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Fotografia: José Fonseca
Publicado a: 15/11/2022

Arte que não se esgota.

Johnny Virtus no Titanic Sur Mer: até sempre (só mais um pouco)

Fotografia: José Fonseca
Publicado a: 15/11/2022

No passado sábado, dia 5 de Novembro, o rapper e produtor Johnny Virtus desceu da Invicta à capital para um concerto (organizado pela LUME Portugal) em jeito de celebração do álbum UniVersos; apesar deste projecto celebrar 10 anos em 2022, na altura não aconteceu ser tocado ao vivo na cidade de Lisboa.

O público esperava no exterior do espaço Titanic Sur Mer e era notório o sotaque nortenho presente no ar (e os cigarros a queimarem-se na ponta dos dedos). E foi sem atrasos que às 22h50 começa-se a ouvir as primeiras linhas de baixo, rapidamente atraindo para a frente do palco as pessoas que não quiseram falhar esta festa enquanto DJ Score pegava nos pratos e a dupla Enigmacru assumia o palco. 

Sem ser estranho a ninguém, a primeira faixa do disco, que tem o mesmo título do longa-duração, fez-nos logo sentir como se não tivesse passado tanto tempo assim. Depois de duas ou três músicas, Virtus dá-nos as boas-vindas ao seu universo e, após algumas breves palavras, não seguido a respectiva ordem do alinhamento do trabalho, rapidamente continuámos a viagem de clássicos — e as rimas eram sabidas pela grande maioria do público, que terminava muitas das frases do artista, e os refrões enchiam qualquer vazio que pudesse existir na sala. Pausa. E eis que é disparado o sample de “Excepções”, faixa com os Enigmacru (de salientar que estes sempre estiveram em cima de palco durante toda a actuação), mas foi neste tema que se entendeu toda a simbiose desta família de rappers e o seu Sexto Sentido. Lindo de se assistir de fora.



Fomos passando por vários ambientes, da retrospectiva em “Caminho de Volta” à nostalgia que se viveu na “Diferença” ou da emancipação sentida em “Algo a Dizer” ou às verdades ditas em “Figuras Públicas”. Mas nem só deste álbum se fez a noite, houve ainda tempo para temas recentes como “Sicklos”, “A Sós” ou ainda “Bai Lá”, com Keso. Parece escusado dizer que deitaram o palco abaixo, mas foi o que aconteceu.

Achamos mais que justo classificar o UniVersos como um álbum intemporal. Há um pulso afiado por parte de Virtus em que cada rima parece ser ainda melhor e maior que a outra, de uma grande profundidade e sensibilidade, não há espaços por preencher, cada palavra tem um sentido único. Sem dúvida que, além de rapper, é um excelente poeta contemporâneo. Os instrumentais acompanham na perfeição as histórias íntimas com rasgos nos pratos por parte do DJ Score. E num canto do palco Minus, Each1 e Chek faziam praticamente todas as backs, mesmo sem microfone.

Antes de terminar o concerto com o clássico “É Só Artistas”, o músico do Porto explicou-nos toda a a história destes versos, do caderno de rimas que se tinha perdido na casa do pai e depois do seu falecimento nunca mais foi encontrado. Que depois disso decidira começar a escrever o caderno todo de novo, inclusive nas paredes do quarto, e o resultado é este álbum. Dessas paredes do quarto de Virtus até Lisboa são sensivelmente três horas de distância e aproximadamente trezentos quilómetros, mas o universo do rapper veio provar que não distingue essas relações entre o tempo e o espaço — e se muitas das paredes dos que marcaram presença falassem também elas debitariam as rimas do álbum de cor e salteado. Numa altura em que todos nos esforçamos para viver no momento, sentimos que as rimas não ficaram só gravadas na parede do quarto do Virtus, mas também na história do movimento do hip hop tuga. Se dizem que no Norte é que se sabe receber bem as pessoas, esperemos que Lisboa tenha garantido que também consegue fazê-lo com a pompa e circunstância que merece.


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