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Publicado a: 31/01/2018

Jackpot BCV: “Sinto que estão a banalizar as bases da nossa cultura”

Publicado a: 31/01/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados

Jackpot BCV editou um novo álbum no arranque de 2018: UNDERDOG tem 15 temas e conta com participações de artistas como HipnoD, DJ Maskarilha ou Last Hope aka Lhast.

UNDERDOG sucede a Ultra Violeta, o disco que editou na recta final de 2015. O novo projecto é um espelho da maturidade do rapper da Linha de Cascais que, apesar de toda a história que o seu currículo no hip hop exibe, assume que a indústria em Portugal ainda olha de lado para casos como o seu: um MC que transpira esse real rap com base nas ruas e que se tem estabelecido da forma mais self made possível.

O estado de pureza extrema leva-o a percorrer estes 15 temas que compõem UNDERDOG. Do romance de “Last Call” e “Sabe Bem” ao hustle de “Estradas Sem Destino”, passando pelo egotrip em “Sai da Frente” e a consciencialização pro bono da cultura em “Fazendo Como Ele Sabe”, Jackpot também reservou um tema para dedicar à sua “rainha” — “Njali Yange” teve direito a videoclipe e a um react “oficial”.

O Rimas e Batidas esteve à conversa com o rapper e produtor e trocou algumas palavras sobre o conceito do seu mais recente trabalho ou o actual estado do hip hop em Portugal.

 



Já contas alguns anos de hip hop e um grande número de ouvintes a seguir os teus passos. Ainda faz sentido o nome UNDERDOG para este projecto que lançaste?

Escolhi o nome UNDERDOG porque é aquilo que eu sou. Um nigga que foi sempre subestimado pelo rap game. Eu sei reconhecer que sempre fui um dos menos prezados no hip hop tuga e, sinceramente, sinto que não tenho o valor que mereço. Dito isto, como é que tu me explicas que em pleno 2018 os rappers mais badalados da tuga não passam de meras fotocópias de outros rappers? Eu não me encaixo nesse quadro porque, enquanto os outros seguem todos pela mesma via, eu escolho sempre uma via diferente. Tenho plena noção que o favoritismo por parte do público nunca esteve apontado na minha direcção. O nome do meu projecto é um reflexo disso.

O que achas que está em falta na cultura hoje em dia? Há algum artista nacional que, mesmo assim, ainda mexa contigo, no sentido de te dar pica para fazeres o teu trabalho ainda melhor?

Falta tanta coisa. Falta originalidade, falta street cred. Mas acima de tudo falta vergonha na cara. O hip hop está na moda e tu vês mais artistas provenientes de outros géneros musicais a converterem-se ao rap só pelo facto de que o rap vende mais. E depois falam que fazem isto por amor e tal. Não deixa de ser irónico visto que a indústria aqui na tuga sempre tentou segurar o street rap em relação aos outros géneros musicais. Sinto mesmo que metade destes rappers fazem rap sem perceberem a essência desta vertente, muito menos a sua verdadeira origem. No meu entender, acho que isso é uma hipocrisia do caralho e sinto que estão a banalizar as bases da nossa cultura.

Quanto a outros rappers que mexam comigo para eu fazer melhor, para além do Jackpot BCV não vejo ninguém em concreto. Sinceramente não estou surpreendido porque estes manos estão sem assunto. Para além de seguirem a mesma fórmula que todos seguem, ainda falam da vida sem viverem o que falam. Ora copiam os flows uns dos outros, ou os temas. E, pelos vistos, se a cena não bate, criam beefs à toa só para gerar polémica. Isto já parece o arraial das fotocópias. O único artista que realmente me surpreendeu foi o Allen Halloween durante a ascensão dele. Para mim, ele foi dos últimos gajos que realmente moldaram a visão do hip hop tuga.

Neste álbum tocas em temáticas diferentes. Existe algum conceito em específico que seja transversal no disco?

É como disse no início. Eu sou o UNDERDOG do rap game aqui na tuga. A ideia deste projecto não era só apresentar umas musicas bacanas para o pessoal curtir. Eu sempre achei que é admirável ver a luta para cada conquista, ter nascido sem nada e conseguir subir na vida. E foi com base nessa mentalidade que construí este projecto. Sem copias, sem colas, sem chupa-pilas — desculpa pelo meu português. Quis gravar só com o meu people para mostrar às pessoas de fora que existe imensos talentos ainda por descobrir no rap underground. Quanto à mensagem do projecto, o UNDERDOG já fala por si.

Mas, comparando com outros projectos que editaste anteriormente, em que é que este UNDERDOG difere? Sentes que há alguma área na qual evoluíste? Há alguma sonoridade diferente que exploras mais em concreto aqui?

Não há comparação. Cada projecto é uma etapa da minha life. O UNDERDOG é apenas um capítulo de uma história muito longa. Eu não vou explicar o que ele traz de diferente porque isso iria de certa forma corromper o ponto-de-vista dos meus ouvintes. Acho que cada um de nós tem a sua própria forma de interpretar as coisas. Se realmente as pessoas querem perceber o que há de diferente neste projecto comparando com os outros que já lancei, então eu convido a ouvirem o UNDERDOG porque por mim não faz sentido explicar o conteúdo do projecto.

O UNDERDOG difere em várias coisas. Como é óbvio, este projecto, em termos de evolução e qualidade, está muito mais à frente, mas em termos de conteúdo prefiro não falar sobre isso e deixar o pessoal descobrir por si. Evoluí em todas as áreas, desde a lírica à produção de instrumentais, edição e mistura, flow, métrica. O projecto está muito versátil nesse sentido. Em termos de sonoridade não há um estilo definido. Serás levado para várias vibes, desde o drill ao trap, boom bap, g-funk, estilo alternativo. O projecto é um misto de sentimentos e ideias que fazem sentido na minha cabeça.

 


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