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Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 17/11/2023

Texturas, tradição e naturalismo ancestral.

FUJI||||||||||TA no Vale Perdido’23: a grafia de um órgão

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 17/11/2023

A imensidão da distância não apaga os laços invisíveis que nos une. Evocação das relações entre Portugal e o Japão. Ano prolífico este, de aproximação — Ryoji Ikeda e os 100 Cymbals | Temporada Engawa na Gulbenkian | ‘GIFT’ de Eiko Ishibashi e Ryūsuke Hamaguchi | Tujiko Noriko + Joji Koyama, os dois últimos no Semibreve. Do sol nascente, belíssima poetização geográfica, é igualmente originário FUJI|||||||||||TA. A singularidade do gesto. O cuidado na aproximação. O ritual como ligação entre a tradição e uma releitura constante do presente. Releitura, esta, que encontra a sua expressão maior no artefacto sonoro que Fujita Yosuke [FUJI||||||||||TA] construiu pacientemente à mão. Um órgão, este no chão. Onze tubos, bomba de ar e outros dispositivos na indagação dos sons não audíveis. Sentado, a primeira aproximação dá-se como imaginaríamos uma cerimónia de chá. Um carácter ritualista perfeitamente assumido, sonoramente e vincadamente na apresentação ao vivo.

O “nevoeiro interior”, ao mesmo tempo dispositivo cénico e condição mitológica, que durante o concerto de Polido tinha sido intenso, dissipa-se. Desenhamos os contornos do traje negro de FUJI|||||||||||TA. Acompanhamo-lo nos seus gestos. As sonoridades evocativas. As tradições. Os vínculos entre o que é humano e o que lhe lhe é raiz, a natureza. A ancestralidade do tempo. A sonoridade do órgão é marcante. Complementa-se a textura sonora com a repetição. Conforma-se uma estrutura e destapam-se sucessivas aberturas para as vocalizações. Um simbolismo ascendente. Os primórdios da humanidade. Uma língua indistinta entre espécies. Uma comunicação livre e compreensível. FUJI||||||||||TA desagrupa um dos tubos do órgão. Sopra-lhe e projectando o som cria uma ideia de chamamento. No final o Shō tocado por breves minutos e que se destacou, qual corpo autónomo, do restante concerto.

A sensibilidade sonora. A materialização da mesma num instrumento peculiar. A tessitura mutável que tece e amarra o passado ao presente, tudo são marcas que conferem originalidade, e quanto, ao trabalho de FUJI||||||||||TA. 

As expectativas altas. Diz investidor ajuizado que se devem moderar. Nunca na música. Talvez por isso, na imagem final, e apesar da beleza do que se assistiu, ficou a impressão de — “podia ter sido mais.” Aproximação física ao artista difícil [plateia sem desnível — Igreja St. George] e , em momentos, excesso de luz. E o Shō… se o prolongasse.


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