Simplesmente Filipe. É assim que este produtor português se apresenta no Bandcamp, onde tem vindo a acumular uma série de discos de forma discreta. Quando olhamos para a sua discografia, que já soma meia dúzia de entradas, é fácil identificar que são os samples a grande força motriz destes instrumentais hip hop que podem vaguear por diferentes caminhos sonoros.
Os sopros jazz, as vozes soul ou a palavra dita de Mário Viegas serviram de musas inspiradoras para a música que Filipe tem vindo a criar. Em Outubro lançou o disco Byrd’s i View, no Dia de Natal apresentou Wordsmith. Em declarações ao Rimas e Batidas, fala do seu percurso, processo criativo e outros planos que tem vindo a magicar.
Primeiro, fala-nos um pouco do teu percurso. Como começaste a fazer música e te interessaste por ela? Quais são as tuas grandes influências musicais? Como começaste a produzir instrumentais hip hop virados para o jazz?
A música sempre esteve bastante presente na minha casa, os meus pais desde que sou miúdo sempre me introduziram a vários artistas e estilos musicais. Posso distinguir a Lhasa e o Tom Waits, que são os meus dois artistas preferidos, cujos discos continuo a ouvir até hoje com o mesmo entusiasmo. O meu interesse em fazer música relacionada com o jazz sinto que passou essencialmente pelos álbuns do Madlib, tanto os seus Medicine Show, como aqueles lançados pelos seus variados alter-egos e o tão aclamado Shades of Blue, que foi sem dúvida o impulsionador principal. Adoro e sou um ávido ouvinte de hip hop e trip hop, por isso fazer a junção dos dois estilos com o jazz foi bastante natural. Artistas como o Roc Marciano, billy woods, Ka e a estética dos Portishead, por exemplo, também diria que me inspiraram na utilização de samples e até mesmo em seguir este estilo mais lento e abstracto.
Lançaste em Outubro o Byrd’s i View e agora o Wordsmith. Queres falar um pouco sobre cada um destes projectos?
O Byrd’s i View era algo que eu queria mesmo muito lançar, tinha o objectivo de fazer um álbum a homenagear os meus artistas de jazz/funk favoritos em que utilizava exclusivamente samples. Apesar do trabalho, foi um processo gratificante e algo que posso riscar da minha bucket list. A última faixa é um remix de “Mourn Night”, do falecido Ka. Apesar de não se enquadrar totalmente, foi um artista cujos discos me marcaram e por isso achei necessário. Quanto ao Wordsmith, são seis faixas com vozes de billy woods, Kae Tempest, Moor Mother e Aja Monet — também são artistas que admiro bastante e por isso tentei criar um ambiente sombrio e anti-natalício como soundtrack para os variados poemas.
Como funciona o teu processo criativo?
O meu processo criativo é bastante simples: a maioria dos instrumentais que faço são com samples de músicas dos anos 70 e 80, por isso tento passar o máximo possível do meu dia a ouvir música. Com maior foco no jazz ou na soul, tento sempre alargar os horizontes e também rodar discos de rock progressivo, música ambiente ou funk. É algo que tenho todo o gosto em dedicar o meu tempo, o sentimento de encontrar o sample perfeito — que, na íntegra, não existe — é das melhores sensações quando estou a fazer música.
Quais dirias que são as tuas ambições na música? A tua linha será continuar a explorar este tipo de discos? Gostavas de fazer coisas diferentes, eventualmente colaborando com rappers ou cantores?
Tenho alguma música com artistas do estrangeiro e de Portugal que espero que este próximo ano acabe por sair. Este ano também trabalhei com o Rodrigo 13 para um projecto na faculdade que não acabou por sair digitalmente e foi apenas apresentado ao vivo. Além de continuar a fazer os meus próprios trabalhos tenho, como objectivo pessoal fazer algo com spoken-word. É, sem dúvida, um trabalho que gostava de concretizar se surgir a oportunidade.