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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 20/06/2020

Com valor acrescentado.

Ka§par: “O PIB pretende mostrar que a Percebes não é uma editora com uma linha musical inflexível”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 20/06/2020

Há num novo prato de Percebes: a editora portuguesa, dedicada à música de club, lançou ontem a sua primeira compilação, Produto Interno Bruto I, que conta com contribuições de Ka§par, Sheri Vari, Moreno Ácido + Diogo, Hélder Russo, Elite Athlete, Change Request, Eddie Niguel, Daino, Pedro, Ninguém e Rui Fradinho.

Esta é a terceira edição do ano para a label fundada no arranque de 2018 por Pedro Caldeirão, João Pires (Ka§par), Sara Sirvoicar e Mariana Cruz (Sheri Vari), depois de darem a conhecer as remisturas de Onírico e apresentado Daino no EP Crescendo.

Com a bússola a apontar para as formas menos convencionais de abordar géneros como o techno e a house music, Produto Interno Bruto I é apresentado como um esforço colectivo que visa enriquecer o património da Percebes, criado com a ajuda daqueles que acompanham de perto a cena clubbing portuguesa. Aos nomes que já vestiram anteriormente a camisola da editora (Ka§par, Sheri Vari, Hélder Russo e Daino) juntam-se ainda Pedro, Elite Athlete, Moreno Ácido, Diogo, Rui Fradinho e Ninguém no lote de produtores nacionais. De fora mas a olhar para dentro, Change Request, da terceira vaga de militantes house de Chicago, e Eddie Niguel, figura mítica do underground de Sigapura, são as duas importações que dão uma dose de crédito extra à label lusa.

Em representação da Percebes, o veterano Ka§par falou com o ReB sobre a criação deste disco.



Escolheram um título curioso para esta nova compilação. O que vos levou a associar esta música à ideia de Produto Interno Bruto?

Obrigado! Tal como o nome da editora já me habitava a cabeça anos antes de a iniciarmos, também esta expressão estava na gaveta para ser usada (e há outras!). É uma expressão curiosa quando afastada do universo onde normalmente se usa. Torna-se perfeita para comunicar a ideia: trabalho colectivo, unidireccional, no sentido de desenvolver uma riqueza. Se o PIB português resulta da soma agregada das diversas actividades económicas durante um período, o PIB Percebes resulta da soma agregada de diversas actividades musicais, durante um período — a saber, os últimos três meses.

Marcam aqui presença quase todos os nomes já editados pela Percebes e também algumas caras novas, tanto do circuito nacional como internacional. Como é que se proporcionou juntar todos estes criativos num só disco?

Foi primeiro uma questão de falar com toda a família artística que já tinha sido editada. Uns conseguiram contribuir e outros (como é normal) não tiveram ocasião, então a seguir desafiámos outras pessoas a participar. Como havia confiança entre todos os artistas na qualidade final das contribuições, não foi difícil reunir o material certo. Mesmo as contribuições internacionais são oferecidas por pessoas que conhecem o panorama artístico português e quiseram contribuir nessa óptica. Como DJ e coleccionador, vivi muitos anos a comprar e ouvir compilações desta natureza, ainda hoje adquiro várias e um dos discos do ano, para mim, é também uma compilação – Neroli presents The First Circle. O PIB pretende mostrar que a Percebes não é uma editora com uma linha musical inflexível e que a música representa mais do que os rótulos que a pretendem descrever, há muito potencial ainda para explorar neste projecto.

O formato de compilação é, por norma, um dos primeiros passos tomados pelas novas editoras, dado ser a melhor forma de meter na montra todo o potencial do seu plantel. Produto Interno Bruto assinala a estreia da Percebes nesse registo. Era algo que fazia parte dos vossos planos desde o início?

