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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/12/2020

Série sobre 10 pioneiros da música electrónica, os seus temas mais sampláveis, mais bizarros e os que podemos carimbar de “proto” qualquer coisa por soarem aos novos movimentos rítmicos.

Electrónicas de Ontem nas Pulsações de Hoje #5: Wendy Carlos

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/12/2020

A par dos Kraftwerk, Wendy Carlos é o nome mais transversal da electrónica analógica. Popularizou o sintetizador com Switched-on Bach da forma que Elvis propagou o rock’n’roll e já aqui o Rimas e Batidas vos deu conta do seu percurso aquando do lançamento da sua biografia não-autorizada, como compositora das banda-sonoras de Laranja Mecânica ou Tron.

No entanto, como em qualquer movimento musical, a postura “hollier than thou” de outrxs compositorxs fazem com que a sua obra inicial seja considerada um sacrilégio para o purismo electrónico. Suzanne Ciani, por exemplo, descarta a importância deste álbum pivotal de Carlos como um marco na expansão do alfabeto electrónico, reduzindo-o a uma “brincadeira com timbres”. Tal como aconteceu na cronologia do hip hop americano décadas depois, também nos primeiros passos da electrónica a dualidade entre a Costa Este (encabeçada por Robert Moog ou o egípcio Halim El-Dabh) e a Costa Oeste (com Don Buchla, Morton Subotnick na proa) até hoje suscita duvidas sobre a sua verdadeira amizade.

Observando, no geral, a composição electrónica das décadas de 50 e 60 aos olhos de hoje, é perfeitamente possível imaginar-se uma rivalidade erudita entre estúdios como o WDR em Colónia e o GRM em França, ou até entre a técnica do acaso de John Cage e o minimalismo de Le Monte Young. Não seja pelo simples facto de grande parte das biografias destes compositores estarem sempre recheadas de premiações, o que evidencia a competição académica inerente a esta música tão marginal das tabelas de vendas.

Com o astronómico sucesso comercial de Switched-On Bach numa margem musical (imagino que) elitista, acompanhado por um ainda mais penoso processo de transição de sexo à época (e reforço, o “à época”!) com todas as consequências de uma sociedade ainda fechada ao assunto, o isolamento social tomou conta da vida de Wendy Carlos.

Pouco ou nada se sabe da sua vida nas últimas décadas. Tornou-se reclusiva (mais um caso nesta lista de compositores) e são conhecidos vários casos das suas tentativas de retirar a sua discografia da web para o consumidor internauta — pois é a própria a detentora de todos os direitos — e o mais provável é que odiasse estas palavras se algum dia as lesse. Muito do conteúdo online que era disponibilizado na Internet ridicularizava a sua figura e até hoje poucas referências são feitas à atitude de Stanley Kubrick ignorar quase por completo as suas composições encomendadas para o filme The Shining, continuando este a ser um definido como um marco na sua carreira que na verdade só pode significar mais um obstáculo na sua vida.

Não sendo possível a listagem de temas neste capítulo pois a sua música não está disponível na Internet, resta-me acrescentar que os seus álbuns da década de 80 são de compra acessível e imprescindíveis em qualquer prateleira de um(a) colecionador(a) de synth music: ainda com o carimbo do seu nome de nascença, Sonic Seasonings de ’72 é considerado um registo pioneiro no ambient moderno antes da sua própria designação por Brian Eno. De 1984, Digital Moonscapes é um belíssimo registo new age onde a inspiração clássica anterior na discografia de Wendy Carlos dá lugar ao expressionismo barroco. Já o disco Beauty and the Beast, de ’86, marca o abraçar da compositora à microtonalidade — tão presente nas escalas não-ocidentais e incompreendida pelo ocidente — comprovando que o léxico sonoro de Wendy Carlos nunca foi limitado como nos fizeram acreditar e vale bem a pena ouvir.

Peculiar também, é a sua participação na gravação do White Album brasileiro, o disco homónimo de João Gilberto, de 1973.


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