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Publicado a: 22/12/2017

Mehmet Aslan: “Eu penso que um álbum ainda é a melhor maneira de um artista partilhar a sua visão”

Publicado a: 22/12/2017

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Eva Flury

Digger, DJ e produtor, Mehmet Aslan é, acima de tudo, um amante de música. A obsessão foi, em primeiro lugar, alimentada pelo DJing, mas cedo percebeu que a produção e criação musical era na verdade o que lhe saciava a “fome” artística.

Com sangue turco, mas criado na Suíça, o músico, que actualmente vive em Berlim, teve o apoio de nomes como Gilles Peterson ou de publicações como a Resident Advisor, fazendo furor com a sua fusão de música tradicional com música electrónica. Mechanical Turk, EP lançado em 2014, é uma peça feita em laboratório. House, esoterismo e experimentação são elementos utilizados num ensaio que obteve excelentes resultados.

Mais logo, a partir das 21 horas, Aslan actua no Rive-Rouge, em Lisboa, um evento que também conta com a presença de Switchdance. O Rimas e Batidas aproveitou a passagem do artista por Portugal para uma conversa sobre “New Africanism”, a separação entre o DJ e o produtor ou a música que mais ouviu em 2017.

 



Comecemos por separar o Mehmet Aslan “DJ” do Mehmet Aslan “O Produtor”. Quando é que sentiste que a tua colecção de discos precisava de música criada por ti?

Eu entrei no mundo da música com o DJing, mas isso nunca foi o suficiente para mim. Para dizer: “eu faço música”. Como DJ, tu interages com pessoas, tu estás numa sala ou sítio. Considerando que a criação de música pode ser um processo muito solitário… Sendo um introvertido, eu acho que isso acabou por me levar para a parte da criação. Os edits talvez possam ser vistos como uma ligação directa entre DJing e produção. Sempre estive mais interessado na parte da criação, mas eu adoro DJ e Produção pelas suas valias.

Quais são os cinco discos da tua colecção que nunca irias vender na tua vida? E porquê?

Vários More Better Days: Avant-Wave

Tanto esta como compilação como a Funky & Mellow são clássicos intemporais. Estes são importantes para mim porque a música é muito lúdica e experimental, mas ainda assim cheia de minúcia.

Baris Manco 2023

Eu não tenho a cópia original, mas escolhi-o porque foi um disco importante e visionário na altura em que saiu.

Boo Williams Universal Limits

Eu talvez não esteja tão dentro do house tradicional hoje em dia, mas as produções do Boo William sempre me impressionaram instantaneamente. Este em particular por culpa da faixa “Summer Love”.

VáriosSounds Of The Unheard From Romania (Volume 1)

No caminho para a exploração da world music, este álbum foi um marco histórico para mim. É uma forma bastante honesta de combinar música electrónica com elementos tradicionais. É triste que eles não actuem mais.

Technasia – Popsoda

Este álbum tem uma espécie de significado nostálgico que me leva para os meus tempos de techno. Eu tenho uma das versões 3xLP, que é rara, penso eu. Quer dizer, 20 canções num álbum e nenhuma soa fora do sítio.

O multiculturalismo acaba por ser algo que está implícito na tua vida desde cedo. Em Portugal, , a música mais vibrante e inovadora que se faz actualmente também nasce desta mistura de raças, etnias e nacionalidades. Quando (e porquê) é que decidiste usar elementos tradicionais nas tuas músicas? Sentiste essa necessidade de prestar algum tipo de homenagem às tuas raízes? 

Apesar de ter nascido na Suíça, eu fui criado como um turco em casa. Fora de casa, eu sentia-me suíço. Mas eu nunca senti que uma nacionalidade fosse mais importante do que outra. Voltei à música turca quando comecei a fazer música. Naquela altura, eu estava à procura de todo o tipo de música no mundo – acompanhado pelo meu bom amigo Mario (que me ajuda no comando da editora Fleeting Wax). E ele sugeriu-me psicadelismo turco dos anos 60/70. Tornou-se claro que eu teria que usar esta influência na minha música. Pareceu-me natural. Eu não consigo imaginar a minha música sem esta influência. No início desta exploração, um amigo também me disse que eu tinha a oportunidade de usar esta influência com um olhar diferente de uma pessoa que tenha sido criada na Turquia. Acho que esse tipo de coisas podem-se tornar interessantes… Não sentirmo-nos demasiado ligados a algo e ser capaz de olhar de um ângulo diferente.

“New Africanism” é um título curioso para uma faixa. Pelas tuas palavras, o que é que isso significa?

Um orientalista ou africanista tenta explorar uma cultura que não é a sua. Isto é o meu entendimento. Eu acho que estava a tentar criar algo com características africanas, mas a tentar algo diferente. Futurista também. Foi por isso que acabei por escolher esse nome. A música africana é tão diferente da música ocidental. O ritmo também é a música. Não está separado. Isso ainda é um tópico bastante interessante para mim.

Estamos a chegar ao final de 2017 e a questão é inevitável: quais foram os álbuns/canções que mais ouviste durante este ano?

Ryuichi Sakamotoasync

Eu tive bastante sorte em estar em Tóquio na altura no lançamento e tive a oportunidade de ouvir o álbum na apresentação, que foi uma maneira bastante diferente de escutar o disco. Mas eu fiquei convencido depois: é uma obra-prima.

James Blake The Colour In Anything

Uma entrevista do Brian Eno levou-me a ouvir a sua música. O Eno disse que a maneira como ele produzia era bastante moderna, o que me deixou curioso. Para mim, este é o melhor álbum dele, todas as faixas têm uma surpresa. O arranjo e a produção… é música soul produzida de forma moderna. Eu não ouvi nada como isto nos últimos tempos.

Pipilotti RistSoundtracks De Las Video Instalaciones De Pipilotti Rist

Este álbum foi A descoberta do ano para mim. Eu gostei tanto da forma como as faixas são simples e, no entanto, loucas nas escolhas de tópicos.

Tu lançaste alguns EPs nos últimos anos. Vamos ter um álbum num futuro próximo? O formato faz sentido para ti?

Eu estou a trabalhar num álbum que está planeado para sair no fim do próximo ano e, desde o início do processo, isso foi uma nova maneira de pensar sobre a minha música. Eu penso que um álbum ainda é a melhor maneira de um artista partilhar a sua visão. Eu não percebo como é que algumas pessoas pensam que já não é importante. É um processo muito excitante e pessoal neste momento, e eu vou ver onde é que me vai levar com este álbum.

Tu tocas em Portugal na próxima sexta-feira (as perguntas foram enviadas na quarta-feira, 20 de Dezembro). O que é que sabes sobre o nosso país? Segues a música que se faz por cá?

Já estive duas vezes em Portugal. A narrativa de Fernando Pessoa sobre Lisboa foi a principal fonte de informação sobre o país – e deixou-me animado para a minha primeira visita. Mas depois também aprendi sobre uma grande cantora de fado portuguesa: Fernanda Maria. Da música contemporânea, o que me vem à mente é um álbum dos Dead Combo, Lisboa Mulata. Ouvi bastante este ano e tenho a certeza que vou descobrir nova música em breve.

 


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