Dos meus, sem dúvida… desde sempre! No momento de concepção da editora era importante haver solidez na edição do formato físico (vinil), para a tornar relevante e destacada. Entretanto, e ao longo de dois anos, lançámos cinco discos em vinil, a certa altura tornou-se evidente que já não fazia o mesmo sentido manter o formato no centro da discussão. O que faz uma editora não é senão a sua música, tudo o resto tem de acompanhá-la, caso contrário torna-se um mero exercício de estética. Pareceu-nos que estava na altura de abrir o leque e incluir o trabalho de outros autores nacionais que não estavam afectos ao projecto mas que fizeram música que nós tocávamos como DJs (o Pedro, o João de Almeida, o Fradinho, o Ninguém, Moreno Ácido + Diogo, etc). Depois foi juntar este conjunto de artistas a alguns amigos internacionais, Andrew Emil de Chicago e Eddie Niguel de Singapura, que atribuem ao PIB um contraponto internacional.

Musicalmente, os 11 temas do disco são bastante díspares e sente-se que houve aqui uma certa liberdade dada a todos os participantes. Para a editora, quais eram as directrizes que estiveram sempre presentes na hora de escolher os temas que acabaram no alinhamento final?

Ainda bem que essa variedade é evidente, porque é um resultado deliberado. Eu gosto de compilações diversas, variadas e que fogem a um padrão. Gosto de DJs eclécticos e discos que mostram facetas improváveis. Gosto, também, de todo o tipo de música, portanto a decisão não foi complicada. Tudo se resume a reunir pessoas e fazer um desafio simples: “aproveitem o momento, desliguem-se de condicionamentos, entreguem algo que vos define”. Ao ouvir a totalidade da edição é notória essa transparência e originalidade. Depois, foi masterizar o material para que ficasse tudo a soar perfeito, e dar à obra a capa acústica coesa que tem, para que a sua diversidade musical seja elevada (e não desconfortável).

Em 2020 celebraram dois anos de existência e editaram Crescendo e Onírico Remisturado. Como avaliam aquilo que lançaram e alcançaram neste espaço de tempo e que planos têm para os meses que se seguem?

Estamos contentes pelo percurso feito até agora, foram dois anos que passaram depressa e durante os quais fizemos todos os lançamentos que imaginámos ao iniciar a editora, e mais alguns. A música que tentámos expor ao mundo pareceu-nos sempre fresca e intemporal. A nossa demanda é em torno de alguma verdade nessa música, e não apenas de tracks para lançar porque queremos dizer que temos uma editora. Alguns lançamentos são mais divertidos, outros mais introspectivos, mas é inegável que vão revelando cada vez mais sobre o que queremos afirmar e vão tendo um sucesso cada vez mais claro junto do público. Sucesso que, no passado recente, se tem reflectido em vendas, felizmente. Este ano, na verdade, editámos mais do que o Crescendo e Onírico Remisturado, mas não foi fácil promover todos os lançamentos da mesma forma. Por exemplo, quase todo o nosso catálogo estava reservado a compradores de vinil e de Bandcamp, foi tornado disponível em todas as plataformas digitais e de streaming lentamente ao longo do ano. Isto veio a expor a editora e os seus artistas a um novo público, já que alguns desses lançamentos foram destacados em sites da especialidade (o Epicurismo, Onírico e Onírico Remisturado surgiram todos com destaque no Beatport, nas semanas que foram lançados, por exemplo). Depois, entretanto, lançámos Crescendo em vinil e agora fechamos o verão com Produto Interno Bruto… na retoma, esperamos editar mais um disco de vinil, Flagrante Delírio da Sheri Vari, com a participação de Javonntte, músico de Detroit que acompanhou Aretha Franklyn no teclado (e é autor de uma sequência de lançamentos notáveis desde os últimos quatro anos, especialmente). No futuro em vinil, a partir do início de do ano que vem, vamos retomar a edição de artistas fundadores, uma vez que já há material pronto de Hélder Russo e Ka§par. Depois, vamos talvez integrar nomes internacionais de forma assumida.
Todas estas edições vão sendo intercaladas com lançamentos de autores emergentes em formato digital, já que a editora tem conseguido solidificar a sua posição neste domínio também, e pretende juntar a si mais autores que partilhem a visão única que o projecto tem dado a conhecer.


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