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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/07/2023

Uma questão de fusão.

Kamaal Williams antes do concerto no Matosinhos em Jazz: “Londres esteve sempre na vanguarda da música de dança”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/07/2023

O teclista Kamaal Williams não é o tipo mais falador do mundo e deixa a parte que realmente importa do seu pensamento bem expresso na música que faz, que teve em Wu Hen a sua mais recente manifestação de longa-duração. Regressa a Portugal para fazer dançar quem aparecer mais logo no coreto onde acontecem os concertos deste Matosinhos em Jazz. Ensonado, com respostas algo telegráficas, mas super-entusiasmado por este concerto e pela digressão que tem marcada até ao final do ano, que inclusive o vai levar de volta aos Estados Unidos.

Numa chamada via Zoom, o teclista britânico falou-nos sobre o concerto de logo (às 18 horas no Parque Basílio Teles) e levanta também um pouco o véu sobre o seu futuro imediato, já com um novo álbum em nome próprio na calha cujo primeiro single, “PKKNO”, aterrou há menos de uma semana nas malhas digitais.



Podes começar por me contar que banda vais trazer para este concerto no Matosinhos em Jazz?

Claro. Bem, vou levar o Quinn Mason e o Easy, que as pessoas poderão também conhecer como Arthur Stevens. São ambos de Atlanta e tipos mesmo muito sérios. Já os tinha trazido para concertos em Junho e vão andar a tocar comigo o resto do ano. E tenho mais um teclista. Tenho, portanto, dois teclistas, saxofone e bateria.

Penso que tens mais umas três datas na Europa e depois regressas aos Estados Unidos para nova digressão. Quão diferente é a recepção à tua música dos dois lados do “lago”?

Bem, é sempre diferente, de facto. Cada país em que toco tem a sua própria vibe e isso é bom, porque exige coisas diferentes de ti também. Isso leva a que não haja dois concertos iguais, a música está sempre a evoluir. Portugal, por exemplo, sempre demonstrou ter uma ligação muito forte com a minha música, por isso estou mesmo feliz por voltar. Estou contente por regressar ao Porto, já passaram alguns anos desde a última vez, nem tenho bem a certeza.

Por acaso sei que não estás a dizer isso por dizer, porque li recentemente uma entrevista que concedeste a uma revista americana e tu indicavas Lisboa como uma das tuas cidades favoritas para tocar. O que é que achas que te liga a este lugar?

Sabes uma coisa? “Pastéis de nata!” [Risos].

Obviamente…

A sério, não estou a brincar. Um tipo acorda de manhã, come um pastel de nata e fica pronto para tudo, dá-te energia para o resto do dia com aquele açúcar e a massa. É incrível. Mas claro que a comida aí é incrível — o marisco… uau. E claro, as pessoas são super-hospitaleiras. Sinto-me sempre bem aí…

Podes falar um pouco sobre o repertório que vais tocar?

Bem, o nosso repertório é sempre improvisado. Sei que isso pode parecer o que se espera que um tipo como eu diga, mas é mesmo verdade. Nunca sequer escrevemos uma setlist. A coisa vai acontecendo. É uma mistura de canções de que eu gosto muito actualmente e de que fazemos versões, cenas que eu ando a sentir, que misturamos com coisas minhas, com house tocada ao vivo. A gente flutua, sabes? Tocamos um par de peças do meu álbum.

Há dias conversava um pouco com a Yazmin Lacey, que tocou ontem neste mesmo festival, sobre o quão revelador do estado de graça da cena britânica é o facto de dois artistas como vocês se encontrarem num evento como este…

Adoro, simplesmente adoro a Yazmin Lacey. E sabes uma coisa, gostava também de aprender coisas sobre a cena musical portuguesaactual. Quero muito ouvir novas bandas e artistas daí. Há coisas interessantes?

Definitivamente!

Óptimo. Quero ver se apanho umas coisas.

Tens mostrado alguma relutância em descrever ou classificar a tua música como jazz e sob pressão já te ouvi a descreveres a tua música como algo que simplesmente vem de Londres, o que é muito vago e ao mesmo tempo e paradoxalmente muito preciso… Porque, de facto, a música que se produz aí actualmente tem uma vibe muito particular. Porque é que isso acontece?

Eu penso que o que acontece é que Londres esteve sempre na vanguarda da música de dança, da música de clubes, desde o acid jazz em diante, até ao jungle, house, dubstep, garage… Broken beat. É uma cidade que tem andado sempre à frente na música de dança, muito aberta a novos sons e experiências. Sempre o foi. Mas sinto que hoje toda a gente lança música boa. Não sei se isso tem alguma coisa a ver com Londres, mas eu nem gosto assim tanto de Londres. Mal posso esperar por conseguir sair de Londres. Eu não ligaria esta música propriamente a Londres, até porque muitas das pessoas que estam a fazer isto não são de Londres. Eu não conheço assim tanta gente que seja de Londres. Mas é bom de se ver, embora eu não preste muita atenção ao que tem acontecido nos últimos tempos. Tenho estado a fazer a minha cena, e quando me deparo com alguma cena boa vou lá dar o meu suporte.

E tens escutado algo de interessante? A quem tens dado o teu apoio ultimamente?

Sim! Eu tenho ouvido cenas muito boas. Deixa-me ver o que tenho aqui na minha playlist e digo-te que coisas ando a ouvir. Tenho escutado Butcher Brown, Steve Spacek… Que mais? Sei lá, há muita coisa boa por aí.

Essa menção a Butcher Brown é certeira. Há dias vi o DJ Harrison e o Corey Fonville a tocar na banda do Kurt Elling. Os gajos foram incríveis.

Sem dúvida. O DJ Harrison é fenomenal. O Charlie Hunter também.

Escrevi recentemente a crítica ao novo álbum do Terrace Martin e citei parte da crítica que tinha feito ao teu Wu Hen, porque creio ter visto uma espécie de ligação entre ambos. Eu não sei se também sentes isso, mas parte dessa ligação é a forma como vocês estão a re-trabalhar o que costumava ser chamado de, à falta de melhor termo, smooth jazz. Eu acho isso muito interessante a revolucionário, de certa maneira. É como se uma nova geração estivesse a investigar esta era do jazz que foi relegada para uma espécie de limbo por parte da intelligentsia. Mas eu acho essa música muito interessante e vocês estão a actualiza-la de acordo com aquilo que se faz nos dias de hoje. Isso soa maravilhoso.

Obrigado. Sabes o que isso é? Eu tento ter o meu leque de sonoridades o mais amplo possível nos discos, porque eu ouço muitos tipos de música diferentes. Não há aqui uma intenção de fazer um certo tipo de jazz, sou apenas eu a expressar a minha música. Há elementos de jazz no hip hop, há elementos de jazz no drum & bass… Obviamente que vai sempre existir jazz. Neste novo álbum tenho muita coisa composta ao piano.

Temos estado à espera desse novo disco. Quando é que podemos escutar novas coisas vindas de ti?

Há um tema que já saiu, há poucos dias. Há mais singles a sair, mas o álbum chegará a 27 de Setembro.


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