pub

Fotografia: Gonçalo Barranqueiro
Publicado a: 04/09/2022

De benji price a Richie Campbell.

Festival F’22 – Dia 2: diferentes sistemas, zero deslizes

Fotografia: Gonçalo Barranqueiro
Publicado a: 04/09/2022

Faro despertou esta sexta-feira uma cidade em pleno ritmo e ambiente de festa, culpa do grande evento anual da cidade que está a decorrer pela sétima vez: o Festival F. O primeiro dia entusiasmou quem lá passou, fruto da imensidão de concertos e, sobretudo, da animação pela primeira vez em três anos devido à crise pandémica que restringiu os diferentes tipos de eventos sociais.

Se o primeiro dia serviu para “tirar a ferrugem” dos mais destreinados, a proposta de cartaz para o segundo dia do F prometia o mesmo que a anterior só que com protagonistas bem diferentes espalhados pelos novos palcos deste festival: diversão, convívio e descoberta de novos artistas lusófonos. 

Sem mãos a medir face à densidade desta programação (fossem todos os problemas este!), a primeira visita da noite recaiu sobre um palco que não havíamos explorado no dia anterior: o Palco Arco. Por lá, num dos segredos mais bem guardados deste F, a vista é absolutamente deslumbrante, num dos pontos mais afastados do coração deste centro histórico, com a icónica Ria Formosa ali à mão de semear num ambiente já nocturno que acaba por não fazer jus a todo o potencial desta paisagem (dica: o entardecer no Palco Arco, sede da Associação ArQuente o resto do ano, é indispensável numa visita a Faro). Por lá, a música para esta noite ficou a cargo de Gijoe, credenciado DJ algarvio que apresentou um set munido de hits, hidden gems e clássicos do rap mundial que entreteve alguns dos hip hop heads presentes — e até os menos inseridos na cultura se divertiram e ficaram bem “quentinhos” para o resto da noite pelos outros oito palcos deste festival.


Foto por Gonçalo Barranqueiro

Depois deste warm-up em que Gijoe ia fazendo questão de deixar tudo em “pratos limpos”, fomo-nos encaminhando para o novo Palco Magistério, que até ver tinha entusiasmado face aos belos concertos do dia anterior de Lhast e Pedro Mafama. O segundo concerto da noite neste palco ficou a cargo de benji price. O multifacetado artista subiu a palco pela segunda vez este ano em Faro, e desta vez numa apresentação mais arrojada e ousada a nível musical por vários motivos, mas já vamos lá. Quando o relógio marcou a meia-noite, não só foi sinónimo de um novo dia, mas também de ordem para chegar à frente e aproximar do palco para acompanhar bem de perto o concerto do membro da extinta Think Music. O autor de ígneo apresentou-se em palco com uma banda composta por um baterista, dois guitarristas e um teclista e, desde o primeiro segundo do concerto, que a proposta ficou bem evidente: apesar das raízes e bases bem electrónicas e próximas do rap, o público do F foi agraciado com uma versão totalmente instrumentada – não é novidade, são vários os rappers a adoptar este formato – mas neste caso com uma sonoridade mais agressiva e intensa, próxima de um rock mais ligeiro. Aliás, para alguns dos desconhecedores da arte de benji, certamente se surpreenderão se perderem alguns minutos a explorar a sua discografia. O espectáculo trazido a palco por benji é, sem sombra de dúvida, ousado e é um produto bem distinto da versão original dos temas, daqueles que fazem qualquer dos seus fãs mais curiosos sair de casa para escutar bem de perto e tirar as suas ilações. No caso de quem vos escreve, saímos com entusiasmo porque é sempre interessante este conceito de “arte em movimento”, ter o próprio autor a reimaginar as suas canções em conjunto com alguns músicos abre um leque infinito de texturas e possibilidades para transpor em palco. E uma coisa é certa: para escutar este benji, só em carne e osso.

Todos estes arranjos ficaram bem patentes em temas como “24” e “Xpidi”, com uma versão bem mais pesada e rock do artista, com momentos inovadores e não gravados de solos de guitarra – um destes é o conhecido produtor Splinter. benji trouxe o seu “Pó de Cosmos” ao palco Magistério e para a fórmula ficar completa, xtinto subiu a palco para debitar as suas sempre densas rimas com auxílio de alguns fãs aguerridos que iam compondo a moldura humana ali presente, com várias dezenas de pessoas, números interessantes considerando que à mesma hora os HMB estavam também em palco, mas no RIA. Entre temas do seu álbum de estreia a solo ígneo e o projecto colaborativo SYSTEM com ProfJam, o concerto de benji soava de faixa em faixa como uma verdadeira experimentação musical e era com bastante entusiasmo que vários dos presentes aguardavam cada tema para poderem desfrutar do espectáculo preparado por ele. Um dos momentos altos do concerto fica reservado para a recta final do mesmo, que depois de “Tribunal” e “Finais” fechava com chave de ouro com o regresso do companheiro xtinto a palco para o aclamado “Éden”, com uma plateia em êxtase a acompanhar cada momento do tema para felicidade e gratidão dos protagonistas. Nota para a participação de xtinto, a encaixar que nem uma luva nesta sonoridade trazida por benji, que chegou, viu e venceu, conforme proclama no refrão da faixa cinco do seu álbum de estreia – “Veni, Vidi, Vici” –  lançado este ano.


