no entanto, a Africa Seven ‘limita-se’ a reeditar álbuns originais, recolocando-os nos mercados, sem necessariamente lhes adicionar material de arquivo inédito ou tratando de os embalar com grafismo mais apropriado para o presente. O que não diminui em nada o seu esforço. (Manu 76 / Africa Seven) é a primeira entrada de Manu Dibango no catálogo da Africa Seven. Um disco feito de ‘soukous’, derivações de tonalidades latinas e arranjos para grandes orquestras apimentados por pormenores funky aprendidos nas revoluções que simultaneamente ocorriam do lado de lá do oceano. Glórias como Jo Tongo (no baixo) engrandecem o colectivo, gravado em França e com a participação de alguns talentos franceses. E Manu é um líder benigno, que dá espaço a todos os músicos para brilharem. E há até uma homenagem: ‘Angola’ celebra a independência então recém-conquistada da antiga colónia portuguesa, com um solo de soprano carregado de alma. Em (Afrovision / Africa Seven), álbum de 1976, Manu Dibango foca atenções no Senegal e em ‘Dakar Streets’ ou ‘Baobab Sun 7’ mostra que mais do que um músico camaronês é um artista com uma visão pan-africana, capaz de se aproximar dos sons de angola ou da Nigéria ou das inclinações latinas do Congo com igual à vontade, representando o seu vigoroso sopro no saxofone toda a força do continente enquanto os seus desvios pelos sintetizadores (que se tornariam mais evidentes nos anos 80) provam que este era um artista com sede de futuro. Na verdade uma reedição de Manu Dibango, álbum de 1978, (Sun Explosion / Africa Seven) subtrai o título à última de quatro longas faixas de um álbum produzido por Roland Le Couviour, o homem por trás da mesa de mistura em várias das gravações francesas de Manu Dibango (foi como Sun Explosion que foi lançado pela Decca no Reino Unido nos anos 70). Apesar do sub-texto altamente rítmico e dançável da sfaixas, este é um registo que permite a Manu Dibango mostrar no tenor alguns fortes argumentos jazz do seu vasto vocabulário. O álbum de 1979 (Home Made / Africa Seven) foi gravado nos estúdios da Decca de Paris e mostra um Manu Dibango comprometido com ritmos disco. Não que fosse uma ligação extemporânea e oportunista já que o clássico Soul Makossa, lançado no arranque dos anos 70 nos Estados Unidos pela Atlantic surtiu forte influência sobre os futuros arquitectos do disco. O baixo do gigante Ernesto Apetor domina as faixas onde também brilha a pressão rítmica da guitarra de Nee Sackey. Comentário directo sobre o fenómeno disco: ‘Ah! Freak Sans Fric’ que transporta os Chic de Nile Rodgers para a savana com o sol espelhado na luxuosa secção de metais.”