Foto por Gonçalo Barranqueiro

Depois destes cerca de 50 minutos de concerto de benji, estava na hora para um dos grandes momentos da noite, reservados para o Palco Sé, pisado ontem por NENNY, que deixou a fasquia lá em cima: T-Rex. Com uma plateia bem composta, a Sé de Faro recebeu um dos nomes mais quentes e importantes do momento no rap português; e o autor de CASTANHO entrou determinado em vincar bem lá no alto o seu nome, depois de um humilde pedido para “poder partir o F ou não”. É certo que a partir daí o rapper se agigantou à dimensão do dinossauro que (não) é – um verdadeiro tiranossauro que deixou a marca das suas patas bem vincadas no Palco Sé, tal era a energia e intensidade que trouxe a palco. Aliado a tudo isso, a performance do próprio artista foi absolutamente imaculada e sem recurso a grandes ajudas vocais, apenas a espaços para participações nos momentos mais adiantados do espectáculo pelos seus irmãos da Mafia73. Foi salpicando a sua actuação com o seu Chá de Camomila e ai de quem se aproximasse porque o palco estava verdadeiramente a escaldar, principalmente para o hit “R&Bs, R&B$”, mas o foco estava no seu novo trabalho, CASTANHO, do qual apresentou diversas faixas, recebidas com muito entusiasmo e carinho pelo público da Sé.

Ao centro de uma banda composta por DJ, teclista e guitarrista, T-Rex foi deslizando como só ele sabe entre 2016 e 2022 e fez questão de deixar bem patente que, apesar da sua versatilidade nos últimos anos, a fasquia e exigência em palco esteve sempre no topo. As primeiras filas da plateia estavam recheadas de energia e exemplo perfeito disso foram os temas em que fizeram questão de acompanhar a plenos pulmões as batidas mais trap recheadas fossem de métricas complexas, duplos sentidos ou refrões bem wavey que o artista da Virgin Records nos foi habituando. Como o próprio proclamou, o “Feeling” deste Palco Sé estava bem “foda” e, para não arredar pé, o rapper fez questão de trazer o seu néon a palco em conjunto com o rapper Pimp William, que apareceu para debitar a sua sixteen, antecedendo a entrada do resto da sua crew, a Mafia73, ficando o palco em chamas com toda a cumplicidade e intensidade que trouxeram.

Depois disso, Faro viu que “É Assim” que T-Rex se comporta e, com um suplex que orgulharia Brock Lesnar, virou a plateia de cabeça para o ar com este grande hit, dando depois ordem de tranquilidade, ao lentamente entrar na recta final do concerto, dando “Tempo” à plateia para cantar de forma efusiva e sentida a faixa que divide com LON3R JOHNY, Bispo e FRANKIEONTHEGUITAR. A partir daqui o ritmo do concerto escalou para níveis estonteantes, com o entusiasmo e felicidade da plateia a predominar mal os primeiros segundos de “Anti-Antes” se fizeram escutar, e a sua performance foi, diga-se, sem deslizes! Esses ficaram para as centenas de pessoas ali presentes, que não só deslizaram e aproveitaram para replicar alguns dos passos que T-Rex ia fazendo em palco, assim como saltar e abrir os já habituais moshpits. Quando o auge da euforia parecia ter sido alcançado, T-Rex fez soar o seu maior hit – “Tinoni” – e a urgência para saltar, gritar e cantar em uníssono de quem por ainda lá estava — uma parte da plateia havia-se deslocado para o concerto de Richie Campbell, sobreposto a este. Só não se sobrepôs ao azul e vermelho do “Tinoni” de T-Rex porque o brilho deste fez questão de ofuscar tudo isso com uma performance impecável, como um verdadeiro fish no oceano de gente ali presente no F. 


Foto por Gonçalo Barranqueiro

Mal encerrado este concerto que levou o fôlego de grande parte da plateia face a toda energia e vibração despendida, estava na hora de sair do oceano de T-Rex e entrar na RIA de Richie Campbell, que actuava no maior palco do Festival F, bem junto à Ria Formosa. Um dos artistas principais da Bridgetown, apresentou-se em palco com uma banda extremamente versátil e multifacetada composto por três cantores de apoio, baterista, dois teclistas, trompetista, guitarrista, DJ e a lista continua. Uma estrutura ao nível estelar que é o mínimo a que Richie nos tem habituado sempre que pisa os palcos um pouco por todo o país ao longo de vários anos. Numa fase da carreira totalmente firme e solidificada, o artista foi chutando clássicos atrás de clássicos durante este que foi um dos momentos altos do festival até agora, bastante celebrado e sempre acompanhado pelos milhares de fãs presentes, ali mesmo à sua frente, como é o caso do “puto Cristiano” que, num entretido momento de interação de Richie com o público, trouxe este jovem fã a palco para cantar a meias o refrão de “Slowly” com ele. Os holofotes foram também partilhados com o colega de label, Yuri NR5, que trouxe as texturas e sabores de “São Paulo” até Faro, num momento bem mexido e dançante que levou toda a gente a cantar em uma só voz este refrão.

Grandíssima apresentação de um dos nomes mais credenciados e importantes nomes da actualidade musical portuguesa no segundo concerto desta noite do palco RIA, que encerraria com um mexido concerto dos Karetus.


Foto por Rui Bandeira

pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos